ESTRANHO AMOR
Cristina disse que daria um jeito na situação... ele não escaparia.
Chovia intensamente, mas Cristina não poderia faltar ao encontro. Sentou-se no sofá da sala, pensativa, acendeu um cigarro e enquanto fumava, ensaiava sua fala... Diria tudo de uma vez, num sopro só, e nem lhe daria o direito de resposta.
Após quarenta minutos de chuva, enfim, o sol mostrou sua cara. Cristina abriu um sorriso, foi ao toalete retocar a maquiagem, em seguida pegou a chave do carro no armário e foi ao encontro de Rui. Durante o trajeto, pensava sobre a importância da internet e como essa ferramenta havia transformado sua vida.
Há cinco meses, após o término de um relacionamento, ainda se sentindo só, resolveu navegar pela NET, quando de repente foi surpreendida com uma mensagem apaixonada, de alguém que confessava estar bastante atraída por seus encantos. Talvez pelo momento de solidão que atravessava, deixou-se convencer... assim continuaram a conversar, por longos meses, e se tornaram mais íntimos e amantes.
Ah, não podia acreditar... era chegada a hora de conhecer, pessoalmente, seu grande amor e confessar-lhe o desejo de ser sua mulher, para sempre. Certamente daria um jeito na situação... não mais o deixaria escapar!
Chegando ao cafezinho, local do encontro, após um caloroso beijo, Cristina expôs o desejo de irem ao shopping, que ficava a duas quadras dali, pois lá estariam mais à vontade para conversar. O rapaz, gentilmente consentiu, e em poucos minutos já estavam no estacionamento. Subiram a escada rolante, passearam um pouco e ao se deslocarem para a praça de alimentação, algo estranho aconteceu. Ao passarem em frente a uma parede de espelhos, ela viu apenas sua imagem refletida, assustou-se um pouco, mas logo se livrou do pensamento ao perceber que sua amiga, Iolandinha, se aproximava. Estranhamente, a colega a puxou pelo braço e começou a confidenciar alguns segredos, ignorando a presença do rapaz. Passado poucos minutos, Cristina precisou interromper a conversa e dizer que estava acompanhada e que precisaria ir, despedindo-se da amiga.
Escolheu uma mesa, de propósito, em frente a um espelho. Rui, a princípio quis mudar de lugar, mas ela insistiu que ele sentasse à sua frente. Assustou-se outra vez, por não ver a imagem do rapaz refletida e tão somente um borrão, ficou arrepiada dos pés à cabeça e desceu as escadas correndo...
Oh, não... não mais poderia encontrá-lo, tampouco vivenciar o seu amor e o desejo de unir-se a ele em matrimônio!...
Dedicatória: Cristina Gaspar e Iolandinha Pinheiro