Wohin gehst du?
- Onde vai?
Carl Herberger parou no meio do vestíbulo, pasta de documentos na mão, sobretudo dobrado no braço esquerdo. Quem lhe fazia a pergunta era um homem magro vestido de preto, que acabara de entrar: Magnus Wellmann, cunhado de Herberger, um janota de roupas bem cortadas, exibindo a familiaridade de quem almoçava com a irmã favorita pelo menos duas vezes por semana - para desgosto do dono da casa.
- Como assim, "onde vai"? Onde imagina que eu esteja indo, Magnus? - Indagou, cenho franzido.
- Para o hospital, suponho - Magnus fez uma careta. - Mas não ia almoçar comigo e Magdalena hoje?
Herberger respirou fundo, pensando se deveria dar satisfações ao sujeito. Contudo, Magnus era o irmão caçula de sua esposa, e desde que a mãe de ambos morrera num acidente aéreo, haviam se tornado ainda mais próximos. Preferiu não antagonizar o cunhado.
- Arno Bergen, lembra que falei dele?
- O diretor administrativo? - Magnus era bom em lembrar de nomes, algo essencial no seu novo trabalho.
Herberger fez um gesto de cabeça.
- Esse mesmo. Me ligou para marcar uma reunião com os donos do hospital... alguma coisa a ver com a nova legislação que restringe o trabalho de judeus.
- Ah, sim... - subitamente, Magnus passou de alerta a relaxado. - Eu deveria ter imaginado. Por isso não vai almoçar em casa?
- A reunião é às 14 h. Ganho tempo se almoçar lá - Herberger esperava não ter soado excessivamente na defensiva, ou aliviado por não ter que dividir a mesa com o cunhado.
Magnus sacudiu negativamente a cabeça.
- Não hoje. Hoje não; se sair agora, vai se atrasar.
Dissera aquilo com tamanha propriedade que Herberger teve certeza de que ele sabia do que estava falando.
- Por quê? - Atreveu-se a perguntar.
- Assuntos internos do Reich - declarou Magnus em tom misterioso. E diante da expressão de perplexidade de Herberger, esboçou um sorriso.
- Posso contar pra você. Afinal, casou com a minha irmã, não é mesmo?
Herberger apenas balançou a cabeça, sem dizer palavra.
- Hoje, pontualmente às 12 h, a polícia vai dar uma grande batida em todos os veículos em circulação... em toda a Alemanha.
- O que estão procurando? - Questionou Herberger, aturdido.
Magnus fez um gesto de mão, como que espantando algo ruim.
- Oh, você sabe, o de sempre. Propaganda subversiva, armas e, quem sabe, prender alguns comunistas que possam ainda estar em atividade.
- Compreendo - assentiu simplesmente Herberger.
Diante dele, a figura de Magnus em seu vestíbulo parecia ter se tornado maior, uma ameaçadora aranha negra que construía teias de fuligem e fumaça.
- Portanto, de nada vai adiantar sair agora - prosseguiu Magnus, animando-se e pegando o cunhado pelo braço. - Venha, vamos dar o prazer de nossa companhia conjunta para Magdalena!
Herberger deixou-se conduzir docilmente. Jamais poderia imaginar que justamente o cunhado, um figurão do Partido Nazista, o fosse livrar de problemas com a polícia.
Precisava queimar imediatamente os folhetos de propaganda anti-nazista que levava na pasta de documentos...
- [23-05-2022]