Não Pule! A Negociação com um Suicida Perseguido Por Forças Ocultas
Cabo Arthur: Ele já está há muito tempo lá?
Soldado Anderson Lima: Parece que ele chegou aí umas duas horas atrás.
Cabo Arthur: E ninguém viu ele subindo aí?
Soldado Anderson Lima: Parece que não estava tendo treino e nenhum funcionário do clube estava no campo.
Cabo Arthur: Vai ser foda tirar ele daí, será que vamos precisar subir ali? E se chegar lá e o maluco se desesperar?
Soldado Anderson Lima: Temos que agir com cuidado, porque é uma situação grave.
Cabo Arthur: É mais grave do que imaginei quando recebemos a chamada.
Sargento Dimas: Tarde pessoal! Não acredito que tem realmente um maluco na torre de energia...
Cabo Arthur: É, ele já está aí desde as duas.
Sargento Dimas: Vou tentar contato com ele, mas ele lá em cima e a gente aqui em baixo vai ser difícil. Bom, vou tentar o Megafone, pode ser que o assuste e o faça descer.
Cabo Artur: Pode tentar, se a gente ficar só olhando esperando esse puto, ele não vai descer.
Sargento Dimas: Vou chamar mais gente, pois logo chegam eles...
Soldado Anderson Lima: Sim, os idiotas dos curiosos...
Cabo Arthur: Como eles atrapalham! São uma plateia de programa do Datena, que torce pra ver um final trágico.
Sargento Dimas: Seja ele pulando, ou um ato heroico que o impeça.
Cabo Arthur: Sim...mas também acho que é da natureza humana, quem não para pra ver qualquer coisa fora do comum?
Soldado Anderson Lima: Você tem razão...
Sargento Dimas: Atenção!!!aqui é o Corpo de Bombeiros Militar de Ponta Porã, peço que o Senhor desça para sua própria segurança, o Corpo de Bombeiros está apto a auxilia-lo na descida!!!
Cabo Arthur: Será que ele escutou?
Soldado Anderson Lima: Sim, o alcance é de mais de cem metros.
Sargento Dimas: Bom, ele deve ter escutado, esperemos cinco minutos.
Dez minutos depois.
Cabo Arthur: Já se passou mais de dez e ele não se moveu.
Sargento Dimas: Vou repetir mais uma vez.
Sargento Dimas: Atenção Senhor!!! Aqui é o Corpo de Bombeiros de Ponta Porã, mais uma vez peço que o senhor desça para sua própria segurança, o Corpo de Bombeiros está apto a auxilia-lo na descida!!!
Soldado Anderson Lima: Já começou a aglomeração.
Sargento Dimas: Já chamei reforço da PM para afastar os curiosos.
Soldado Anderson Lima: Acho que ele não vai descer por conta própria.
Sargento Dimas: Também acho isto... Acho que vou ter que subir lá para tentar convence-lo a descer em segurança.
Cabo Arthur: Vamos preparar o equipamento.
Sargento Dimas: Está aí na viatura, podem pegar que eu já vou colocando-o.
Cabo Arthur: Você vai precisar de um de nós lá?
Sargento Dimas: Não, melhor uma pessoa só, duas pode estressa-lo e o deixar assustado.
Soldado Anderson Lima: Tudo bem, vamos equipar você e terminando já dá pra subir.
Cabo Arthur: Olha lá! ele vai jogar alguma coisa lá de cima.
Soldado Anderson Lima: É mesmo...o que será que é?
Sargento Dimas: Parece uma pedra com algo amarrado.
Soldado Anderson Lima: Ele jogou.
Sargento Dimas: Deixem que eu vou pegar, assim já estabeleço o laço de contato com ele.
É uma carta amarrada numa pedra, o que mostra que subir ali foi algo planejado, não um impulso de momento, deixe me ler:
Exijo falar com o Presidente do Estados Unidos da América imediatamente! Tenho que lhe mostrar um motor com um novo tipo de energia que é limpa e de grande poder. Ass: Alcides Barbero
É mais complexo do que um marido traído querendo se matar pelo infortúnio amoroso, é provavelmente um esquizofrênico em um surto psicótico...Hoje vai ser um dia difícil...
Soldado Anderson Lima: E aí o que ele escreveu?
Sargento Dimas: É um maluco, com papo de maluco...Provavelmente um esquizofrênico em surto.
Soldado Anderson Lima: Situação difícil eim patrão.
Sargento Dimas: Põe difícil nisso...Bom, vamos subir e tentar convencer o maluco.
O segredo em subir é ignorar o que há lá embaixo. Eu até olho, mas tento não me impressionar.
