A CASA ABANDONADA
A lua fraca mal iluminava o telhado sujo e quebrado da casa abandonada no final da rua. Era grande, de dois andares, com uma escada de degraus esburacados. Cercada de mato e lixo, a casa não tinha mais cor. Nas paredes e nas janelas, muitos vidros quebrados.
Todos que ali passavam sentiam um arrepio ao ouvir o assovio do vento passando pelos buracos das paredes. Naquela noite, eu voltava a casa, sozinho, era o meu caminho. Não havia ninguém por perto e eu podia ouvir o arrastar dos meus pés nas pedras da rua. Eu sempre sentia medo quando precisava fazer aquele trajeto que era um prato cheio para a imaginação criar situações assustadoras. E, daquela vez, não foi diferente. Procurei acalmar-me e respirei fundo. Nisso, ouvi as batidas do velho portão em frente da casa e olhei rápido, a tempo de ver uma sombra preta que se escondeu dentro dos buracos da escada. Arregalei os olhos e comecei a ouvir muitos barulhos estranhos, como se vários objetos caíssem ao mesmo tempo. Congelei. Não conseguia me mexer. Além desse barulho, passei a escutar uns gritos compridos que vinham do interior da casa.
Reuni toda coragem que pude e obriguei minhas pernas a caminharem até a porta de entrada.
Minhas mãos tremiam ao empurrar a porta entreaberta. Meu coração parecia querer pular do peito. Os ruídos estavam cada vez mais altos. Quando a porta se abriu, totalmente, o vulto negro pulou sobre mim, lambendo-me o rosto. O susto só não foi maior do que a surpresa de ver uma ninhada de lindos gatinhos pretos que brincavam entre os móveis velhos da casa abandonada.