Segurança relativa
- O que houve? - Indaguei, quando meu irmão Oskaras retornou do centro da cidade. Pela expressão taciturna dele, era óbvio que acontecera alguma coisa.
- Não consegui renovar o passaporte - anunciou, jogando-se no sofá da minha sala.
Fiz um aceno de cabeça.
- Pelo visto, vai ter que mudar a sua programação de férias.
Ele ergueu o olhar e me encarou.
- É muito mais do que isso, Baltrus. O preço das passagens aéreas praticamente quadruplicou, da semana passada para esta.
Agora eu também começava a me sentir desconfortável.
- Será que estão sabendo de alguma coisa que não sabemos? - Questionei.
Oskaras abriu os braços, num gesto de desalento.
- Veja, o governo não está nos impedindo de ir embora. Ainda. Mas tomou providências para dificultar o processo.
Ergui os sobrolhos.
- Então, não se trata somente de férias, não é, Oskaras?
Ele fez um aceno afirmativo.
- Você é solteiro, Baltrus, mas eu tenho mulher e filha. Tenho que pensar nelas, antes de tudo. A ideia era sair de férias e não voltar mais.
Balancei a cabeça.
- Você vai pedir asilo - constatei.
- Antes que seja tarde - replicou. - Mas agora, tudo ficou muito mais complicado.
Com cuidado, fiz a pergunta que talvez meu irmão não quisesse responder:
- Não quiseram renovar o seu passaporte ou os delas também?
Oskaras não me encarou ao responder:
- Apenas o meu. Elas podem ir embora na hora que quiserem.
- Compreendo - redargui. - Mas não quer deixá-las irem sozinhas para o exterior...
Oskaras franziu a testa.
- Você deixaria sua família ir sozinha para um país estrangeiro, onde não temos parentes? - Indagou.
Não me furtei de dar minha opinião.
- Se a vida dela estivesse correndo perigo, não pensaria duas vezes.
No dia seguinte, Oskaras colocou malas e objetos pessoais no meu carro, que havia pego emprestado, e partiu para a fronteira ainda aberta mais próxima. Eu sabia que nunca mais veria aquele carro de novo, mas estava tudo bem.
O importante é que ele e sua família estivessem em segurança.
- [01-10-2022]