A CASA NA CURVA DA ESTRADA - PARTE II

Desnorteado e sem entender nada ainda, olhei adiante na esperança de encontrar meu carro. Afora a chuva que caia não se via mais nada.

Retornei ao interior da casa e sentei-me no sofá de forro desgastado. Estava exausto. Meu corpo parecia dilacerado e esgotado. Deitei-me sem entender o que estava acontecendo.

A chama do candeeiro bailava a cada aragem de vento enquanto eu me entregava aos poucos ao torpor do cansaço. Lentamente fechei os olhos e adormeci.

Devo ter dormido por algumas horas e ao despertar imediatamente levantei imaginando ter sido tudo um sonho.

Olhei a porta sob a escada e instintivamente aproximei-me pensando: A porta existe. Então não foi sonho. Resolvi abri-la. Lentamente girei a tramela e abri a porta. Gradualmente uma claridade foi aparecendo. Pude perceber uma imagem incomparável. Uma paisagem linda de campos verdes e floridos. Borboletas bailavam indolentes em profusão de cores. Pássaros cantavam cantos de felicidade os mais variados. Ao longe, árvores dançavam em harmonia embaladas pelo vento.

Desci alguns degraus na expectativa de encontrar alguém, notadamente a tal mulher que me acolhera e me oferecera abrigo na noite anterior.

Caminhei sentindo uma paz indescritível enquanto respirava um maravilhoso perfume de flores.

Sentei-me a beira de um lago enquanto alinhavava as idéias no afã de entender aquela situação.

Atirei uma pedrinha na água e a medida em que pequenas ondas causadas pela pedra se espalhavam pela superfície calma do lago senti a impressão de que alguém se aproximava.

Lentamente virei a cabeça para o ombro esquerdo e vi uma pessoa vestida de branco com uma ânfora e uma caneca nas mãos.

Aproximando-se de mim pude perceber que se tratava da mesma senhora que me acolhera, agora sendo mais fácil identificá-la e reconhecê-la com indisfarçável surpresa: Aquela mulher que me oferecera abrigo na noite anterior, cuja face não me fora possível delinear devido a claridade tênue dos candeeiros e a penumbra do ambiente na sala daquele casarão, agora finalmente eu via com clareza e emoção enquanto ela servia-me de água da ânfora a fim de saciar-me a sede. Era minha mãe que estendia a caneca com água e dizia em voz suave e doce: Tome, meu filho. Beba e sacie sua sede.

Valdir Barreto Ramos
Enviado por Valdir Barreto Ramos em 27/01/2023
Código do texto: T7705003
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