A alegria de um boi. (microconto)
O boi era de corte, já tinham para matá-lo - gordíssimo, na idade. Chegando lá, era um só, de arma, com a missão famigerada, depois viriam buscar o defunto numa carroça e levar para o tratamento. Apesar da corda no pescoço, imprensado por paredes, não conseguiu se concentrar, pois tinha apreço pelo bovino — que ironia, chegou na fazenda aos oito anos, quando o boi era novilho, agora era recém-adulto e tinha aquele homem na sua frente. Irrequieto, remexendo a cabeça, com microchifradas, tentava o céu; e, diante de si, uma espingarda tremendo. A corda era surrada, tão muito se moveu e ela partiu. Recebeu ele um empurrão, ouviu-se um tiro; lá na cozinha, um disse: "É macho! Filho meu, rapaz, não falei?". O boi ganhou mundo, mesmo podendo ser perseguido, mas o rapaz viu a sombra da cor terrosa se indo, em galopes de cavalo velho, saltos de pardal, e ensaiou sono, pensando na felicidade indo às serras, longínquas. Tempos depois chegaram quatro, com a tal carroça: onde estava o boi? Viram só um corpo estirado no chão. E pegadas diluentes.