Corpo-Seco

Era uma noite escura e tempestuosa em um vilarejo isolado no interior do Brasil. Os moradores se escondiam em suas casas, ouvindo o barulho do vento uivando do lado de fora. Diziam que em noites assim, o Corpo-Seco, uma lenda aterrorizante do folclore brasileiro, saía de seu túmulo em busca de vingança.

Em uma pequena casa de madeira, vivia uma garota chamada Júlia, de 10 anos. Ela era corajosa e adorava histórias de terror. A lenda do Corpo-Seco sempre a fascinara, então, naquela noite, ela decidiu investigar mais a fundo.

Com uma lanterna em mãos, Júlia caminhou pelos caminhos enlameados em direção ao antigo cemitério abandonado. O som da chuva batendo nas árvores e o farfalhar das folhas ao vento criavam uma atmosfera macabra. Ela sabia que precisava ser cautelosa, mas sua curiosidade era maior.

Ao adentrar o cemitério, Júlia sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Túmulos quebrados e lápides caídas davam uma sensação de abandono e desolação. A garota seguiu os passos arrastados do Corpo-Seco em direção a uma velha capela.

Os ruídos estranhos aumentavam a cada passo que Júlia dava. Sons de gemidos ecoavam no ar e as sombras dançavam ao seu redor. Seu coração acelerou, mas ela não recuou. Sua determinação a mantinha em movimento.

Quando chegou à capela, Júlia abriu a porta rangente com cautela. Lá dentro, o ambiente estava imerso em escuridão, exceto por um feixe de luz que vinha de uma vela acesa no centro do altar. O cheiro de velas queimadas e um ar pesado a envolviam.

Foi então que, de repente, a vela se apagou. A escuridão engoliu a capela, deixando Júlia totalmente às cegas. Ela tentou acender sua lanterna, mas nada aconteceu. O silêncio era ensurdecedor, e uma sensação de presença maligna encheu o ar.

De repente, um sussurro arrepiante ecoou em seu ouvido:

- Você não deveria ter vindo, Júlia.

A garota tremeu de medo, mas, com uma voz trêmula, respondeu:

- Quem está aí? Mostre-se!

Um vulto sombrio emergiu das sombras. Era o Corpo-Seco. Seus ossos expostos brilhavam com um tom espectral e um sorriso macabro estampado em seu rosto sem carne.

Você achou que poderia me desafiar, pequena Júlia? Agora, você pertencerá a mim - sussurrou o Corpo-Seco com uma voz soturna.

Júlia sentiu seu corpo ficar paralisado de terror. Ela tentou gritar, mas não conseguia emitir som algum. As sombras se fecharam ao seu redor, e o Corpo-Seco avançou em sua direção.

De repente, Júlia acordou em sua cama, com o coração ainda acelerado pelo terrível pesadelo que acabara de vivenciar. Ainda ofegante, olhou em volta, certificando-se de que estava em segurança. A luz fraca do abajur ao lado de sua cama proporcionava apenas uma iluminação suave, mas era o suficiente para tranquilizá-la.

Enquanto Júlia tentava acalmar sua respiração, um movimento sutil chamou sua atenção. No canto do quarto, ela percebeu uma sombra escura se contorcendo lentamente. O medo tomou conta de seu corpo novamente e ela se perguntou se ainda estava presa em um pesadelo ou se algo terrível estava realmente acontecendo.

A sombra se aproximou mais, revelando a figura esquelética do Corpo-Seco. Seus ossos estalavam a cada passo e seu sorriso sinistro se destacava em meio à escuridão. Júlia queria gritar, mas sua voz estava presa em sua garganta. Ela tentou se mover, mas seus músculos pareciam paralisados pelo medo.

O Corpo-Seco se aproximou lentamente de Júlia, emitindo um gemido arrepiante. Sua presença era sufocante, e a menina sentiu o frio da morte percorrendo seu corpo. O bicho macabro estendeu uma mão esquelética em sua direção, prestes a tocá-la.

De repente, um feixe de luz brilhante invadiu o quarto, dissipando as sombras. Era sua mãe, acendendo as luzes do cômodo. Júlia piscou várias vezes, tentando se acostumar com a claridade que banhava o ambiente. Quando seus olhos se ajustaram, ela se deu conta de que não havia mais sinal do Corpo-Seco.

- Filha, o que aconteceu? Você está bem? - perguntou a mãe de Júlia, preocupada.

Júlia, ainda abalada pela experiência assustadora, não conseguiu encontrar palavras para explicar. Ela se jogou nos braços de sua mãe, em busca de conforto e segurança. A mãe a abraçou com carinho, tentando acalmar sua filha.

Enquanto mãe e filha permaneciam abraçadas, Júlia começou a questionar a sua mente. O encontro com o Corpo-Seco parecia tão real, mas ao mesmo tempo, não podia ser verdade. Seria possível que sua imaginação tivesse sido tão vívida a ponto de enganar seus sentidos?