ALBERTINHO, ALBERTINHO...

ALBERTINHO, ALBERTINHO...

Sim, Albertinho era uma "bichinha"... não, o termo não pode mais ser usado, só que essa CENSURA "apaga da História" (?!) as provas da existência e do USO indiscriminado do termo. Nos anos 70, quem demorava a ter namorada, quem ficava "gago" ou vermelho ao falar com alguma "gatinha" (ou "onça") era tachado de "fresco", de "bichinha", mesmo não sendo ou, então, de "viadinho". NÃO, ESSE NÃO... era só para os inimigos ! Curiosamente, as NOVELAS continuam a usar tais termos, a encenar situações onde esses "adjetivos incômodos" surgem e ninguém PROTESTA, reclama... os patrulhadores dos atos alheios argumentam que a cena serve de EXEMPLO do que não fazer. (Essa é boa !)

Como meu conto É FICÇÃO, nenhum personagem existe, como estaria eu incentivando alguém no mundo real a tratar amigos e desconhecidos dessa maneira ? É muita pretensão (ou má-fé) achar que textos influenciam a esse ponto pessoas sensatas, equilibradas.

Voltemos ao ALBERTINHO, já pelos 50, 55 anos, roupa antiga sempre engomada, calça frisada de Tergal, de gabardine ou helanca e camisa social de manga curta ou comprida, dentro da calça, claro... chinelos "havaianas" nem dentro de casa. Albertinho dormia de sapatos, eu acho ! O fato é que era "delicado", "uma flor" e fazia questão que todos soubessem. Mantinha o braço direito bem dobrado junto ao tronco magro, a mão em L apontando o chão e, esta, subia vez em quando até a testa, para corrigir a mecha de cabelos brancos que teimava em lhe cobrir os olhos a cada meneio bem feminino da cabecinha prateada.

Albertinho NÃO ERA GAY... não do tipo escandaloso, que vive aos berros, a chamada "bicha louca" -- pronto, agora confirmo minha homofobia (?!) -- aliás, termos como este, o de "mona" e de "bofe" não mais são usados, "sumiram", também censurados, suponho, pela própria "classe" que os criou. Albertinho era a elegância em pessoa e os óculos lhe davam um ar nobre, de doutor, mas o "balanço das cadeiras" punha tudo a perder. E o "braço de carregar água" cruzando por trás dele, de um lado a outro, ampliava o gingado. Era o escárnio de metade da cidade e motivo de pena pela outra metade... nunca ligou para nenhuma ! Era autosuficiente, vivia de serviços de manicure em sua casa e onde lhe contratassem para isso, o chamassem.

A vida de Albertinho começou a mudar na semana passada, quando conversava com um cliente graúdo, dono da maior concessionária de carros e motos da cidade. De repente, um carro desgovernado vem em direção a eles... Albertinho tenta puxar o doutor Galúcio, que está de costas, mas é inútil, o carro passa feito rolo de pastel em cima do milionário. Encostado à parede, os olhos de Albertinho cruzam com os de Ronaldão, "aquela peste" que o detestava desde os tempos de colégio. Albertinho temeu pela sua vida, Ronaldão ficava num meio-termo entre homem de negócios e "mafioso". Evitou sair de casa e, no terceiro dia, recebeu bilhete onde o dr. Ronaldo Schemma o convidava para uma "conversinha". Alberttinho adentrou a luxuosa MOTOCAR Services tremendo, mas a gentileza (?!) do Ronaldão o acalmou de todas as dúvidas. Era só conversa mesmo e ele tinha belo trunfo:

-- "Albertinho, Albertinho... há quanto tempo não nos vemos" ?!

-- "Me parece que... TE VI HÁ 4 DIAS atrás, Naldinho" !

-- "Betinho, meu bem, é o que você PENSA QUE VIU que me preocupa... tomei remédio pra insônia naquela manhã, acabei cochilando no volante por um instante e "acordei" com a minha D-20 na calçada" !

-- "Ronaldão, te vi DE OLHOS BEM ABERTOS... os meus e os seus" !!!

-- "Esse é o XIS da questão... você me viu ACORDANDO ! Nem percebi que atropelara alguém, por isso fui embora com o carro. Aceite 2 mil cruzeiros por você "não atrapalhar" as investigações" !

A coisa saiu melhor do que ele esperava. Albertinho resolveu "esticar a corda": pediu uma motoneta, "motinha", ciclomotor na época, como "complemento".

-- "Que história é essa, Alberttinho ?! Você sempre andou a pé" !

-- "A-N-D-E-I, querido, mas as coisas mudam... ou AN-DAM" !

-- "Albertinho, Albertinho... não queira me ver irritado ! Talvez me saia mais barato "DAR UM FIM" numa "bichinha esperta" !