Saber que está bem amarrado também ajuda, mas Caralho! Por que um dia que parecia comum se tornou em uma subida para negociar com um maluco?
Dimas: Senhor Alcides!? Eu sou o Sargento do Corpo de Bombeiros de Ponta Porã Dimas Chiaviato. Eu vim aqui para conversar com você e fazê-lo descer em segurança comigo. Sou habilitado pelos Bombeiros a fazer resgate também.
Alcides: Eu não subi aqui para descer. Só me dou por satisfeito quando falar com o presidente Joe Biden!
Dimas: Senhor Alcides, podemos providenciar isto, mas somente estando lá embaixo.
Alcides: Eu já não posso descer. Desculpe...
Dimas: Eu posso chegar aí na plataforma?
Alcides: Não! Para sua segurança fique aí!
Dimas: Eu estou com equipamento de segurança Senhor.
Alcides: O perigo não está na queda, mas com quem está nos vigiando, eles só estão esperando alguém subir aqui comigo.
Dimas: Eu também estou vestindo colete a prova de balas!
Alcides: Não vai servir de muita coisa, as armas deles são muito mais sofisticadas que seu simples colete, e aonde eles podem te acertar, seu colete não lhe protegeria.
Quando era criança me lembro de um garoto da minha vila que era muito estranho, falava de coisas que não existiam e via realidades só dele. Todas as crianças da vila evitavam o “Zé doidin”, para mim ele era só o José Carlos, a mãe dele chamava ele de Carlinhos. Sentia pena dela porque ela sentia a exclusão que o filho dela sofria. A mãe dele era muito linda, bem diferente da minha mãe e de meus colegas que eram velhas e barangonas...Não sei por que lembrei disso agora... ahhhh descobri, eu me lembro de entrar no mundo de fantasia do Carlinhos e viajava também nas loucuras dele. Acho que vou fazer isto com este maluco aqui, talvez ele me integre a sua viagem.
Dimas: Alcides, eu vim aqui para te ajudar. Preciso saber como posso te ajudar. O que posso fazer por você? Posso lhe chamar de você?
Alcides: Sim, claro, você é um cara educado, me parece ser alguém legal, por isto não chegue muito perto, pode ser perigoso para você. Eu tenho pouquíssimas probabilidades de descer com vida daqui, já você tem se ficar aí onde está, na verdade tem quase que 100% de chances de descer com vida.
Dimas: Você poderia me explicar qual o perigo que corremos aqui em cima? Afinal, eu estou em risco também.
Alcides: Muito perspicaz de sua parte me pegar em minha própria ética, e me fazer me sentir seu companheiro de perigo, tal como uma dupla. Boa estratégia, es um negociador mesmo.
Dimas: Eu tenho cursos de negociação pelo Bombeiro e pela Polícia também, você está seguro comigo!
Alcides: ahahahahah nenhum curso lhe preparou para o que estamos passando aqui. Nenhum do mundo poderia ter lhe preparado, quase como que se você tivesse dado a sorte e o azar de estar diante de um evento único da história humana.
Dimas: Não estou entendendo o que me diz, você está somente divagando e não me falando o perigo que corremos.
Ele utiliza palavras e termos que são muito sofisticados para um simples doido de rua, não parece nenhum mendigo ou viciado em drogas.
Dimas: Alcides?! Eu posso saber quem você é? Afinal, estamos de alguma forma estabelecendo um contato. Eu já me apresentei, quem é você?
Alcides: Pergunta complicada para se fazer no alto de uma torre de energia, e logo vai começar uma chuva com raios...quem sou? Acho que não sei bem como lhe responder... Me dê um exemplo do que você gostaria de saber sobre quem sou.
Dimas: No que você trabalha? Se mora aqui na cidade? Se tem família? Nada muito profundo e filosófico, informações iniciais de quem está se conhecendo.
Alcides: Perguntas simples demais para alguém tão perspicaz como você, duvido muito que isto irá fazer alguma diferença no seu objetivo e no meu.
Dimas: Meu objetivo é descer com você em segurança, o seu eu ainda não entendi.
Alcides: Já lhe falei minha demanda: Falar com o presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden. Se você não puder providenciar isto, não acredito que tenha mais nada para me oferecer.
Dimas: Eu posso tentar falar com ele, mas você concorda comigo que não vai ser um chamado de qualquer um que o fará vir aqui. Preciso de um forte motivo para tal, se não ele não vai atender um simples Bombeiro Militar do Brasil.
Alcides: Hummm você tem razão...
