HISTÓRIAS SOBRE FANTASMAS (Textos já publicados)

O FANTASMA DO PRIMEIRO ANDAR

A casa era antiga mas estava bem conservada e a placa de “vende-se” estava sendo retirada. Pedro foi quem se encarregou disso, tendo o seu pai de lado e uma irmã pequena. Compraram o imóvel onde passariam a residir, já que o Sr. Félix havia se aposentado e investido suas economias nesse novo lar. Pedro ocupou um quarto no primeiro andar, já os pais e a irmã pequena preferiram ficar no andar de baixo por ser mais confortável.

À noite, após o jantar, Pedro encontrava-se no jardim quando notou alguém no seu quarto, vislumbrando uma imagem através da cortina da janela. Correu para ver de quem se tratava, já que todos estavam no terraço. Entrou no quarto, vistoriou e não encontrou ninguém. As coisas estavam todas em seus lugares, o que causou uma confusão em sua mente. Teria sido imaginação? Deixou pra lá mas ficou impressionado com o fato. Mas tarde, quando se preparava para pegar no sono, escutou passos no quarto, o que fez ele pensar que era alguém da família. Desceu e constatou que todos já estavam recolhidos. Ficou intrigado mas deitou-se, deixando a porta do quarto aberta. Não conseguia dormir, o sono não chegava, até que uma imagem de menina apareceu na porta assustando-o. Não era a sua irmã. Assustado, gritou acordando os pais. Foi dormir junto com a irmã no quarto dela.

No dia seguinte, durante o café da manhã, o assunto não foi outro senão a aparição da menina. Como eram estranhos no lugar procuraram informações com os vizinhos. Foram cientificados de que naquela casa morou uma família por vários anos e que uma garota de 13 anos fora estuprada e morta. Essa garota havia se recusado a abandonar a casa quando os pais pretendiam viajar. Trancara-se no quarto de onde não saía, recebendo as refeições por uma janelinha que dava para o corredor e esse era justamente o quarto que Pedro ocupava. Os pais decidiram viajar deixando uma governanta olhando a menina enquanto eles estivessem fora. Dias depois souberam que a governanta desaparecera e que a menina fora encontrada morta no quarto, além de ter sido estuprada. Disseram que ela era sempre vista na janela do quarto, o qual não pretendia abandonar.

Todas as noites Pedro era acordado com barulhos estranhos e sempre presenciando o fantasma da menina que pedia para que deixasse o seu quarto. Pedro desocupou o quarto e passou a dormir num dos quartos do andar térreo. À noite ele sempre via a menina na janela do primeiro andar que o agradecia e prometia que não mais o importunaria. A convivência com o fantasma dela no andar de cima tornou-se natural, mas os donos do imóvel já falaram em deixar o lugar.

(Publicado em 17/08/2012)

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O FANTASMA DO POÇO

Trinta e dois anos se passaram depois que deixamos o sítio onde morávamos, eu, meus pais e uma irmã, além de uma empregada que nos servia há anos. Era uma vida pacata, sobrevivíamos com o que era plantado, pois o salário do meu pai como funcionário de uma usina de açúcar era muito pequeno e mal dava para as despesas. Joana, a empregada, recebia uma pequena mesada por mês, já que meu pai se compadeceu de sua situação como rejeitada da família e a convidou para morar conosco, pelo menos ajudaria minha mãe nas tarefas domésticas.

O tempo ali no sítio parecia parado, como criança eu pouco tinha o que fazer, além de frequentar uma escolinha nas redondezas junto com minha irmã no horário da manhã e à tarde passava o tempo brincando no largo terreiro na frente da enorme casa de estilo antigo, herança da minha avó materna. Além das tarefas domésticas Joana gostava de bordar, atividade que ensinou para minha mãe. Meu pai saía cedo para a usina e voltava no final da tarde, sempre trazendo um pouco de açúcar para o nosso consumo.

