Sob Pressão

Amigos reunidos em volta da mesa, comida gostosa e um bom papo, assim foi o nosso almoço de sábado. Estar com eles é sempre um momento de descontração e contentamento. Porém, no riso e na alegria do momento jamais pensei vivenciar o momento vindouro. Não lembro de quem partiu o convite, só sei que todos aceitamos, assim, vestimos as roupas adequadas e partimos para o mergulho, era dia, sim, era dia e o sol cintilava no céu, mas, de uma hora para outra o tempo mudou, a noite chegou rapidamente sem que nós nos déssemos conta.

Mergulhamos no breu total, não nos importamos por ser noite e seguimos apenas a luz das nossas lanternas. Tudo correu bem até que, de repente, uma forte corrente começou a me levar para o fundo do oceano. A pressão aumentou e, eu senti meu corpo ser comprimido, uma forte dor nos ouvidos me deixou totalmente atordoada, não via absolutamente ninguém, só vultos, vultos gigantes.

Senti um pavor inumano que não foi ocasionado pelo medo de morrer sem ar. O horror se fixou em mim, porque vultos se amontoaram ao meu lado, controlando a direção da corrente de ar, esse controle empurrou-me com mais eficacia para o fundo do mar, no desespero do trépido momento, a lanterna era a única coisa que me deixava sã. Sem escapatória, fui levada como um peixe fisgado no anzol.

Minha respiração ficou muito irregular, eu deveria, pois controlá-la se quisesse sobreviver àquilo. Dei pausas na respiração. Mas, lembrei que se a prendesse, o gás se expande conforme a pressão diminuí e isso poderia deformar o meu pulmão, provocando uma embolia traumática pelo ar, que é rara, mas pode acontecer, principalmente na profundidade em que eu estava. Por que concordei em mergulhar para morrer sem ar no fundo do oceano? Pensei.

Aos poucos, controlei minha respiração e percebi que os vultos cessaram quando contemplei uma enorme embarcação. Meu corpo se moveu em direção a estrondosa contemplação coberta por gigantes corais, não pensei em voltar, meu instituto de sobrevivência foi vencido pela minha curiosidade, o medo da morte, pareceu-me distante. Nadei em direção ao desconhecido e quando toquei a imensidão do navio, a lanterna presa ao capacete não suportou a pressão.

Na tenebrosidade das trevas, o medo inumano e surreal fez meu corpo tremer, se não sair dessa, irei morrer, pensei. Logo fui surpreendida por um enorme peixe cintilante que se fixou em mim, no seu dorso havia uma imensa bola prateada, que me lembrou a imagem da lua cheia. Aos poucos, inúmeros grandes peixes fizeram-se presentes iluminando meu caminho, e assim, entrei no colossal navio naufragado. Contradizendo as minhas expectativas, a dor do corpo foi vencida pela experiência surreal.

A proa, o convés, as cabines, tudo estava intacto, salvo os corais de cores diversas que contemplei, quis voltar, mas os peixes prosseguiram e assim, os segui nadando como se fosse um deles. Chegamos a uma cabine destoante das outras, e nela havia uma espécie diferente de corais, cujas cores não consegui discernir.

Conforme os peixes entraram, eu os segui, e para o meu espanto, haviam corpos humanos, inúmeros corpos amontoados, postos e arrumados, totalmente intactos como se fossem de cera, quis fugir, mas não consegui, os peixes que iluminaram meu caminho desapareceram, deixando-me completamente no escuro. O ar ficou rarefeito, e na tentativa de escapar, nadei... mas, por ironia maléfica não sai do lugar, o meu fim, infelizmente, havia chegado.

Senti uma mão no meu ombro, GRITEI! Céus como eu gritei! Ouvi a voz da minha mãe: “Calma, você teve um pesadelo.” Com a respiração ofegante e totalmente atordoada, levei as mãos a minha cabeça. Abri os olhos, e mesmo totalmente seca, ainda senti a sensação da água no meu corpo, eu estava realmente na minha cama. Sonho bizarro, a final, nem nadar eu sei.

Daniele Pereira
Enviado por Daniele Pereira em 08/06/2023
Reeditado em 10/06/2023
Código do texto: T7808664
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