A MALDIÇÃO DA VILA - CAPÍTULO VI

VI – Mau presságio

“O quanto as escolhas podem te frustrar? As vezes nem foi o que a gente escolheu, mas o que apareceu, então devemos viver”

Dico e Lucio chegaram à casa de Gus, que estava em seu portão os aguardando.

- Maninhos, entrem aqui que o papo é sério – disse Gus

- Mas e sua mãe? Não vai reclamar?

- Ela foi ao mercado, só meu irmão que está no quarto

Os garotos entraram e foram à sala

- Bom, eu fui ao enterro do Hugo, o Feitosa também estava lá. A mãe do Hugo olhou para gente e gritou que fomos nós, cara foi uma vergonha enorme, minha mãe chorou e o Feitosa me disse que se possível hoje mesmo vai dar no pé daqui.

- Falando nisso cadê ele?

- Ele foi para casa com a mãe, eu disse que estaríamos aqui – a campainha tocou, era o Feitosa. Gus correu para abrir o portão.

- A questão é a seguinte – começou Feitosa – Dico, manda a real...

- Você quer saber se fui quem matou o Hugo?

- Não, quero os números da mega sena

- Palhaço! Gente, eu não matei ninguém, por que vocês estão desconfiados de mim?

- Bom, deixa eu ver. O Gus narrou a morte dele, de repente você vai “buscar” a Emma, ela aparece sozinha, você chega 20 minutos depois dela e quando a gente foi embora, olha só que engraçado, o Hugo estava morto e o mais interessante ele fora enforcado e teve seu pênis cortado, então Dico, se você quer saber o porquê dessa desconfiança, digo que não sei.

- Ele foi morto assim mesmo? – Perguntou Lucio – Parada errada essa!

- Parada errada? Parada sinistra

- Não fui eu! Porra, eu juro que não foi – Dico respira fundo – Preciso ir ao banheiro!

- Vai lá

Antes de ir ao abrir a porta para o outro cômodo, Dico voltou e disse:

- Vocês acham que realmente que fui eu, não é? Agora só faltam achar que eu entrarei no facebook dele e vou escrever “Oi gente, sou eu o Hugo que morreu, mas tava vivo só pra avisa que a próxima a morrer será a Dona Solange, quem mandou ela reclamar das bagunças na rua, vai toma paulada na cabeça”

- Dico...

- Porra é sério? – Dico não acreditava que seus amigos acreditaram nisso, ele foi ao banheiro.

- O que vocês acham – perguntou Gus

- Olha, não sei – respondeu Lucio – Nós ficamos muito tempo longe, mas o fato do cara voltar com a mãe dele do nada pra cá e esse segredo das pessoas não poderem saber e quem ele é filho é estranho, mas tem o lado que ele só confiou isso pra gente, então eu espero que não tenha sido ele.

- Gente, só falem mais baixo

Dico, abre a porta e diz: Eu to indo nessa, não tem cabimento essa situação

- Dico, espera!

- Fui.

Dico abre o portão e vai embora, os meninos acharam melhor deixa-lo sozinho. Dico caminhava e começou a pensar “Não fui eu, está certo que eu tive aquele apagão olhando para a igreja, que foi o que me atrasou, mas eu não sai dali da frente, por que minha disse que está lembrando de 15 anos atrás? Por que eu odeio tanto esse lugar? Bem idiota eu me perguntar, como se as respostas fossem surgir do nada, preciso de uma cerveja para tirar esse mau presságio”

Na casa do Gus, os meninos estavam conversando quando chega uma mensagem de Emma para o grupo “olhem o face do Hugo, agora!”

- Não pode ser – Lucio abriu o facebook, era a primeira notificação – Puta que pariu!

- É brincadeira não é?

- Veja vocês mesmo

“Oi gente, sou eu o Hugo que morreu, mas tava vivo só pra avisa que a próxima a morrer será a Dona Solange, quem mandou ela reclamar das bagunças na rua, vai toma paulada na cabeça”

- Mas foi exatamente o que ele...

- Não Dico, Não!

