Quarta noturna. (microconto)
Seu pé sangrava, pisara em espinhos pelo caminho. Corria como presa, fugida - atrás de si, pelo menos, uns três homens; se pega, o açoite seria graça? Dor só sentia no peito, falta de fôlego, parecia que sua pele ia se rasgar, o corpo explodir, e tudo turvo, tudo ficando estranho, sentia um gelo. O véu da noite vaga, cortejado pelo ar. A preta parou numa capoeira pequena, circundada de árvores, tentando suportar o próprio cansaço. Ela parou, os passos cresciam, pareciam marteladas. Ah... Subiu nela um ódio. Cravou as unhas no chão e jogou terra ao céu, aos gritos, como louca.
- Inferno! Inferno! Desgraça!
Os demônios chegaram, ficaram vendo.
As mãos em desvario, só queriam machucar. Acertou a própria cabeça e os cabelos se soltaram, indo ao chão manchado de sangue alguns búzios que enfeitavam a corda que vovó fizera para prendê-los. E não parava de gritar, era o tom da noite. A mata se agitou, veio uma ventania igual furacão. Chegou como viva, girando a preta, lhe envolvendo; e os gritos não cessavam. Os três viram quando ela se voltou para eles, flutuando, com os olhos virados, brancos. Foi o grito derradeiro.