A MALDIÇÃO DA VILA - CAPÍTULO V

V – Um dia de luto

“ O quanto um assassinato pode libertar uma alma? Alguns dizem que todos nós temos direito a matar uma pessoa, seja por qual sentimento quiser, mas apenas um”

Emma estava na porta de sua casa, a noite era cheia de neblina. Ela avistava de longe alguém vindo com uma blusa de capuz, ela não conseguia distinguir quem era. Aquilo se aproximou dela e sem que ela pudesse toca-lo ou falar com ele, a entidade entrou em sua casa. Emma correu em direção dos gritos de sua irmã e mãe...

- Emma! Acorde! - Emma desperta em sua cama ofegante e soando frio – Você está bem?

- Estou sim, foi só um pesadelo

- Tem certeza?

- Tenho sim, Ana

- Então está bem, eu, Laurindo e a mamãe vamos ao mercado e depois ao enterro do Hugo, quer vir com a gente?

- O que, o Hugo? Não foi sonho?

- Não, e se eu fosse você me afastava do Dico, e dos amigos dele

- Ana, você está viajando...

- Eu me afastei dele, por um motivo, sabe, cheio de pensamentos em mortes, sempre triste, e desde que ele chegou aqui essa vila...

- Ana, talvez você não o conheça direito

- Ou talvez, você não o conheça – Ana se levantou da cama de Emma – Bom, estamos indo, te amo, real!

- Também te amo, real! – Emma vê sua irmã sair com seu namorado e sua mãe – Hora de levantar.

Emma então belisca um pedaço de pão, toma um café com leite e começa a pensar “O que houve ontem? Era uma sexta tão tranquila, meu, isso não pode ser verdade. Por mais que o Hugo fosse um babaca, lambedor de saco dessa gente, jamais Dico, ou alguém deles fariam mau a ele” Enquanto Emma se perdia nesses pensamentos, seu celular vibrou, era mensagem de Eduardo.

“Gatinha, você está bem?”

“Estou sim e você?” – respondeu ela no celular

“Estou aqui na sua porta”

“Já saio”

Depeche Mode – Policy oh Truth

Emma vai até sua porta e recebe Eduardo com singelo beijo no rosto.

- O que aconteceu ontem? – Perguntou ela

- É meio complicado, neh?

- Como assim?

- Você não se lembra?

- Lembro até a hora da casa do Gus, mas depois parece que acordei aqui, com flashs de policia e o Dico sendo um assassino?

- Não foi bem assim gatinha, não da pra saber se foi ele, e ninguém ainda sabe disso

- Você está me deixando confusa

- É tarde demais para mudar os acontecimentos, é tempo de encarar as consequências, as coisas poderiam ser diferentes e você sempre vai se perguntar como!

- O que você está dizendo?

- Oxi, eu não disse nada – Eduardo se espantou.

Emma balançou a cabeça e percebeu que aquilo tinha vindo de sua cabeça...

- Gatinha, você está bem de verdade?

- Estou sim, deve ser a ressaca ainda

- Bom, passei só pra saber como você estava, tenho que ir ao mercado comprar coisas para pizzaria e depois vou ao enterro do Hugo, quer vir comigo?

- Não, estou de molho hoje, obrigado.

Eduardo então vai embora, e Emma pensa “mas até os diálogos desse lugar são iguais, o que está acontecendo”

Lucio chega de moto na casa de Dico: - Dico! – chamou Lucio

- Pelo amor de Deus, não grita meu nome aqui! – Disse digo saindo para atende-lo

- E por que não?

- Puta que pariu, você sabe o que aconteceu aqui há 15 anos, se descobrem que sou filho dele...

- Ah mano, para de ser bicha, quero falar sobre ontem!

- Eu também, entra aqui...

Os meninos entraram. Dona Mariana estava a preparar um almoço e viu os garotos irem para sala.

- Bom dia meninos, vocês viram o que aconteceu ontem?

- A gente ficou sabendo, mãe

- As pessoas daqui, estão acusando vocês sabiam?

- O, dona Mariana, com todo respeito, nós estávamos na casa do Gus, e isso a gente tem como provar, essa velharada aqui adora ficar falando da vida dos outros.

- Essa velharada, senhor Lucio, vai acabar com a vida de vocês! Você, o Dico, e os outros tem que tomar tenência!

- Mas mãe, nós não fizemos nada!

- Parece que estou vendo seu pai aqui, para! É exatamente como há 15 anos.

- Do que você está falando?

- Nada, só não quero vocês em confusões, afinal foi por isso que voltamos pra cá Dico – Dona Mariana volta para a cozinha.

- Dico, deixa eu te perguntar uma coisa – Lucio estava muito sério – Sei que não é da minha conta a questão do incêndio que seu pai acabou morrendo e fez vocês irem embora, mas porquê vocês voltaram de São Paulo? E o principal, por que ninguém pode saber de quem você é filho, ou que moram aqui? O que está acontecendo nessa merda?

- Pra falar a verdade, eu não sei, minha mãe disse que é porquê lá em São Paulo, eu estava me perdendo e que como o incêndio aqui causou muita euforia, ela não quer que ninguém saiba que voltamos.

- Mas não é estúpido, alguém não pode reconhece-la? Você tudo bem, era criança, ninguém vai te associar, mas ela...

- É por isso que ela quase nunca sai, eu não sei onde isso vai parar, mas... – Dico é interrompido pelo toque do celular de Lucio, era o Gus.

Após alguns segundos de conversa, Lucio diz: - Parece que esse dia de luto não vai acabar hoje

- O que houve?

- Parece que no enterro do Hugo, aquelas velhas disseram que fomos nós os assassinos, o Gus pediu para irmos a casa dele, sobe na moto! Vamos pra lá. Você tinha algo para esconder, deveria ter escondido, não deveria?

- Esconder o que?

- Você está louco, quem falou de esconder?

Dico balança a cabeça como se tivesse delirando: - Nada, viajei aqui.

Os dois subiram na moto e foram para a casa de Gus. No caminho Dico olhava a vila que cada vez mais se tornava insuportável e pensara “como um lugar desse consegue prender todos?”