Pelo celular:

“Cadê o Dico?” Perguntou Emma

“Ele saiu daqui há uns 20 minutos, ele estava puto sobre nossa desconfiança”

“e porquê ele não responde aqui? Alguém liga pra ele”

“O Feitosa acabou de tentar, está na caixa postal”

“Vamos atrás dele”

Os meninos saíram atrás de Dico, eram 15hrs e a missa de sábado iria começar

- Há algum comentário na publicação? – Perguntou Gus

- Nada, esse povo está indo a missa de novo, ninguém vai olhar essa publicação até...

- Até que a missa acabe...

“TIM FEEHAN – Wheres the Fire”

Enquanto os garotos procuravam por Dico, Dona Solange uma senhora de 60 anos estava em sua casa terminando de se arrumar para ir a igreja.

- Ai meu Jesus, esqueci de tirar a roupa do varal, e se chover? Não deve ter problema, a chuva é abençoada pelo nosso senhor Jesus, amém.

Um barulho fora ouvido pela senhora que se assustou imediatamente, a velha andou até a sala e viu a porta escancarada. Ela caminhou até lá e encontrou Dona Teresa passando em frente a sua casa.

- Vai à missa, Teresa?

- Vou sim

- Espera que eu vou com você, só vou terminar de arrumar as coisas.

- Vai rápido mulher, não quero me atrasar!

Pela vila, Lucio voltou para pegar a moto e assim procurar mais rápido, mas a moto não funcionava “só pode ser brincadeira” Lucio olhou e a corrente da moto estava destruída

- O pessoal, venham dar uma olhada aqui – os garotos chegaram

- Meu Deus, será que foi o Dico?

- Porra, mas se fosse ele era só a gente ter ficado aqui, mas que merda está acontecendo?

“Conseguiram achar ele?” era Emma por mensagem

“Ainda não”

“Vão rápido”

Dona Solange fecha a porta da sala para terminar de se arrumar, chega ao seu quarto e olha para o retrato de Jesus que havia na parede. Ela agradece e abre uma gaveta em seu criado mudo para pegar seu terço, era uma cama de casal antiga, tudo naquela vila era antigo.

“Pronto, já peguei tudo, estou pronta para ir” Foi seu último pensamento. Uma paulada fora dada por trás.

Dona Solange cai já desfalecida em sua cama, e o que se podia ouvir do quarto eram apenas os barulhos de madeira quebrando ossos, os ossos do crânio de dona Solange, o Sangue espirrava e manchava todas as partes do quarto. A última paulada manchou o retrato de Jesus.

- Já sei – disse Gus – Como a gente é burro! Vamos para casa de Dona Solange

- Boa!

Os três correram em direção a casa de dona Solange. Na porta da casa da falecida velha senhora estava Teresa

- Solange! Vamos logo, nós estamos atrasadas! – Mas não havia resposta nenhuma, Teresa achou estranho e começou a bater na porta – Solange! Solange! – Nada de respostas.

Teresa então tenta abrir a porta e consegue, pois, estava destrancada. Entrou na casa e começou a chamar por sua amiga, sem nenhum sinal de vida, começou pela sala, foi ao banheiro, entrou na cozinha, olhou pela janela para a lavanderia e nada. “Onde essa mulher se meteu?” Ao olhar para trás viu a porta do quarto entre aberta e foi olhar lá.

Os garotos chegaram na porta da casa da Solange e o que eles escutaram não foi um grito de horror, foi um grito que até hoje ninguém sabe decifrar, um grito que arrepiara a todos os meninos.

- Devemos entrar?

- Que pergunta Gus – respondeu Feitosa já adentrando o local, os meninos foram juntos.

Ao entrarem no quarto viram dona Teresa em choque, logo em seguida olharam para o corpo em cima da cama. Gus foi o primeiro a vomitar

- Santa mãe de Deus – Lucio saiu do quarto.

Feitosa olhou fixamente e viu que o corpo de dona Solange estava segurando um terço na mão direita, o rapaz fez o sinal da cruz e saiu do quarto.

Lá fora, os três sentados e o pensamento era o mesmo “Dico”