Oitava noturna (microconto).
Estava perdido. Bem no seio da floresta. Chegou à tarde, teimando que voltaria a tempo, mas o tempo é traiçoceiro: escureceu de repente. Enquanto seguia a trilha, viu a cabana de Guelú - vindo de outra terra; expulso do vilarejo, tendo fama de feiticeiro. Ele surgiu, assobiou, parecia sorrir, porém viu nele uma malícia tão grande que apressou o passo, sem dar um sinalzinho qualquer. Se embrenhou entre os capileiros, aqueles troncos fininhos, esbranquiçados, fantasmagóricos. Toda hora via algum vulto espreitando por trás das árvores. E a sombra foi tomando conta de tudo: anoiteceu - e inda não conseguira um nadinha sequer para alimentar a lareira. A essa altura, só queria voltar a casa. E queria também se convencer de que as folhas amassadas ecoando de todos os lados eram mera fantasia. Virava o rosto repentinamente para achar o dono dos passos: ninguém; ou, pelo menos, desaparecia: jurava ver uma mudança no ar, no espaço, cada vez. Era o medo. Um lobo? Ou mesmo uma avezinha, dessas rasteiras, pisando engraçado na terra? Nada. O próprio vento tomando corpo, lhe seguindo? Qual rumo, também, seguia? Não achava a estradinha batida, nem luz, nem nada. Era um nada. Ao mesmo tempo não era o vazio. O corpo todo tomado de desespero. Luzinhas: vagalumes. A toa por aí. Seu desejo é que fossem fadas, prestes a, à primeira lágrima sua caída, sentirem pena e guiarem ao caminho correto. Mas: nada. Se aconchegou a uma árvore, com as mãos nos ouvidos, em grande agonia. Os olhinhos apertados, em lágrimas - uma criança perdida? Desmoronava como uma torre de areia. Ah! Mãos ásperas, grossas, lhe tocaram, apertaram seus pulsos: era o bruxo! E ele só sorria...