As Sombras do seu Passado

O detetive Ravi acordou em seu quarto no meio da noite com uma sensação estranha. Ao abrir seus olhos, tinha a expectativa de encontrar alguma figura estranha, fora do lugar, ou algum vazio devido a algum furto que pudesse ter acabado de acontecer. Embora se considerasse um homem destemido, algo parecia lhe espreitar no escuro, como se uma presença desconhecida estivesse se movendo em sua casa, era sua expectativa falando ao seu ouvido. O detetive olhou em volta, mas tudo parecia em ordem. Tudo estava exatamente onde deveria estar. Sem nenhuma figura maligna, e os objetos estavam onde deveriam estar. Porém, alguns segundos mais tarde, ouviu um som, um arrastar de pés, como se alguém estivesse se movendo pelas sombras. E a aparente calma, foi deslocada para um movimento absurdo.

 

Sem saber o que fazer, seguiu o som cuidadosamente, pelos corredores até sair de casa e encontrar uma porta que nunca havia percebido antes. Ele a abriu devagar e entrou sem fazer barulho. Foi então que, diante dele, deparou-se com uma espécie de caverna moderna - escura, labiríntica e silenciosa. Ele sentiu um frio na espinha, mas decidiu seguir adiante. No início, tudo o que ele encontrou foram objetos aleatórios - móveis velhos, quadros antigos, cortinas rasgadas - tudo era-lhe familiar, mas o detetive tinha a impressão de que esses objetos estavam fora do lugar. Ele caminhou mais e uma luz fraca iluminou seu caminho... sombras se movimentando de forma estranha... ele percebeu que algo estava acontecendo ali.

 

Enquanto seguia adiante, cada vez mais adentro de seu labirinto, o detetive notou que as sombras formavam figuras, seres encapuzados que pareciam estar se movimentando em torno dele. O seu coração disparou. Sentiu-se, como Platão descreveu há muito tempo, como um prisioneiro em uma caverna, cercado por sombras e imagens distorcidas. Já sabia que precisava descobrir a verdade. Ele seguiu as figuras através de fileiras de guarda-roupas velhos e sofás rasgados, até encontrar um baú trancado. Os sons pareciam aumentar, e as criaturas multiplicavam-se a sua volta. Quando forçou a fechadura, sentiu uma onda de choque percorrer seu corpo. O baú estava cheio de coisas que lembravam a antiga vida do detetive - lembranças e objetos das pessoas que ele havia amado e perdido. O baú significava o seu passado que havia deixado para trás e fugido, mas que agora parecia estar atrás dele... ou ainda pior, parte dele.

 

Quando olhou para cima, viu que as sombras agora se reuniam em volta dele, encarando-o com os olhos vazios. Ele percebeu que estava cercado, que havia sido enganado. Os rumores desses antigos seres ampliavam sua percepção. Essas eram as sombras do seu passado, não havia como livrar-se deles, mas o detetive sabia que ele devia conviver com eles. Não silenciar, mas o passado deveria guiar-lhe adiante. Sempre adiante.

Eduardo Eide Nagai
Enviado por Eduardo Eide Nagai em 05/05/2023
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