O DESTINO DE ISOBELL

 

O contentamento de Isobell era o de possuir tudo o que não possuía. Seus princípios eram o de cobiçar o alheio, e não agradecia pelo que tinha, por isso, nunca estava contente de fato. O seu mundo era ela e mais ninguém, não importava ajudar, não importava nada. Porém, esse pensamento era a ilusão de sua mente, que a pregava peças constantemente, por de fato pensar assim. Era jovem, e tinha muito a aprender com a vida, e foi de uma forma não muito engenhosa, que ela soube que estava agindo de forma errada, até porque, estava “pagando pelos seus pecados”. A princípio, não acreditava muito nisso, mas ela mesma sabia que estava errada, e não mudou. Os seus erros e seu julgamento, portanto, foi ela quem os fez.

Aconteceu no dia em que sua mãe faleceu. Um choque profundo atingiu a mente da menina, e sua vida mudou completamente. Não era mais a mesma vida, tudo parecia estar diferente, e estava. Começou a ocorrer um fenômeno em sua mente, chama-se: arrependimento.

Desde o ocorrido, passou a caminhar pelo jardim de sua casa, que tinha muitas orquídeas e rosas (flores preferidas de sua mãe), com outros olhos, outra sensação, estava com o pensamento longe e pensava sobre a vida, o sentido de tudo. Para quê viver? Sua motivação agora só podia ser o de tentar e não desistir, ela não podia mudar o que fez, não podia mudar o que aconteceu, e por isso teria de se redimir e não jogar sua vida fora. Precisava de prioridades, ser grata pelo que tinha, aliás, era de uma família rudimentar do século XX, tinha tudo; no entanto, sempre queria mais um pouco. Não era feliz assim, mudar era a única solução. Foi que seus pensamentos e sua forma de agir mudaram completamente, sua determinação fizera isso.

Não passou um mês quando seu pai também faleceu, mas tem um detalhe... algo sobre a alma de Isobell, que mais de dez pessoas viram, e relacionado à morte de seu pai. Os boatos se espalharam, muitas vezes, quando passava pela cidade a cavalo, pessoas a olhavam e cochichavam entre si “Ela tem cara de anjo, não consigo acreditar que fez isso”, e foi por isso inclusive, que ela não foi condenada.

A história foi a seguinte: No jantar que teve no dia da morte de seu pai, Isobell estava estranha, fora de si, havia cerca de dez pessoas lá, e viram tudo. Viram quando ela tirou das vestimentas uma faca e rapidamente enfincou no coração de seu pai. Houve um total silêncio, Isobell correu para seu quarto em seguida e o trancou. As pessoas chamaram a polícia e a funerária. E, no momento em que iam dizer sobre o que Isobell fez, ela desceu pelas escadas inocentemente, fazendo todos se calarem. Muito surpresa por ver a autoridade ali, perguntou o que havia acontecido, e ficou perplexa ao ver seu pai morto. Entrou em colapso, começou a chorar muito, e a autoridade tentando acalmá-la pediu para dizerem o que havia acontecido. Quando falaram o que viram, mesmo sendo a maioria, os policiais não acreditaram, e ela mesma achou um absurdo... As pessoas tentaram fazer de tudo, ela era a culpada! Mas de nada adiantou, nada foi feito, inclusive eles mesmos foram acusados de matar o pai de Isobell, mas não havia provas, concluiu-se que ele se matou, e o caso terminou assim.

O velório foi muito perturbador... ela não havia feito nada, havia? Eles que estavam loucos! Não gostavam dela. Até mesmo lá diziam que ela estava... sendo incorporada pelo mau, sendo possuída... já que não se lembrava de nada daquela noite.

Meses se passaram, e ela foi entristecendo, havia mesmo, ela ter ficado louca e ter cometido um assassinato? Havia ela, também, ter matado sua própria mãe? Mortes aconteceram na cidade, e testemunhas diziam ser ela. Talvez fosse, talvez, estava ficando louca mesmo, eram muitas as pessoas que a perseguiam.

Mas tinha também a possibilidade de não gostarem dela e a culparem por tudo, de a invejarem. Era o que ela pensava, e por ter esse pensamento que seguiu mais uns meses... até que...

...Em uma noite gélida, estava chorando saudades, e sozinha, decidiu ir ao cemitério visitar o túmulo de seus pais. Mas houve um problema, vagando pela rua deserta a noite, ouviu passou atrás de si, havia um homem que estava caminhando lentamente a alguns metros de si, depois de alguns minutos, cruzando ruas, ao que se percebeu, ele estava indo ao mesmo lugar que ela.

Quando entrou no cemitério, olhou para trás, e o homem vinha mesmo ao mesmo lugar que ela, estava ele, cabisbaixo subindo as escadas. Ela decidiu ir logo ao mausoléu de sua família, estava com medo do tal homem, mas mesmo assim manteve o foco e foi fazer o que veio ali fazer.

Pôs flores no túmulo deles, depois estava ela orando pelos seus pais, chorando ajoelhada, quando ouviu um farfalhar, parecia um galho sendo quebrado, em seguida, ouviu passos, ela rapidamente ficou atenta, e, quando se virou, apenas sentiu a morte se apossar do seu corpo, o homem estava ali, com cara de vingança, vendo-a cair. Em seguida, ele foi embora.

Caída estritamente na laje fria, no crepúsculo da noite no mausoléu de sua família, Isobell ali ficara, junto com sua alma, que agora vagava no abismo em meio a infortúnios que talvez cometera.