Certo dia encontrei Joana meio chorosa, o que preocupou minha mãe, porém o motivo nunca foi descoberto. Uns dois dias depois Joana sumiu misteriosamente, o que nos deixou bastante preocupados. Nunca mais soubemos notícias dela e sua família pouco se interessou pelo assunto. Com o passar dos anos começaram a surgir boatos de vizinhos de que uma mulher era vista nas proximidades de um poço que existia no quintal de nossa casa. Carregava uma criança nos braços e sempre desaparecia na escuridão. “Me tirem daqui!” era a frase que sempre repetia, o que assustava as pessoas que se recusaram a pegar água no poço depois que anoitecia. Esse poço servia aos nossos vizinhos e era uma água de boa qualidade, perdendo esse sabor depois que esse fato passou a ocorrer em nossa propriedade.

Algum tempo depois os vizinhos dos lados, amedrontados com as aparições, resolveram se mudar e nós ficamos praticamente isolados, já que os outros vizinhos ficavam a uma certa distância e isso estava preocupando minha mãe. Já meu pai aparentava uma calma que me deixava pensativo, achava eu que ele era um homem destemido, não tinha medo de assombração. Com o passar dos dias ele veio a adoecer repentinamente, não podendo mais trabalhar, o que dificultou muito a nossa situação financeira. Meses depois ele veio a falecer, o que nos deixou numa situação bem pior. Minha mãe decidiu vender o imóvel e nos mudamos para outra cidade onde tínhamos parentes e que recebemos total apoio.

Depois de tantos anos resolvi voltar ao local movido tanto pela beleza ali existente como para saber se o fantasma ainda assustava as pessoas. De fato, os comentários eram os mesmos e isso me intrigava bastante, eu faria tudo para desvendar esse mistério, saber o que realmente havia acontecido e o porquê do sumiço de Joana. Será que ela tem alguma coisa a ver com isso? Será ela o fantasma que assusta o povo daquele lugar tão pacato e agora abandonado se encontra? Procurei investigar e depois de vários contatos com pessoas que residiam na localidade e conheciam a nossa família, ninguém soube me informar nada, dar alguma pista que me levasse a solucionar esse problema. Eu já ia me retirando do sítio depois de cansativas investigações, sem êxito algum, quando um senhor idoso aparentando uns 80 anos, sentado em uma pedra, me chamou e indagou o que eu queria. Depois de algumas explicações minhas ele me prometeu contar a verdade sobre esses fatos no sítio. Trabalharam juntos na usina e estavam sempre papeando a respeito de assuntos diversos, conhecia todo mundo daquele encantador lugar. Disse ele que meu pai havia se engraçado de Joana, na época uma mulher formosa, que veio a engravidar dele e como não queria assumir o filho, orientou-a a cometer aborto, o que foi negado por ela. Não querendo que esse assunto chegasse aos ouvidos da esposa resolvera eliminar Joana, jogando-a no poço amarrada a uma pedra. Nunca mais ela fora vista e foi dada como desaparecida. Esse fantasma que as pessoas veem próximo ao poço é Joana pedindo para tirarem seus ossos de lá, concluindo que a frase “Me tirem daqui!” é com relação a isso, disse ele.

No dia seguinte, por solicitação minha, foi feita uma busca minuciosa no fundo do poço e um esqueleto lá se encontrava, preso a um cabo pelo pescoço. Estava então desvendado o mistério do sumiço de Joana e o motivo de sua morte. Meu pai adoecera talvez por conta desse crime, não suportando a angústia, culminando com o falecimento.

Nunca mais surgiram comentários a respeito do fantasma do poço e a tranquilidade voltou ao lugar.

