Foi na BR 101

Era uma manhã de sexta-feira, a última antes do carnaval. Rosana tinha combinado com seu namorado Kleber, de irem passar o carnaval na capital, junto com a família dela. Era um casal que estava junto há mais de quinze anos, e ainda apaixonados. Ele falou com ela por telefone logo cedo. Ela queria esperar pra irem juntos, mas ele disse que ia trabalhar pela manhã e que ela fosse na frente. Ela desligou o telefone e seguiu viagem.

Pouco antes de chegar ao trevo da Barra, o motorista de Kleber resolveu fazer uma ultrapassagem proibida. Mesmo sob protesto dos quatro passageiros do veículo, ele insistiu na ultrapassagem, e perdeu o controle do carro, que capotou várias vezes até parar no acostamento.

O motorista foi lançado uns oito metros de altura e caiu de cabeça no asfalto, foi morte instantânea. Os três ocupantes do banco traseiro foram lançados pra fora do veículo, que teve o teto bruscamente arrancado como abrir uma lata de sardinha.

Kleber caiu na grama e gritando de dor.

Tadeu que era o motorista estava morto no asfalto em meio a uma poça de sangue. Outro passageiro, Gabriel sofreu um traumatismo craniano grave e foi levado ao hospital junto com Kleber, chegaram vivos, mas não resistiram e vieram a óbito.

Os outros dois passageiros, uma professora do município e um cantor local, sofreram ferimentos leves e sobreviveram, como um milagre.

Rosana tinha acabado de falar com Kleber e meia hora depois ouviu a notícia do acidente no rádio. Logo seu telefone toca e era uma amiga avisando que Kleber estava no hospital e era uma vítima do acidente. Ela veio rápido para o hospital, mas não teve tempo de se despedir, Kleber tinha morrido há poucos minutos antes dela chegar. Ela entrou em choque ao receber a notícia. Seu carnaval não tinha nem começado e já estava acabado.

Foi um choque para todos os amigos e conhecidos.

Kleber era uma figura política, e muito querida da cidade, seu velório foi aberto ao público. E muitas pessoas vieram se despedir e prestar sua última homenagem.

Era um bom amigo.

Tinha planos de ser prefeito. Queria mudar o futuro da sua cidade, tinha sido presidente da Câmara por três mandatos.

Havíamos conversado poucos dias antes, ainda me lembro do seu marcante sotaque nordestino. Ele orgulhosamente lembrava que era alagoano.

Meu colega de faculdade, e do trabalho também. Uma perda irreparável.

No auge dos seus quarenta e poucos anos, teve a sua vida interrompida de forma brutal. Devido a imprudência, desnecessária de seu motorista.

Tadeu era meu amigo também, e pagou com a vida pelo erro no volante. Tadeu tinha feito aniversário uma semana antes.

Três vidas perdidas, três famílias arrasadas.

A morte de Kleber deixou Rosana em um profundo luto, com um vazio no peito, como ela mesmo diz. Seus olhos azuis, agora refletem sua tristeza em um pranto sem data pra acabar.

Eles eram um casal realmente apaixonado, que não puderam envelhecer juntos.

Ela ainda lembra que a última coisa que ele disse pra ela foi " boa viagem, eu te amo".

Uma despedida, por telefone, sem saber que era pra sempre. Que era a última vez que eles se falariam.

Nunca sabemos qual é o último dia que sairemos de casa. Quem será a última pessoa com que iremos falar.

A incerteza da morte, não se sabe quando e nem onde, só que um dia vai chegar. "Esteja onde estiver, a morte encontrará você, mesmo que esteja em torres sólidas e altas".

Hoje as vítimas são parte das tristes estatísticas da BR 101.

E segundo a PRF, foi um carnaval bem tranquilo no trânsito, houve redução no número de acidentes em relação ao ano anterior.

Abreu Lima
Enviado por Abreu Lima em 13/04/2023
Reeditado em 21/04/2023
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