Um Contra Cinco
O homem entrou no bar e anunciou:
-Isto é um assalto.
Numa das poucas mesas ocupadas, um outro sujeito, acompanhado de mais dois, ergueu-se e disse:
-Não faria isso se fosse você, meu rapaz. Acho que gostaria de ver o sol nascer amanhã.
-É você quem vai impedir? - disse o assaltante, apontando a arma na direção do outro.
-Nós vamos impedi-lo. Antes que dê o segundo tiro será um homem morto. Quer experimentar?
-É melhor nem tentar, moço - disse, por trás do balcão, o dono do bar.
-O homem é o diabo com uma arma. Pode mandá-lo para o inferno em menos de um segundo.
-Não pedi a sua opinião - disse o assaltante. Mas parece que mudara de idéia quanto ao assalto, embora crescesse em ódio contra o agressor.
-Ou você é cego ou é algum idiota que não te amor à vida. Ok; vou ser claro. Isto que vê em minha mão é uma pistola. Que, por sinal, está carregada. E, para sua informação, está engatilhada e prestes a cuspir fogo. E você será o primeiro a aprender que um homem armado e em vantagem deve ser respeitado.
-Então fique sabendo, seu patife, que está no meio de uma roleta russa. Atire em Steve Grant e terá ganhado a batalha. Mas acerte um outro que não seja ele e pode dar adeus à vida. O que escolhe? Todavia, há uma chance de sair ileso. Largue a arma e se entregue. O máximo que poderá acontecer é pegar cadeia por assalto a mão armada.
-Não pense que sou imbecil! - disse o assaltante. É claro que já sei qual de vocês é Steve Grant.
-Então por que não nos mata e cai fora com a grana; não é isso o que quer?
-Exatamente; mas a forma como isso vai ser feito sou eu quem decide. Passe a grana, baixinho. E não tente nenhum truque - disse, estendendo a mão em direção ao homem atrás do balcão, mas sem tirar os olhos dos outros três em volta da mesa. O que estava de pé permanecia na mesma posição.
- Sente-se! - disse o assaltante. O homem obedeceu. O baixinho então, abrindo a caixa registradora, tirou um bolo de notas.
-Não tente bancar o espertinho, Eu sei que tem mais, eu quero tudo que tem aí. - O homem pegou mais um bolo de notas e passou ao bandido.
-Tudo! Eu disse - vociferou estrondosamente. Outro punhado foi-lhe passado.
-Agora sim. Admiro pessoas inteligentes - disse, enfiando o último bolo de notas pelo pescoço para dentro da jaqueta.
-É muito corajoso, tenho que admitir - disse um dos homens da mesa. Aparentava idade um tanto avançada. Tinha barba e cabelos brancos e permanecia o tempo inteiro na mesma posição: de pernas cruzadas e agarrado a uma caneca de cerveja.
-Penetrar num recinto como este a esta hora da noite - continuou o barbudo - é realmente um ato de grande bravura e atrevimento. Contudo, não garanto que saia vivo desta. Nossa cidade não tolera os malfeitores. Já está em má situação pelo crime de assalto. O xerife Thompson vai metê-lo na cadeia por isso. Atreva-se a matar um de nós e vai acabar pendurado em uma corda em praça pública.
-Cale essa boca, velhote! Ou lhe meto uma bala goela abaixo para nunca mais ser tão falador. Se pensam que entrei aqui, arriscando a pele, por causa de alguns centavos de dólares, estão enganados. Acho que não preciso ir mais longe. Já sabem a que eu me refiro.
Os quatro homens entreolharam-se nervosamente. Um deles, magro e de bigode, encarou o velhote de uma forma um tanto estranha, o que causou suspeita ao assaltante, que ordenou.
-Você, magrelo. Levante daí com as mãos na cabeça. E sem nenhum truque engraçadinho. - O homem exibiu uma arma na cintura ao ficar de pé. O assaltante então deu outra ordem, desta vez ao dono do bar.
-Saia daí de trás e vá até o magricela. - Ele obedeceu e, seguindo orientações e sob mira, tirou, com a mão esquerda, a arma do outro e lançou-a próximo aos pés do assaltante. Este se abaixou para pegá-la. Agora, empunhando dois revólveres, disse:
-Reviste-o, deve ter no bolso um molho de chaves.
-Não é preciso. Poupe o seu trabalho - disse o magricela, tirando do bolso as chaves e entregando-as ao baixinho.
-Ok, jogue-as. Estas caíram, também, a seus pés. Abaixou-se com muito cuidado, sem tirar deles os olhos, e meteu as chaves no bolso. Continuou ordenando.
-Agora desarme também os outros. Com muita cautela e sem truques. Não vou hesitar em atirar se preciso for. - mais três revólveres foram recolhidos.
-Traga-os para cá. Muito bem. Coloque-os em cima do balcão.
-O que pretende fazer agora? - disse o homem que primeiramente havia se levantado.
-Não é da sua conta. Ou melhor, acho que sim, Steve Grant. Ou prefere que lhe chame “O Caça Ouro”?
-Então me conhece, seu bandido! Saiba que se meteu numa grande encrenca. Eu trataria de cair fora se fosse você. Ainda está em tempo de salvar sua pele.
-Não pedi sua opinião; se quer saber, estou bem a par da sua última missão. Por mais que tentasse manter sigilo, não conseguiu, não para mim; não para Rod Benson. Sei tudo a seu respeito. Que foi sua melhor conquista. Quinze quilos de ouro! Bem guardados no cofre da delegacia, de onde seguem esta madrugada para o Banco Central. Quer que dê mais detalhes?
