O ABDUZIDO.
A lua brilhava no céu. A porta da casa se abriu, rangendo e cortando o silêncio da madrugada. Penha, Maranhão, 1982. O rapaz andou até a árvore. A corda jogada com habilidade envolveu o galho seco. Ele conferiu o nó e colocou a corda no pescoço. Um último suspiro. -"Adeus, mundo cruel." Wellington pensou nos amigos de escola que faziam bullying com ele. A mãe e suas palavras reconfortantes não fizeram efeito. Ele subiu. Um salto pra morte. O rapaz saltou e caiu no colo de um ser verde e de três dedos. Ele olhou para o ser cabeçudo e de olhos ovais enormes. -"Me deixe morrer, etê. Não se pode nem morrer em paz?" O alienígena não respondeu. Apontou pra nave reluzente. -"Rapaz, me deixe. Quero morrer." Wellington foi levado pra nave. Uma semana depois. A mãe do rapaz saiu da delegacia, desanimada. Tinha encontrado a corda no quintal e nenhum sinal do filho. O delegado tinha encerrado as buscas. -"Seu filho não fugiu de casa? " Dona Luciana quase pulou no pescoço da vizinha. -"Fugir pra onde?!Ele tem quinze anos e nunca que iria sair de perto de mim." Luciana se desesperou. Tinha ido a igreja, a escola, a biblioteca, locais que Wellington frequentava. -"Ele ia se matar na árvore, tia. O Wellington falava que não suportava as gozações na escola." A mulher não queria acreditar nas palavras de Sidney. -"Sempre o ensinei a ser forte, não ligar pra isso." Dona Luciana foi a escola e conversou com a diretora. Ela identificou os três alunos que faziam bullying com Wellington. Chiquinho, Eliandro e Rafael foram afastados por dois dias. Uma punição branda. Wellington continuava desaparecido. Alguns fazendeiros relataram terem visto uma forte luz no alto do morro, perto da casa de Wellington. Dona Luciana pegou os dois filhos pequenos e se mudou para o povoado vizinho de Manissova. Sua prima morava lá e teria ajuda pra criar os pequenos. Não queria ficar na vila, olhar a escola onde Wellington estudava. O sumiço do filho tinha deixado marcado profundas na mulher. -"Aonde está o Wellington, mãe?" A mulher abraçou o filho de sete anos. -"Sei não. Nas estrelas talvez. Quem o levou não era desse mundo, Jeremias." Deprimida, Luciana começou a beber. -"Cuida dos meninos, Dinalva. Vou no risca faca de Manissova." Luciana andou até a rodovia. Os caminhões passando velozes pela mulher no acostamento. A noite fria. -"Wellington, meu filho." Foram as últimas palavras de Luciana, que se jogou na frente de uma carreta. Cinco anos depois, um jeep estacionou na praça da matriz de Pena. Um rapaz malhado, de óculos escuros e roupa preta desceu e entrou no bar. -"Uma cerveja." O barman obedeceu, curioso. -"O moço num é daqui. Tá procurando o quê? Pague a cerveja adiantado, por favor." O forasteiro sacou o revólver. -"Vou beber de graça, seu Deolino." Um rapaz entrou no bar. -"Como sabe meu nome? Eliandro, chame o delegado." O forasteiro se virou. -"Eliandro? Há quanto tempo." Ele tirou os óculos. -"Wellington?" Eliandro levou um tiro na testa, certeiro. O pai do rapaz pegou uma espingarda mas o forasteiro se virou, rápido. Três tiros a queima roupa em Deolino tiraram -lhe a vida. O forasteiro pegou a garrafa de cerveja e deu a volta na praça. Chiquinho ajudava o pai na barbearia. -"Chiquinho? Está aí, na aba do papai rico, como sempre?" Chiquinho e seu pai saíram. O forasteiro tirou os óculos. -"Wellington? Perdão, meu amigo." Gritou Chiquinho, desesperado. Com a espingarda de Deolino, o forasteiro matou os dois na calçada. Tempo depois, o jeep parava em frente a uma chácara, perto da vila. -"Rafael? Sei que