(Publicado em 02/09/2012)

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O TREM FANTASMA

Alana acordou bem cedinho, teria que viajar para o interior do estado, onde trataria de assunto relacionado a um novo emprego. Estava bastante alegre com essa viagem, pois poderia mudar totalmente o rumo de sua vida. Fez um café rápido, fritou um ovo e comeu com pão e bolachas. Olhou o relógio na parede da cozinha, marcava cinco horas em ponto, o que fez ela se apressar, pegando a bolsa que arrumara na noite anterior e dirigindo-se para a estação ferroviária que ficava a uma quadra de sua casa. Ainda estava escuro, o que a impressionou, pois geralmente a essa hora o sol já dar sinais de sua claridade apesar de não aparecer. Alana seguiu pela rua deserta, não se via uma viv’alma pelo caminho, o que a deixou um pouco temerosa. Chegou na estação e aguardou a chegada do trem, embarcando exatamente às cinco e quinze, por pouco não perdendo a viagem, ainda estranhando o dia não ter amanhecido.

Tomou seu lugar no vagão e olhou pela janela através do vidro um pouco embaçado. Lá fora percebeu que algumas pessoas de branco que pareciam acenar para ela, mas não reagiu, apenas observou curiosa. Antes essas pessoas não estavam na estação e nem tão pouco desceram do trem, que já seguia viagem. Alguns minutos depois Alana notou que estava sozinha naquele vagão e não lembrava se quando entrou existiam pessoas ali. Não se preocupou, afinal o trem já desenvolvia uma certa velocidade e dentro de poucas horas chegaria ao seu destino. Pegou um livro na bolsa e começou a ler para se distrair um pouco já que a viagem era longa, olhando sempre pela janela para ver se o dia amanhecera e nada. De repente as luzes do vagão se apagaram e Alana sentiu medo, estava sozinha e não tinha a quem pedir ajuda caso precisasse. Ouviu vozes e nesse momento a energia foi restabelecida. Ela assustou-se ao ver pessoas no vagão, todas conversando, todas de branco e por incrível que pareça as mesmas pessoas que vira na estação fora do trem, o que a deixou surpresa. Seu coração bateu forte, sentiu-se só apesar de estar em meio a várias pessoas, todas alegres e conversando animadamente. Olhou pela janela e viu que permanecia escuro. Consultou o relógio, já eram quase sete horas da manhã e se perguntou por que o sol ainda não saíra. Quem poderia lhe dar a resposta? Ninguém, pois o vagão estava novamente só com a sua presença. Cadê as pessoas? Para onde foram? Levantou-se, reunindo forças e coragem, percorrendo os outros vagões e percebendo que também estavam vazios. Teve vontade de gritar, de chorar, mas se não existia ninguém ali quem iria lhe socorrer? Nesse momento o trem parou e as luzes se apagaram, deixando Alana confusa. Consegiu vencer o medo e se preparou para desembarcar, percebendo que finalmente o dia amanhecia. A porta de saída estava trancada e mesmo com todo esforço não conseguia abrí-la. Bateu insistentemente, gritou e fechou os olhos, mas nada acontecia. Enfim ouviu uma voz que lhe pedia calma e o som de um despertador estridente que a fez despertar de um sonho indesejável. Deu graças a Deus quando se deu conta de que era apenas um sonho. Olhou o despertador na cabeceira de sua cama que marcava cinco horas e o dia já estava quase amanhecendo. Lembrou-se da viagem que faria ao interior do estado onde iria tratar do seu novo emprego. Sua mãe estava ao seu lado acalmando-a.

(Publicado em 14/01/2013)

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O FANTASMA DE RUTH

Marcelo despertou ainda sem entender o que havia acontecido, estava em uma cama de hospital, bastante machucado e todo enfaixado. Vislumbrou algumas pessoas no quarto, mas não conseguia reagir, fazer algum movimento, apenas se limitava a olhar e aos poucos foi lembrando de tudo.

Seguia por uma rodovia em seu carro, ao lado de Ruth, sua namorada, quando um pneu estourou, fazendo o mesmo ficar sem controle e capotar, indo parar numa vala. Foi só o que conseguiu lembrar. Queria saber de Ruth, onde estava, mas não conseguia falar, nem sequer se mover. Ouvia perfeitamente o que falavam e ouviu o médico e familiares comentarem que ele dirigia sozinho no momento do acidente, reagindo mentalmente: “Não! Não! Eu estava com a Ruth, onde está ela?” Marcelo ficou tão preocupado que perdeu novamente os sentidos, despertando horas depois. Os familiares ali estavam e para sua surpresa ali estava Ruth também, que o fitava com admiração. Respirou aliviado apesar de perceber que ela não conversava com ninguém. Aos poucos foi sumindo, o que deixou Marcelo sem nada entender. Como não tinha reação motora limitou-se apenas a verter algumas lágrimas, sensibilizando todos que ali estavam.

