MURMÚRIOS NO CORREDOR

 

 

É chegada a hora de deixar essa cela imunda, fétida, desumana. Os ratos agora ficarão sós, pelo menos por enquanto, há de vir outro desgraçado para ocupar o meu lugar nessa solitária. Foram meses de angústia e sofrimento, um dia sequer sem descanso que fez o velho corpo se acostumar, como não sei. Meu destino está traçado, eu sei, nada posso fazer senão orar. Algunas anotações nas paredes ficarão como lembrança da minha passagem. O grosso portão de ferro se abre e o carcereiro me faz um sinal para seguí-lo, mas antes amarra minhas mãos para trás com uma grossa corda quase esfolando meus pulsos. Dói, porém não posso reclamar, esse é meu destino, doeu mais os longos dias preso em um cubículo nojento e repleto de minhas próprias fezes e urina. Um horror.

 

Tinha agora que percorrer um longo corredor por onde muitos passaram rumo ao desconhecido. Antes de aqui estar ouvia comentários de que vozes inaudíveis murmuravam deixando mais preocupados aqueles que por ele passavam para se abraçarem com ela, a morte. Também ouvi falar que até sentiam um certo alivio, era bem melhor do que permanecer nessa cela fétida dias e noites sem ver a luz do sol. Esse privilégio só na hora fatal quando a corda era colocada no pescoço. Muitos sucumbiram na própria cela por não suportarem tamanho sofrimento, com suas próprias mãos tiravam suas vidas, pois esperança de sobrevivência era zero. Acabei me acostumando e não tinha coragem para me matar, que o fizessem os algozes, essa culpa eu não carregaria.

 

O corredor me aguarda. Na vinda nada se ouvia, mas na saída da cela a mente era cruelmente castigada com sons humanos, vozes que não dava para captar o que diziam, eram murmúrios tristes que alimentavam o cérebro minutos antes da língua ser esticada quando a corda pressionava o pescoço. Seriam dos pobres espíritos vítimas dessa insanidade? Aquele era o caminho da morte, uma ida para o outro lado da vida. Depois do episódio do corredor enfim a luz solar, uma última alegria invade meu peito, meu corpo treme. A corda já estava pronta para alcançar meu pescoço. Como num espetáculo de horror uma multidão gritava e aplaudia. Imediatamente a corda era colocada no meu pescoço e ao sinal de alguém ali presente a base onde eu me encontrava era solta e meu corpo se projetou naquele buraco ficando a balançar inerte. Chegara o fim. Nada mais vi.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 23/06/2023
Reeditado em 23/06/2023
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