SURGIT 2 - Uma carta enviada a quem a escreveu

Olá...

...escrevo essas linhas para que você compreenda o que passei para chegar até onde você está. Do declínio do fracasso até a promissora história que te faço recordar. Procuro em primeiro lugar, abster-me de entrar em detalhes fúteis e banais, mas apenas o necessário para que eu possa ser compreendida de forma breve.

O desistir fez-se constante em minha jornada, porém nunca fora a opção. De todas as formas e maneiras que tentei superar, busquei juntar as frações de um ser fragmentado por outros seres. A dualidade sempre se fez presente.

O ser que via a beleza em todas as direções, que desde pequena, não sabia o que era o julgo e nem mesmo a maldade, fez-se como a rosa no outono, perdendo suas pétalas no momento em que ouviu conselhos de quem, sobre as rédeas dogmáticas, interferiu em seu comportamento.

A busca por algo verdadeiro, que ia além de qualquer diretriz que me circundava, me levou ao profundo sofrimento. Não compreendi o porque de não conseguir me fazer entender por mentes a quem eu buscava auxílio.

O medo fez-se presente em vários momentos, mas busquei a superação daquilo que a cada dia me amedrontava e apesar de ter consumido momentos preciosos, não voltam mais.

Vozes e vultos eram constantes. A energia que somente eu conseguia sentir, me fez padecer sobre lavaredas de angústia e desespero.

Porém, uma força maior me impulsionava, sentia que teria que cumprir certo destino, mas minha essência sabia que teria que contar apenas com minha própria força.

Enfrentei crises, decepção, insegurança. Tornei-me uma lutadora. Na tentativa da sobrevivência, tentei me encaixar na sociedade, mas logo percebi que viver para ela não valeria a pena. Além de enfrentar meus medos e aquilo que me fazia parar, ainda teria que enfrentar o julgo e a hipocrisia de uma sociedade insana que não compreendia.

Meu impulso para a liberdade, mesmo que inconsciente ainda, foi quando deixei de lado o que os outros esperavam de mim e comecei a ser indiferente, mas isso me levou por caminhos tortuosos.

No cotidiano, tornei-me fria, esqueci por alguns instantes, se não anos, do ser imaculado que buscava sentido à vida, talvez esse tenha sido meu maior erro. Mergulhei em uma trama que se tecia silenciosamente, muito além do meu entendimento.

Aos 33 anos, foi quando iniciei uma nova jornada e tomei consciência de onde me encontrava. Minha vida tornou-se como um novelo de lã emaranhado, precisava encontrar a ponta para conseguir desvencilhar-me.

Nunca foi a religião que iria me salvar, ao contrário do que imaginava. Procurava a salvação em coisas externas onde jamais iria encontrar. Observava as pessoas felizes contentando-se com pouco. Isso não me bastava.

Como pode haver tal alienação, fazendo com que milhares de pessoas vivam para um porvir que talvez nunca se concretize. Quem sabe esse é o ópio que as fazem suportar a dura realidade.

Uma realidade que eu tentava entender.

Por que viver e para onde ir? Qual o verdadeiro sentido?

Isso me consumia no dia a dia, quando tornei-me consciente do que estava fazendo e da forma em que eu vivia.

A beleza que antes era percebida por aquele ser frágil, esvaiu-se, e onde olhava havia apenas pedras.

Posso dizer que a literatura me salvou, pois foi quando encontrei em obras que a humanidade produziu, com seus mais belos olhares, o sentido para a vivência. A filosofia fez com que meu norte e destino fossem traçados por mim mesma.

O tanto faz não poderia mais ser a opção, a vivência lúdica deveria voltar. A reconstrução do meu imaginário então começou.

Meu firmamento impulsionou-me a viver. Apesar da realidade me decepcionar, de minhas atitudes me levarem por caminhos torpedos, das incompreensões de quem rodeava-me, de olhar para o lado e não saber por onde começar, teria eu que tomar uma atitude e que deveria vir de dentro de mim, onde encontraria as respostas que tanto buscava.

A “salvação” não estava no exterior, não dependia das outras pessoas e nem de dogmas religiosos, mas dependia pura e simplesmente de mim. Cada decisão teria uma consequência e atitudes sábias me levariam pelos caminhos bons, já atitudes impensadas, pelos ruins e muito perigosos.

E quantos caminhos nós passamos hein?

Talvez você até sinta raiva de mim por um dia ter tomado certas decisões errôneas. Eu não vim me justificar, você não tem poder para mudar o que eu fiz, mas quero te fazer entender que a maioria das decisões que não deram certo, foram feitas na ignorância de alguém que desconhecia o belo.

Ao rever atitudes que tomei em outrora, quando declinei-me em vê-las, que claramente trariam consequências pesadas, vi-me com um fardo maior que poderia suportar. Revoltei-me, a revolta me trouxe de volta ao eixo. Algo teria que ser feito.

Esse algo, ainda não sei o que é, quem sabe você já tenha o encontrado. Espero que sim, pois o que teço hoje é para que você tenha sucesso e uma vivência sábia. O que estudo e compreendo é para que você possa deixar um legado para a humanidade. Tornar-se sábia, forte e ser quem um dia eu sonho em ser.