A visita (microconto).
O chão de concreto, cercado de pedregulhos, estes cercados por plantas afiadas, dava o tom: cinzento; nebulado céu tornava tudo ainda mais opaco de aflição - horário do ocaso, mas sinal algum de sol. Se dirigia, juntamente com o coordenador da instituição, ao edifício tão perfeitamente quadrado que cortava qualquer julgamento sobre sua arquitetura. Presidioso lugar. Passado os portões altos, brancos e pesados, pôs-se no elevador, ainda na presença do acompanhante, o qual, quando não hesitava a fala, discorria sobre boas condições e bem-estar como se diante de um fiscal. Mas esse protagonista pouca atenção dava às falas - de sua testa escorria tão lentamente um suor solitário e friíssimo, passando pelo pescoço parecendo lâmina. Já no corredor de extensão vertiginosa, ouvia ruídos pouco compreensíveis. O cômodo era o número vinte e sete. Foram até lá, num temor de quem se aproxima da jaula de um leão; por um lado, o escãndalo, por outro, a dor. Não se preparou, colocou o rosto na janelinha da porta e viu a senhora de cabelos amarelo-prata bagunçados. Estava de boca aberta, com seus dentes separados visíveis, olhando tão sofregamente para o teto, remexendo-se como minhoca...