SONHOS DE LIBERDADE

 

Em 1992, em Londres, sentando em uma cadeira, a jovem Miranda olhava as rosas em seu jardim, pensando no cavalheiro que a libertou do cativeiro manipulador. Os sonhos sempre foram uma rota de fuga, o desespero voltava com todas as suas forças para forçá-la a carregar o fardo do seu amor perdido pelo vigarista. Jamais amou a outro homem como ele.

Miranda falou consigo mesma no espelho, imaginando o homem:

– Quanto tempo se passou desde o nosso primeiro encontro neste jardim?

– Por que me abandonaste nesta casa fria, deprimida, com estes rostos falsos? Será que me esqueceste como o resto do mundo fez?

Ela se questionava sobre sua vida. As suas decisões não eram apenas do que simples palavras vazias tomadas pela sua família. Estava angustiada. Desde pequena nunca teve a oportunidade de explorar o mundo, queria voltar aos velhos tempos. Ao nascer, sua mãe Isabella passou muito trabalho para lhe dar a luz. Fora batizada de Miranda. 

A família ficou desapontada assim que o padre anunciou a chegada da menina. Não era esse o resultado que Isabella espera ouvir, o que queria, de verdade, era um menino para poder realizar seus sonhos de luxos, sem ter que se importar com as dívidas da casa e de casar-se com um duque.

Com o seu crescimento, sua infância foi aos poucos sendo manipulada pelo abuso da mãe gananciosa e de seu padrasto, tornando-a escrava das ambições do doentio casal. Era forçada a aguentar aulas de etiqueta, frequentando encontros com senhoras de alta classe para aproximar-se dos senhores duques para conseguir terras nobres. Não era permitido nenhum erro, Miranda tornou-se uma ferramenta utilizada pela família. Ninguém imaginaria que aquela garota, tão bela, de olhos violetas sedutores, como um anjo, fosse, na real, uma perfeita boneca sem emoções verdadeiras, oriundas de seu interior.

A noite, em sua escuridão, dava ao local um vazio silencioso. O frio toque do vento fez as lágrimas gelarem o rosto abatido de Miranda. De pé, na sacada, nenhuma esperança cabia naquele momento drástico para o atormento da jovem. Sua única salvação era trocar sua vida por um alto preço, o alívio sem fim ao lado da morte calorosa.

Seus olhos fecharam ao dar um passo à frente. Pensando na tentativa do suicídio, parou quando ouviu um barulho saindo do seu quarto. Ao voltar, Miranda observou que a sua caixa de joias estava se mexendo sozinha. Assustada gritou, segurando o delicado chapéu verde, com o qual bateu na misteriosa cabeça. Ascendendo a luz, seu rosto ficou vermelho com a aparência de um estranho menino: moreno com cabelos cacheados, igual aos das uvas, corpo robusto e olhos ousados que a deixaram sem folego e com o batimento do coração acelerado. Apaixonou pelo ladrãozinho.

Ele estava relutante em devolver as joias; contudo, a menina não ficou brava e deixou a caixa como um presente ao garoto. Vendo a sua sinceridade, o ladrão ficou tocado com a jovem. Ela era diferente

das jovens damas que tinha conhecido, não era arrogante e nem o julgou como as outras fizeram.

Algo nela o encantava, seus sentimentos estavam confusos, não parava de observar os seus delicados lábios. No momento, pensou em agarrá-la com os seus braços fortes e experimentar o desejo do amor. Passaram longas horas juntos, gostavam da companhia um do outro. Para eles, era um milagre do destino. Enfrentariam dificuldades para ter a oportunidade de abrir suas gaiolas e voarem na direção de um ao outro.

O menino era conhecido como André. Veio da Espanha para livrar-se das garras do pai, queria viver livre, sem ter compromisso com uma garota desconhecida que nunca tinha visto. Seu pai o deixara com várias cicatrizes, inclusive no coração. Era preciso roubar para sobreviver. Trabalhava para os mercenários em troca de receber um lar garantido e, nisso, sua missão era roubar as famílias ricas da nobreza.

Miranda ficou com ciúmes, ao ouvir a história do primeiro amor de André. O garoto achou graça da sua reação. Pegando sua mão, puxou-a para perto de si e a encurralou na árvore, impedindo-a de escapar do seu beijo. O luar ajudou no clima romântico entre eles, o único momento verdadeiro que compartilharam.

Seu amor foi quebrado quando os pais descobriram. Irritados separaram o casal. André tentou lutar contra o pai; no entanto, perdeu, quando seu casamento fora decidido com a filha do prefeito, Victória. O garoto cortou os laços com Miranda. Falou-lhe que nunca a amou, que só a usara como um passatempo e que estava feliz com o casamento arranjado. Miranda chorou ao ouvir suas duras palavras e caiu, ao chão, desolada, André a olhava indiferente e retirou-se, sem ao menos, dar um adeus de despedida, abandonando-a.

Após vinte anos, Miranda casou com um duque, Rubert, vivendo uma vida tranquila e calma. Trabalhava com o marido em seu escritório e era respeitada por todos, não tinha nada do que reclamar. Miranda, ao sair em direção ao trabalho, esbarrou em um homem lindo ao lado da esposa. Ao olhar para o seu rosto, reconheceu André, um pouco mais velho. Brava, empurrou-lhe e seguiu o seu caminho.

André a olhou de longe, com um olhar triste, estava arrependido por tê-la deixado. Sabia o quanto a jovem era importante para a sua vida e, que perdeu, por ter escolhido Victória em vez dela. Victória tinha inveja de Miranda que, além de ser bonita, o seu homem a amava muito. Desde que se casou com André, sentiu-se atraída por ele. Jamais deixaria o marido conquistá-la. Seu objetivo era ser a dona do seu coração.

André aproximou-se de Miranda de novo. Ao demonstrar-lhe sinceridade e amor, Miranda o perdoou pelo passado. A chama do amor foi reacendida entre os dois. À medida que o tempo passava, estavam mais apaixonados um pelo outro, tendo um caso secreto para que pudessem ficar juntos.

Victória, com ódio, por descobrir a traição do marido, tentou esfaquear Miranda; entretanto, falhou. Quando Rubert se colocou à frente para salvar a mulher que a amava. Morrendo em seus braços, Miranda ficou abalada, por mais que não retribuísse os seus sentimentos, tinha carinho pelo marido.

A garota ficou por um tempo isolada. André garantiu que Victória fosse presa e levada ao tribunal de justiça para ser julgada pelo assassinato de Rubert.

O homem sentiu-se mal pela situação de Miranda. Com os anos passando, conseguiram, finalmente, realizar seu casamento e seus desejos foram realizados pelos laços fortes do casal que se reencontraram graças ao amor verdadeiro.