A montanha (microconto).

Tudo branco. Escalada. Meus músculos poderiam explodir a qualquer momento, duros como pedra. Segurava firmemente com uma mão, a outra fincava a lança para poder elevar-me ainda mais. Muitas roupas: pesadíssimas, para manter o calor. Além das ferramentas, havia também um cilindro metálico nas minhas costas, para manter meu oxigênio - não fosse ele, provavelmente eu morreria. Algumas escoriações: lugar falso - impacto. Mas o frio era tanto que essa dor era desprezável, sequer percebia as manchas, também. Eu podia ver o pico, estava a uns dez metros. O vento vinha com muita força, carregando flocos e cristais - pedras e lâminas contra o meu corpo; uma chuva de agulhas me perfurando. Eu seguia, sentindo o cantar dos anjos me encorajando. Só fechei os olhos e fui, forçando, não sei como, meus músculos mais do que já estavam sendo requeridos. Foi um ímpeto, um lampejo: como se as nuvens logo acima de mim tivessem aberto. Eu fui, ferozmente. Subindo uma vez por outra, ágil. Cheguei a gritar, a dor de virar estátua. Foi quando minha mão tocou a ponta, senti uma dor. O gigante foi batizado de sangue. Eu havia chegado.

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 18/06/2023
Código do texto: T7816716
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