A MOÇA DO SEXTO ANDAR
Alaíde tinha quinze anos quando se apaixonou por Carlos. Linda, delicada, inteligente e educada, morava no sexto andar de um edifício residencial de um condomínio e pertencia a uma família que cultuava os melhores preceitos católicos e os ensinamentos do catecismo.
Carlos não era tão refinado como Alaíde, mas estudava, seguia um procedimento de valores e sonhava alto para o futuro. Porém, infelizmente aos olhos do pai da moça, fazia parte de uma família praticante de umbanda. Isso, para ele, o fazia indigno de ao menos se aproximar de Alaíde.
Mas a garota estava realmente muito apaixonada por Carlos e não abriria mão de seus sentimentos em hipótese nenhuma. O pai dela, irritado com a teimosia da jovem, deixou-a de castigo trancada no quarto, onde ela passou a maior parte do tempo chorando.
O condomínio se constituia de cerca de dez torres, cada uma com quinze andares. A posição das torres possibilitava aos residentes enxergar o que se passava nas demais próximas quando as cortinas não impediam a visão dos ambientes. Por essa razão, no dia do castigo imposto pelo pai de Alaíde, um vizinho, alarmado e assustado, avistou a jovem subir na janela do quarto, hesitar um pouco, olhar para o interior do quarto duas vezes, alçar os olhos para o céu e, de repente, abrir os braços e pular para a morte. O sujeito ainda gritou para ela não fazer aquela loucura, em vão. Ele a viu despencar do sexto andar e cair sobre o chão duro, provocando um barulho atordoante ouvido em quase todo o condomínio. O alvoroço foi geral, quem pode correu em busca de saber o que havia, inclusive os vigias. Encontraram-no morta numa poça de sangue.