Perigos no Trânsito

Era uma segunda-feira ensolarada, algo em torno de umas oito horas da manhã.

Eu estava indo para o trabalho, seguindo pelo Anel Rodoviário de Belo Horizonte. E eu não era o único. Quem conhece a cidade sabe que nesse horário os congestionamentos no trânsito são frequentes e enormes, tudo bem normal em cidade grande. Parece que todos os cidadãos saíram de carro na mesma hora. Diga-se de passagem é uma das situações que não tenho nenhuma saudade.

Como já era de se esperar o trânsito parou de repente, eu parei meu carro na faixa da esquerda, e parecia que tinha acontecido algum acidente mais a frente, porque estava tudo parado e alguns carros já desligados.

Parei próximo ao radar no alto após o viaduto da Avenida Pedro II, na altura do bairro São José. Confesso que sempre nessas horas todas as notícias de engavetamento no Anel Rodoviário me vêm no pensamento, agravado pelo medo de ser o último da fila. Na mesma hora eu desliguei o carro e desci. Não fui o único.

Então fiquei observando o trânsito e a chegada de cada vez mais carros para aumentar a fila e o congestionamento.

Eu não tinha prestado atenção, mas logo que eu havia parado, tinha um senhor aparentando ter uns cinquenta e poucos anos, que parou atrás de um caminhão carroceria, na primeira faixa da direita, e não desceu do carro, apenas desligou. Uma situação bem normal, não fosse o que ia acontecer logo em seguida.

Veio um carro em alta velocidade e bateu na traseira do veículo do tal senhor e o empurrando para traseira do caminhão que estava a sua frente. O homem ficou preso nas ferragens, porém vivo.

Na mesma hora alguns motoristas foram correndo ajudar, eu liguei para o corpo de bombeiros para pedir o resgate, dei todas as informações do local e do ocorrido e fiquei acompanhando de longe.

Porém aquela situação estava longe do fim. O homem estava preso, mas conversava normalmente e parecia com ferimentos bem leves. Como sempre acontece em acidentes, os curiosos rodeiam o local.

De repente o carro do homem começa a pegar fogo. Todos os curiosos espalham rapidamente como fumaça.

Aquela situação foi pra mim a mais cruel.

O fogo atingiu o homem que não conseguia sair do carro, e vimos ele queimar vivo, aos gritos desesperados de dor, e pedidos de ajuda. Uma cena horrível, do tipo que te assombra em pesadelos durante muitos anos.

A vida lhe foi tirada de uma forma muito cruel e dolorosa. E o sentimento de impotência e terror diante do ocorrido, era evidente no rosto de todos os que assistiam aquela cena.

Pessoas chorando por desespero, principalmente mulheres. As mulheres são realmente seres diferenciados e mais sensíveis, humanos, sentem a compaixão pelo próximo e a demonstração é pura e espontânea.

O carro de Bombeiros chegou logo em seguida, mas o homem já estava sem vida e totalmente carbonizado. O fogo havia atingido o carro que estava atrás e a carroceria do caminhão a frente.

Logo o fogo foi controlado, mas os três veículos ficaram destruídos.

Foi transmitido no jornal a notícia do acidente fatal. Sinceramente não consegui nem almoçar naquele dia.

Entendo que nenhuma notícia pode transmitir o terror real de quem estava lá e presenciou tudo. Vimos a vida daquele homem ser arrancada com o fogo.

Sempre que lembro isso, penso que ninguém sai de casa para morrer daquele jeito. Não está nos planos da pessoa passar por isso.

As coisas simplesmente acontecem. Poderia ser qualquer um de nós ali presentes. Mas a morte tem dia e hora certa, e infinitas formas de encerrar a vida.

Nunca deixei de pensar sobre como a família recebe uma notícia dessas.

Penso até mesmo na dificuldade de um policial para ligar pra família e ter que dar uma notícia assim.

E sem contar com a pressão psicológica de integrantes do Corpo de Bombeiros que atuam nesses casos com tanta frequência.

É estranho a ligação que temos as vezes com desconhecidos, pensei até em ir ao enterro. Nunca participei da vida daquele senhor, mas por uma infeliz coincidência estive presente na hora da sua morte.

Abreu Lima
Enviado por Abreu Lima em 25/09/2022
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