ainda mora aqui." O rapaz veio até a porteira. -"Essa voz. Wellington, é você?" Perto do forasteiro, Rafael estava curioso. -"Cara. Você sumiu." A espingarda apontada. Um tiro certeiro explodiu a cabeça do moço. A esposa e o filho vieram até ele. O jeep já estava longe. O forasteiro entrou. A casa de Luciana estava vazia. A rede no mesmo lugar. Ele entrou. -"Mãe! Sou eu, voltei." Ele foi até a cidade vizinha. -"Tia? Sou eu, Wellington. Cadê minha mãe?" A mulher chorava. -"Se jogou na frente de um caminhão. Preferiu a morte. Vivia igual zumbi sem ter você. Seus irmãos estão com seu pai, em Atalaia." Wellington deixou pepitas de ouro pra tia se manter por muito tempo e foi até o túmulo da mãe. Ele chorou muito. Era noite quando o jeep entrou em Atalaia. -"Cadê o Genilson?" A mulher com hematoma no olho direito e a voca sangrando, respondeu baixinho. -"Aonde? No bar, enchendo a cara. Agora que os dois filhos de Luciana vieram, não cuida deles nem dos nossos três." Wellington colocou os dois irmãos, ainda dormindo, no jeep. -"Sou o irmão mais velho deles e vou criá-los. Tome, caça teu rumo ." A mulher estendeu a mão. Os olhos dela brilharam ao ver as cinco pepitas de ouro. -"Compra uma casa boa, longe daqui. Aí tem ouro pra criar seus filhos até ficarem adultos." Wellington foi atrás do seu pai. Genilson estava no balcão, ao lado de duas mulheres, tomando cerveja com torresmo. -"Os meninos com fome e o boneco aí, festando?" Genilson se virou e tirou o revólver da cintura. -"Oxente. Quem é esse imbecil?" Wellington tirou os óculos. -"Seu filho mais velho. Jurei que ia lhe matar ela aqui estou. Maior de idade e dono de mim. Bateu muito em mainha, continua batendo na sua atual esposa. Uma coitada que tá toda roxa e felizmente agora tá livre de um peste como o senhor. Livre e rica pois dei muito ouro a ela. Wellington foi até o balcão e espalhou pepitas de ouro sobre o móvel. Genilson derramou lágrimas de crocodilo. -"Wellingtinho, meu filho. Papai o ama muito. Gente, meu filho voltou rico. Mais rico que a família Sarney." Ele guardou o revólver. Genilson abraçou Wellington. O homem puxou um punhal e quis ferir o rapaz. Wellington ficou imóvel e verde. Ele cresceu e sua cabeça alongou, ficando enorme. Olhos grandes e ovais surgiram. -"Ser desprezível." Wellington enfiou a mão no peito de Genilson e arrancou seu coração. Genilson olhou a cena e caiu pra trás. Wellington apontou um aparelho para o alto, cegando as pessoas alí. -"Não vão se lembrar de nada." Ele entrou no jeep e saiu da cidade. Aquelas mortes todas continuam um mistério até hoje. -"Seu marido, Genilson. Estava morto no bar. A senhora não se lembra?" O delegado decidiu não falar mais com ela. -"Não sei de nada. Os filhos dele sumiram. Genilson os vendeu, certamente." O delegado conversou com os policiais. -"Não fala coisa com coisa. O marido a espancava direto. Certamente, o maluco vendeu o filho mais velho e os dois mais novos. Vamos embora." Canadá, 1984. Wellington foi até a casa de seu amigo Elon. Ele abriu uma pasta. -"Projetos, meu amigo. Será um dos homens mais ricos do mundo. Poderá ter uma frota de naves espaciais até. Já ouviu falar em criptomoedas, Tesla, energia limpa? Eu enxergo a frente, no futuro. Haverá uma pandemia em 2019, vinda da China, sabia? Se eu fosse você, abriria uma fábrica de máscaras ou de vacinas. " O homem riu e foi até a janela do edifício. -" Você e suas previsões. Uma pandemia? Eu? Elon Musk, um milionário? Só a NASA tem naves e toda a tecnologia." Wellington riu. -"É aí que você se engana, meu caro." FIM