Um dia de verão
Era um dia de domingo pela manhã, em 2016.
Tenho uma mania, que às vezes pode parecer estranha, que é lembrar o ano em que aconteceram alguns fatos.
Eu estava passando o final de semana na casa dos meus pais como de costume. Morávamos em cidades diferentes, há uns 100km de distância.
Era um verão ensolarado, como dizem os capixabas "o sol tava pocando".
Todos os finais de semana tinham alguns turistas de Minas Gerais, das cidades mais próximas daqui tipo Ipatinga, Governador Valadares entre outras do chamado Vale do Aço.
Nesse domingo a praia do bosque, como é chamada, estava lotada, de turistas e moradores locais, aproveitando pra se divertir com a família. Esse era o meu caso.
De repente houve uma aglomeração de pessoas na areia, que chamou a atenção. Alguma coisa diferente estava acontecendo e não sabíamos o que era. Sentado na areia há uma distância de uns 100 metros, deu pra ver que algumas pessoas carregavam alguma coisa no meio da multidão,algo que tinham tirado da água. Logo pensei que poderia ser um tubarão ou alguma pessoa que estaria se afogando.
Mesmo sem gostar de aglomeração, a forte curiosidade fez com que fosse lá ver o que era realmente.
Uma semana antes, foi notícia do jornal local, que tinham visto um tubarão no raso, naquela mesma praia. E o tal tubarão tinha mordido a prancha de um surfista. Eu gostei foi da explicação de um biólogo local, dizendo que não era motivo de preocupação, porque seria apenas um Cação de mais ou menos 1,50m de comprimento. Quem já viu um desses pessoalmente sabe que é sim um tubarão e intimida muito.
Cheguei mais perto pra ver, e para minha triste surpresa era um jovem adulto que tinha se afogado. Naquele dia não tinha salva-vidas na praia. Vi pessoas tentando fazer massagem no peito do homem e sem um preparo profissional, no desespero para ajudar de alguma forma. Chamaram o Corpo de Bombeiros que demorou uns vinte minutos pra chegar. E foi preciso pedir um dono de caminhonete 4x4 pra socorrer o homem na areia e levar até o carro de Bombeiros. Nesse tempo todo o homem estava desacordado.
Soubemos mais tarde que o homem era um turista vindo de Ipatinga, que era também motorista do ônibus de excursão, pai de dois filhos pequenos. Infelizmente ele não sobreviveu. Essa notícia não foi divulgada, como muitas outras desse tipo, por motivos de interesse comercial para não prejudicar o turismo local.
Sei como terminou essa história, porque naquela manhã uma tia muito querida tinha passado mal, e ido ao mesmo hospital que o homem foi atendido, o único hospital da cidade, e a tarde ela veio a falecer também.
Uma triste coincidência, uma cena que entristece qualquer pessoa. Poderia ser meu pai, poderia ser meu irmão ou amigo, não importa. O triste é saber que uma diversão se transformou em tragédia, que alguém perdeu a vida num dia de domingo.
Antes fosse um tubarão mesmo, teria sido apenas um episódio curioso, mesmo porque não tem notícias de nenhum ataque de tubarão em nossas praias, embora os tubarões sejam vistos até com uma certa frequência.
São fatos que marcam, e talvez seja por isso que são lembrados por muito tempo. Como um dia de verão.