Dimas: Comece então me falando quem você é, pois tenho que falar sobre quem quer falar com o Presidente Biden.
Alcides: Eu sou um inovador, não sou um simples pesquisador, sou um predestinado, eu nasci já querendo mudar o mundo, querendo revolucionar a história da raça humana.
Dimas: Você é um inventor?
Alcides: É... mais ou menos isto, só que não sou um inventor de coisas comuns, eu pesquiso coisas revolucionárias, do nível da prensa de Gutemberg, da luz elétrica de Edison, da corrente alternada de Tesla, da Teoria da relatividade de Einstein, do Windows de Gates, da Apple de Jobs...Coisas que realmente mudam a direção da humanidade.
Dimas: Entendi... E qual sua criação? Se já conseguiu criar algo, é claro.
Alcides: O homem está criando a todo momento, neste exato minuto alguém inventou algo necessário, mas o que eu criei vai além disto tudo.
Dimas: Poderia me explicar exatamente o que é? Não consigo imaginar nada melhor que as invenções que citou.
Alcides: Vamos lá, eu já lhe expliquei na carta parte disto na mensagem. Meus experimentos me fizeram descobrir uma nova fonte de energia que derrotou as leis da termodinâmica e a lei de conservação de energia. Imagine que eu sozinho consegui vencer as leis da termodinâmica e a lei da conservação de energia, e com total responsabilidade, afirmo que descobri uma nova fonte de energia de forma limpa e ilimitada. Como resultado tenho um motor que funciona continuamente, e não requer energia externa, ou seja, apenas com a energia autocura interna.
Dimas: Nossa!!!! Se você descobriu isto por que está aqui em cima? Teoricamente você vai se tornar um dos homens mais ricos e famosos da terra.
Alcides: Se fosse simples assim minha ingênua marionete do sistema... Eles jamais me deixariam lançar algo do tipo.
Dimas: Eles quem?
Alcides: Os que comandam tudo que está lá embaixo e aqui em cima até. Quem controla a energia controla o mundo, quem tem ela sob seu controle não quer que alguém tome deles.
Dimas: E o que eles poderiam fazer com você?
Alcides: O que eles poderiam fazer??? Praticamente tudo: Sumir comigo, me assassinar, assassinar minha família, me excluírem de qualquer registro civil, assim Alcides Barbero nunca terá existido e eles ganhem mais alguns anos, talvez um século explorando a energia mundial, lucrando com isto, e continuam comandando o mundo... Eles só têm a ganhar e eu a perder.
Dimas: Eles estão aqui agora? Eles estavam atrás de você?
Alcides: Claro que estão, eles estão em todo o lugar, desde quando eu faço meus experimentos, algo estranho acontece, um fenômeno ou uma anomalia que não sei explicar, aliás, o senhor tem algum dispositivo de comunicação?
Dimas: Sim, meu rádio comunicador.
Alcides: Como um gênio como eu fui tão burro!!! Por favor, desça ou o jogue daqui mesmo.
Dimas: Eu não posso me desfazer do meu rádio, estou comandando uma operação.
Alcides: Então serei obrigado a pular agora. Você está em perigo! Talvez não, pois eles sabem que você apenas negocia com um “maluco”, e está fingindo acreditar nele. A partir de agora não lhe dou mais informações. Desça e se puder chame a Policia Federal, assim eles podem me botar em contato com a CIA.
Ele é inteligente de mais para ser apenas uma “brincadeira” como era com Carlinhos.
Dimas: Eu não acredito que você seja um maluco, mas suas informações são novas para mim. Até nosso encontro 5 minutos atrás, nunca havia ouvido falar sobre o que tem me falado. Alcides, não há risco de monitoramento quando o rádio dos bombeiros está desligado.
Alcides: Dimas meu caro, você sabe que os gigantes da comunicação que comandam o mundo atualmente, mais que qualquer governo. Eles sabem informações pessoais de todos nós. Anos e anos de atualização em seus sistemas, controle de conversas privadas de membros do alto escalão governamental... Eles são as ferramentas de criar e destruir governos, logo, os donos da energia dependem deles e eles dependem da energia para manter o controle. Um acordo de controle mutuo, eles querem o poder da informação e precisam de energia para isto, e quem precisa de energia, precisa de informação.
Dimas: Faz sentido Alcides.
Realmente a teoria dele não é das mais erradas, sempre achei que as redes sociais tinham um controle fundamental da informação pessoal de todos. Ele no mínimo é um estudioso de teorias conspiratórias.