-Não, é o suficiente. Já deu para ver o louco que é se está pensando em apoderar-se deste ouro. E, sozinho, do jeito que estou vendo.
-Aí é que se engana, meu caro. Tenho alguém para fazer isso para mim.
-Por que está me olhando? - perguntou o dono do bar, ao lado de Rod, encostado ao balcão.
-Acho que gostaria de ver sua féria de volta - disse o assaltante.
-Tem um bocado de dinheiro aqui, meu caro. Este é o seu melhor dia da semana, não é mesmo?
-Não dê ouvidos a ele, Larry.
-Cale a boca! - berrou Rod ao magricela que dissera esta frase. Saiba que vai participar também, pois é o único que conhece a combinação do cofre. -O magricela ficou pálido. Também Steve mostrou-se nervoso e preocupado, pois certificou-se de que Rod realmente planejara com detalhes todo o plano.
-Pode ficar com o dinheiro - disse Larry. Não vou ser conivente com um bandido. Além do mais, não quero problemas com a polícia.
-Então, você escolhe, idiota - disse Rod, encostando uma das armas em sua cabeça - ou colabora ou vai para o inferno agora mesmo.
-E prosseguiu, ante a cara espantada do outro.
-Onde tem uma corda?
-Deve ter uma atrás do balcão, numa das prateleiras.
-Muito bem. Pegue-a e amarre Steve Grant com o velhote costa com costa. Terminado o serviço, elogiou:
-Bom trabalho, estou satisfeito.
-Ainda hei de passar sobre o seu cadáver, seu desgraçado! - disse, cheio de ódio, o velhote, contorcendo-se inutilmente para se desvencilhar dos nós.
-Não adianta, imbecil. Quanto mais se mexer, mais preso irá ficar.
-Acalme-se, Kurt. Este patife não vai muito longe. Ninguém sai ileso após mexer com Steve Grant.
-Sirva-me um trago - disse Rod. Larry rodeou o balcão para o lado de dentro, pegou da prateleira uma garrafa de uísque, encheu um copo e despejou uma dose. O assaltante virou-a de uma só vez na garganta e olhou para o relógio no alto da parede. Do lado de fora a escuridão acentuada denunciava o avançado da hora. O relógio marcava dez e meia.
-Mais 30 minutos e teremos a visita rotineira do querido xerife desta cidade.
-Nem sempre vem à mesma hora. Às vezes fica até mais tarde na delegacia. Costuma trabalhar à máquina de escrever.
-Só em caso de ocorrências - falou o magricela, de uma cadeira próxima aos amarrados.
-E como foi o dia de hoje? - quis saber Rod. O outro nada respondeu.
-Acho que entendeu muito bem minha pergunta, se não está surdo.
-Normal como nos outros dias - respondeu, finalmente.
- Isso significa que não houve ocorrência. É uma cidade mesmo pacata - concluiu Rod.
Aos poucos ia o silêncio tomando conta do ambiente. As batidas do grande relógio tornando-se mais dominantes e perceptíveis. Rod tomou outras doses do uísque a sua frente. Os dois amarrados tinham suas cabeças pendidas sobre o peito. Vencidos que estavam pelo cansaço e o tédio da posição. Larry procurou uma cadeira e acomodou-se, também. Uma quietude lúgubre e monótona pervagou no ambiente.
-Já deve estar chegando. Passe para aquele canto - ordenou Rod ao magricela. - E você, para trás do balcão - dirigindo-se a Larry. Foi até a janela e confirmou a aproximação do xerife. Colocou-se atrás da porta. Antes que esboçasse qualquer reação ao ver a cena, sentiu, o xerife, na nunca, o cano de uma arma.
-Muito bem. Erga as mãos e não tente ser esperto.
-Quem é você e o que quer?
-Isso não interessa agora. Quanto à segunda pergunta, já tem a resposta bem aqui na minha mão - disse, exibindo um molho de chaves que acabara de tirar do bolso de sua vítima.
-Vai pagar caro por isso, pilantra!
-Parece que já ouvi isto hoje, mas não tem problema. Sente-se! -E ordenou ao magro de bigode que juntasse e amarrasse em duas cadeiras, costa com costa, Larry e o xerife. Feito isso, apagou as luzes e saiu com o outro, sempre sob a mira do seu revólver, pelo canto mais escuro da rua em direção à delegacia.
- Abra! - disse, ao chegarem, entregando o molho de chaves.
-Não acenda a luz - disse, já do lado de dentro e tirando do bolso uma lanterna. Subiram uma escada em caracol e deram numa saleta minúscula com um sofá, uma mesa redonda com duas cadeiras e, em um dos cantos, ao lado de uma janela, um cofre grande sobre um tapete avermelhado.
-Abra esta coisa! - ordenou Rod
-E se não o fizer? - disse corajosamente o homem magro.
- Pode considerar-se um homem morto.
-E você pode considerar-se um ladrão fracassado, visto que vai morrer comigo o segredo.
-Devo admitir que tem razão. Aonde quer chegar?
-Muito simples. Eu dou a combinação e dividimos a grana.
-Ok. Faz sentido; então abra.
- Como vou saber que não irá me matar em seguida?
-É um risco que terá que correr, amigo. Vamos! Já estou ficando impaciente.
O homem magro girou a combinação e expôs aos olhos apatetados do outro, três sacos contendo ouro.
-Aí tem o que queria. Agora, o combinado.
-Combinamos alguma coisa? Eu não me lembro. E desferiu violenta coronhada no magricela que tombou sobre a mesa e depois no chão, desacordado.
Pegou os três sacos e enfiou em um maior que tirou do bolso do sobretudo. Desceu as escadas, abriu a porta e ganhou a rua, desaparecendo no breu da noite silenciosa.