-- "Bom, se "ELAZINHA" (e aponta para si) é esperta deve ter contado para mais alguém teu segredo... "SE SUMIR", "virar purpurina", o "Rorô" terá 2 CRIMES nas costas" !

Ronaldo estava ficando irritado... "aquela lombriga fresca" de mero e meio e 50 quilos podia estar blefando, porém conhecia a cidade inteira e qualquer um ali seria o detentos do terrível segredo. Resolveu ceder aos caprichos da "melindrosa"... silênciozinho caro, aquele ! A "boneca" -- que nunca viram com namorado ou com um "caso", só tinha os trejeitos, a maneirice -- passou a rodar por toda a cidade exibindo reluzente VELOSOLEX azul e divulgando o autor do "presentão".

O nome do sisudo doutor Ronaldo "caiu na boca do povo", o machão empedernido "mudara de time" (?!), o dono da Motocar Services trocara a madame loira e fornida de curvas -- do Society local -- pela desmilinguida "donzela" do subúrbio. Os mecânicos "botavam lenha" na fogueira dos boatos:

-- "Patrão, já ouviu o que andam dizendo por aí" ?!

-- "ALBERTINHO, ALBERTINHO... vocês não têm outro assunto" ? QUE INFERNO ! Vai "pra rua" quem falar nesse sujeito aqui" !

Passaram-se vários dias... no outro quarteirão, na maior loja do lugar, concorrente que tirava o sono (e os lucros) do Ronaldão, em reunião extraordinária na SPORTCAR EXPRESS, a viúva pediu sugestão de pessoa para dirigir a lojona. Surgiu apenas 1 NOME: o do melhor aluno do Primário e do Ginásio da maior Escola da região, formado em Contabilidade ainda por cima, embora nada entendesse de Mecânica, de Administração... quem era ? quem, mesmo ? ALBERTINHO !!!

-- "Patrão, sabe da "última" ?

Ronaldo o agarrou pelos ombros, o chacoalhou e "explodiu":

-- "Já avisei que não quero ouvir mais gracinhas... está DEMITIDO" !

O funcionário nem piscou e "largou a bomba" !

-- "Escolheram o Albertinho para comandar a SportCar Express... DIRETOR-GERAL, imagine" !

-- "Isso não está acontecendo... É UM PESADELO" !

Pesadelo ele teve naquela madrugada... a loirona "de fechar o comércio" acordou com o marido balbuciando "ALBERTINHO, ALBERTINHO" num sonho agitado. Seria verdade o que andavam cochichando na cidade ? Aquele troglodita que a "sovava" feito massa de macarrão, que a "lambia" qual sorvete de 3 bolas, "mudara de time" ? Se confirmado, pediria o divórcio... tinha direito a metade de tudo e não admitiria ser trocada "por aquilo" e nem ter um marido "tarado", transviado.

Já Ronaldão -- num sonho "incômodo" -- se via "tendo um caso" com aquela "minhoca pegajosa" e, assim, unindo as duas grandes lojas sob sua direção. Era a glória !

-- "ALBERTINHO, ALBERTINHO..." balbuciava, desesperado !

"NATO" AZEVEDO (em 3-4/julho 2023, 4hs)

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OBS: todas as expressões deste contos era de uso comum -- mera CHACOTA entre amigos -- e nem sempre visavam homossexuais ou se referiam a hábitos ou preferências afetivas do "atingido". *** Hoje é quase 1 crime usar FANTASIA DE ÍNDIO, DE GUEIXA, etc... não sei se pode de padre, de padeiro, mecânico ou PALHAÇO, os profissionais da mímica pode se sentir OFENDIDOS.

Restam as fantasias de ANIMAIS: elefante, urso, macaco, veado... epa, STOP ! Macaco e veado estão PROIBIDAS, haverá gente pra se dizer ofendida. O Mundo perdeu o equilíbrio, o bom-senso, cada um É JUIZ do que está a seu lado ! É MUITO... DIFÍCIL ! Não é a toa que 61% reclamam DE CENSURA, na Internet, conforme recente pesquisa. (NATOAZEVEDO)

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Por coincidência, o DIÁRIO DO PARÁ de 5/julho 2023 traz depoimento de ator global, ex-MALHAÇÃO, nascido em 1997 e que passou por iguais situações em plenos anos 2010. Leia trechos de suas declarações:

B.G. disse que... "preferia se esconder para não ser questionado sobre sua sexualidade ou sofrer algum tipo de violência". (...) "Sofri todo tipo de bullying. Me chamavam de VIADINHO porque eu dizia que gostava de tal filme, de tal coisa. Isso foi me fechando, fui ficando na minha. Nem gosto de lembrar muito dos tempos de colégio, principalmente do ensino médio. (...) Eu inventava desculpas para não ficar com as meninas, evitava de ir para os lugares", etc. (in "VÊNUS PODCAST")