Dimas: Vou jogar meu rádio lá na rede de segurança que eles armaram. Desculpe, mas não posso estragar meu material de trabalho assim. Daqui onde estou eu não consigo jogar, posso subir até aí?
Se ele me der o aval posso contê-lo estando lá em cima quando estiver próximo a ele.
Alcides: Não! Se você subir eles provavelmente atirarão em nós dois, se você chegar muito próximo eles vão fazer isso. Tem um Sniper apontadando seu tiro para nós o tempo todo. Você não consegue ver, pois não aparece a mira, mas por frações de segundo ela fica visível. Eu já a vi nas suas costas e se você prestar atenção ela aparecerá na minha têmpora, mas é em uma fração de segundos, tem de ter um olho atento.
Dimas: Então eu vou deixar o rádio aqui e você o pega e depois, por favor, o jogue lá embaixo.
Alcides: Sim, mas tenha cuidado. Não aproxime tanto de mim, é só o que eles esperam, me acertar, eu cair em você e nós dois irmos ao solo, em uma tragédia perfeita, com a manchete: “Suicida se joga de torre e leva junto Bombeiro que os resgatava”. Somos formigas para eles, junto a mais de 8 bilhões de outras, elimina-se uma ou duas e o formigueiro continua trabalhando para a “Rainha” sem contestação.
Dimas: Aqui está.
Agora ele virá buscar, não sei, mas acho que consigo puxa-lo comigo e conte-lo... vamos ver o quão perto ele chega...Muito bem, mais perto, mais perto...Agora é o momento! Espera!!!! Acho que eu vi a porra de um pequeno ponto vermelho por uma fração de segundos na têmpora dele! Foi minha imaginação só pode... ele está mexendo com ela... Estou perdendo o controle, tenho que me manter firme para não entrar no jogo dele.
Alcides: Agora tudo que falamos está só entre nós. Se os Estados Unidos chegarem a meu motor, talvez eles me levem para a área 51 e me mantenham lá, pelo menos até o perigo passar e o sistema ruir. Será uma humanidade pulsante, com energia infinita, após a guerra dos países produtores de energia, o que se seguirá será a glória da humanidade! Você sabe porque vidas inteligentes não entram em contato conosco?
Dimas: Porque elas não existem em uma distancia próxima o bastante para atravessar em um tempo de vida biológico.
Eu vi um programa de um astrônomo dizendo isto, vou partir para o confronto de ideias.
Alcides: Sim você tem razão, mas até onde biologicamente nós fomos?
Dimas: Até a Lua.
Alcides: ahahahah vamos imaginar que sim, só imaginar, mas até onde fomos através de nossa tecnologia?
Dimas: Não sei, até os confins do sistema solar?
Alcides: Exato! Somos capazes de construir inteligência artificial para ir muito mais longe que nossa frágil biologia, logo, inteligências avançadas também podem construir coisas do tipo. Acontece que nós somos como povos da idade da pedra para eles, brigando e se matando como animais irracionais. Eles não vão estabelecer contato com seres tão atrasados. Mas meu motor nos levará à uma nova era, uma civilização da qual as inteligências superiores queiram contato.
Dimas: Alcides, precisamos chegar em um consenso, desça comigo, logo a chuva vai começar e seremos atingidos por algum raio.
Alcides: Tem razão, minha desesperada tentativa não surtirá efeito... É duro enxergar isto.
E se ele tiver razão nas coisas que diz, pois eu vi realmente o ponto de mira. Ele parece ter uma teoria sofisticada sobre o que diz... Caralho! Ele realmente entrou em minha mente, estou começando a ver toda está trama que ele jura estar acontecendo.
Pior que depois que ele falou, estou com uma sensação de que estamos sendo vigiados aqui, é uma sensação estranha, daquelas que sentimos quando tem algum perigo próximo.
Dimas: Alcides, vamos tentar o contato com o presidente dos Estados Unidos. Estou com você, vou lhe dar um voto de confiança, espero que exista mesmo seu motor, e que consigamos mudar os rumos da humanidade. Pode acreditar, assim como você, acho o ser humano o mais irracional dos animais.
Alcides: Dimas, obrigado por cogitar acreditar, mas a verdade é que não vamos descer daqui com vida, eu pelo menos não, eu lhe disse parte do que sei. Me escute, depois que eu me jogar, vá imediatamente a procura do meu protótipo, tente chegar antes deles em minha casa, na rua Elena Domingues 1790. O motor está escondido em uma panela, enterrada no banheiro, o qual concretei há exatos 4 metros de profundidade. Só você sabe da localização. Se quiser pode tentar pega-lo, mas é perigoso demais, sua vida corre risco.
