A CASA NA CURVA DA ESTRADA
Chovia torrencialmente. Ainda era dia, porém parecia noite. Mal se podia enxergar o capô do carro de tanta água que caia. Os limpadores do pàrabrisa não davam vencimento em um vai e vem frenético a fim de proporcionar visibilidade. O vidro embaçado dificultava a visão já prejudicada pela chuva que caia.
Chovia e ventava dificultando a estabilidade do carro. Eu dirigia com a máxima prudência e cautela em baixa velocidade tentando alcançar um local seguro para me abrigar até que a tempestade cessasse.
Seria temeroso parar no acostamento, afinal poderia acontecer de algum motorista desatento colidisse seu carro com o meu, então segui em frente.
Cerca de meia hora se passou quando avistei um vulto adiante. Reduzi a velocidade e ao aproximar-me percebi tratar-se de uma casa na curva da estrada. Parecia abandonada a primeira vista, mas naquela tempestade sem dúvida era um abrigo.
Sai da estrada e parei o carro em frente aquele Porto Seguro. Desci e aproximei-me com cautela da varanda da casa. Subi alguns degraus do alpendre e me encaminhei até a porta.
Bati na porta algumas vezes e não houve resposta. Bati palmas e nada. O barulho da chuva no telheiro abafava o som.
Pelo menos o alpendre servia de abrigo, embora respingado pela chuva. Percebi que havia no alpendre uma cadeira de balanço então resolvi sentar para descansar.
Tirei o casaco molhado e pendurei em um gancho de rede. E a chuva não parava. Não me dei conta, mas acho que adormeci de tão cansado que estava. Despertei com o barulho de porta se abrindo com o ranger de dobradiças enferrujadas. Olhei em direção da porta e vi saindo e vindo em minha direção um vulto vestido de longa túnica branca com a cabeça encoberta por um lenço igualmente branco. Não se podia ver o rosto devido a pouca visibilidade pois já escurecia.
Esperei inerte o vulto aproximar-se e uma voz feminina perguntou o que eu fazia ali.
Expliquei que buscava abrigo da tempestade mas que tão logo a chuva diminuísse eu seguiria viagem, que não queria incomodar.
Aquela voz então com gentileza na fala disse-me que não causava nenhum incômodo e que como já se fazia tarde e a chuva não pararia tão cedo seria prudente que eu ali pernoitasse, ao que me convidou para entrar, seguindo em frente e adentrando a uma sala pouco iluminada por candeeiros pendurados nas paredes cujas chamas dançavam a medida que eram onduladas por lufadas de vento.
Aquela mulher arriou o lenço que cobria os cabelos. Pude perceber tratar-se de uma pessoa de aproximadamente cinquenta ou sessenta anos que a julgar pela tez o tempo não judiara muito.
Com voz gentil e delicada orientou-me que me sentisse a vontade e que me acomodasse na sala retirando-se por um porta contígua à escadaria por onde ela entrou, fechando a porta em seguida.
Na sala havia um velho sofá forrado em cetim puído mas confortável de tal maneira que não resisti ao convite de sentar-me para descansar.
Passaram minutos e a mulher não retornava. Resolvi esperar mais. Adormeci com o ruído da chuva nas telhas e o uivar do vento lá fora.
Algum tempo depois, como a mulher não retornara, resolvi abrir a porta por onde ela entrou para procurá-la.
Assim o fiz. Ao abrir a porta deparei com uma paisagem diferente da que estava acontecendo que me fizera parar em busca de abrigo naquela casa.
Tudo era muito bonito. Campos verdes e floridos e o sol a brilhar.
Procurei em vão pela mulher e não a encontrei.
Achei que estava sonhando. Resolvi voltar.
Ao chegar na sala fiquei imaginando o que acabara de ver sem entender nada.
Pensei que não seria bom permanecer ali, então resolvi voltar para o carro.
Ao abrir a porta vi que ainda chovia, se bem que a chuva diminuira.
Procurei o carro e não o avistei. Olhei em volta da casa e nada do carro. O que terá acontecido. Estarei ficando louco?