Dimas: Alcides, eu irei com você lá...
Alcides: Adeus, eu não vou dar este gosto a eles, eu vou por minha própria vontade!
Dimas: Nãooo Alcides!!!!
Em minha frente ele se jogou, e posso jurar que quando ele caiu eu pude ver algo reluzindo e acertando sua têmpora, no exato local que ele me falou que estava apontado a mira.
Eu fiquei lá no alto daquela torre perplexo com a visão daquele suicida, afinal, será que ele estava tão em surto que via tudo aquilo acontecendo? Ou estava acontecendo mesmo? Por um instante ele quase me convenceu disto com sua retórica apurada e sua crença fiel a ela.
Ao descer fui bombardeado por uma série de perguntas da Tv local. O vídeo de um homem se jogando da torre e eu nada fazendo, viralizou, e fui execrado por não o ter puxado quando tive oportunidade. Também não fui culpado disto, afinal, ele que se jogou comigo há uma distância grande dele... Só fui recomendado a me afastar por um tempo, até que tudo fosse esquecido. Em algumas semanas o vídeo e o fato já estavam esquecidos, suplantados por algo incrível acontecendo em outro local do mundo.
Quando me perguntavam quem ele era e o que queria, respondia o de praxe, era alguém esquizofrênico e que acabou se suicidando em um surto. Depois das semanas tensas que se seguiram, decidi por conta própria investigar sobre Alcides Barbero.
Somente a notícia de seu suicídio era o único registro dele na busca do google. Nada, absolutamente nada estava ligado em seu nome. A base de dados da polícia, acessada através de um amigo, não mostrava registro nenhum dele, além de seu nome e Cpf. Seus pais já eram falecidos, sem nenhum parente próximo. Sua casa era uma herança de família e foi repassada a União por falta de parentes herdeiros. Nada tinha sobre Alcides Baebero, nenhum registro profissional, registro escolar, foto na internet, nada existia sobre Alcides Barbero, era como se estivesse somente em minha memória sua face.
Procurei o endereço que ele me passou na torre, e para minha surpresa, a casa havia sido demolida, somente restando sua estrutura de base. Em um fim de tarde depois do expediente, fui até aquele endereço que por um bom tempo lutei para esquecer. Chegando em um terreno bagunçado, com vestígios de uma casa demolida. Andei pela extensão do que conseguia identificar como tendo sido os cômodos da casa demolida. Enquanto caminhava sentia uma estranha sensação de estar sendo vigiado a todo o momento. E aonde eu julguei pela estrutura ser o banheiro, um grande buraco havia, como se ali algo fora escavado.
Observei bem o buraco, e em minha experiencia como bombeiro, de olho poderia julgar aquela escavação ter ido até pelo menos quatro metros de profundidade. Fiquei um tempo parado observando o escuro que aquele espaço escavado criara, imaginando o que eles tiraram lá de dentro. Todo aquele ambiente era a descrição daquilo que Alcides havia dito na torre.
A sensação de estar sendo observado aumentou, despertando em mim um temor de estar em perigo, me levando a sair o mais rápido possível daquele local. Quando saí arrancando com meu carro, pelo retrovisor pensei ter visto outro carro saindo do local, como se já tivessem terminado seu serviço ali.
Está sensação de vigia durou alguns meses, até que deixei de lado aquela ocorrência e voltei minha vida normal, tentando concretar em minha mente que aquele havia sido um dia ruim de trabalho, cruzado por alguém doente e que infelizmente não pude ajudar.
A sensação de vigia passou, e tudo pareceu normal. As vezes sonho a noite com ele me contando do seu motor e uma vez até vi seu motor em meu sonho. Meu terapeuta disse ser um trauma causado por um evento pós traumático. A situação fez com que eu também embarcasse na história dele, e por alguns instantes fantasiasse junto.
10 anos depois, agora que já estou quase aposentado dos Bombeiros, nada como aquilo ocorreu novamente e Alcides Barbero é só uma lembrança ruim em minha mente, da qual eu tento a todo custo não lembrar. Até agora, quando vejo uma notícia no meu celular, uma reportagem de um conglomerado de notícias, noticiando uma descoberta feita por cientistas Russos. Abro a notícia e me defronto com palavras que se juntam em minha mente e formam algo que já havia escutado antes: “Este pode ser o primeiro passo para que se quebrem as leis da termodinâmica e quem sabe daqui alguns anos, talvez décadas possamos ter energia de forma limpa e ilimitada. um sonho ainda muito distante de um motor que funcione continuamente, e não requeira energia externa, ou seja, apenas com a energia autocura interna...”