Alguns dias se passaram e Marcelo continuava no mesmo estado, sem conseguir um contato com a família, apesar de ouvir toda a conversa. Tentava a todo custo mover pelo menos um dedo, o que era inútil. Ruth, sua namorada, estava sempre ali e lhe transmitia mentalmente uma mensagem que o deixava confuso. Queria tocá-la, abraçá-la, mas era impossível, mesmo ela se aproximando dele. Ele implorou que não queria deixá-la, que queria sentir o seu corpo, poder beijá-la. Certo dia quando o acompanhante do paciente dormia, Ruth se aproximou de Marcelo e o abraçou durante alguns minutos, fazendo-o sentir uma sensação estranha. Nesse momento tudo escureceu e ele se sentiu como se estivesse flutuando. Se viu então em um local que logo reconheceu e ao seu lado Ruth, que o abraçava. Agora sentia o seu corpo, podia ter um contato verbal com ela, percebendo que não estava mais enfaixado, fora daquela cama de hospital. Estava no local do acidente e ouviu de Ruth o que realmente havia acontecido com ela. Com o impacto do acidente ela foi projetada para fora do veículo, vindo a falecer minutos depois, tendo o seu corpo sido encontrado dias depois devido ao terreno ser bastante acidentado. No hospital foi confirmada a morte de Marcelo.

(Publicado em 01/08/2013)

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O FANTASMA DO PORÃO

Cacilda sentou-se na frente de casa e ficou a pensar, queria distrair-se um pouco e esquecer a briga com o namorado, que ficara no porão de sua casa arrumando os livros que ela jogara para cima e espalhara pelo local impregnado de cacarecos e poeira. Desde que o pai falecera, há cerca de seis meses, que não entrara nesse canto da enorme casa que deixara para ela e a mãe, já com seus setenta anos. Justamente nesse dia quando o complicado namorado veio vê-la resolveu descer até o porão, a pedido dele, iniciando então uma discussão que resultou no ocorrido já mencionado. A velha genitora dificilmente se metia em suas confusões, seu namorado Gerson até que era bom rapaz, apesar de explosivo, ela que provocava. Tinha induzido a mãe a vender o imóvel antigo e comprarem uma casa menor na cidade, mas não foi atendida, gostava dali, lembrava o marido, mas prometera pensar a respeito.

O tempo passou e Gerson não subiu para importuná-la ou reclamar por ter espalhado os seus luvros. Cacilda ficou curiosa e desceu ao porão para se ver com ele ainda de cara amarrada. Espantou-se por não tê-lo encontrado ali, imaginou ele ter saído sem ter lhe dado atenção, estava chateado com certeza.

A noite chegou, Cacilda jantou junto com a mãe e após isso decidiu procurar o namorado em sua casa, que ficava no centro, usando uma velha lambreta que foi do seu pai. Lá não o encontrou e a mãe dele estava aflita, queria saber do filho.

Passaram-se alguns dias e Cacilda não teve notícias de Gerson nem teve mais coragem de entrar no porão. Até havia pensado em fazer uma faxina com ele naquele local que só cheirava a poeira e jogar fora alguns objetos que de nada serviam. Decidiu ir naquele momento, havia almoçado fazia cerca de uma hora, nada melhor do que disparecer e fazer alguma coisa útil e não pensar mais no namorado, afinal ele sumiu sem dar notícias. Desceu os degraus de madeira e ganhou aquele aposento que precisava de uma limpeza geral e teve náuseas quando sentiu um forte odor de carniça. Atrás de um móvel antigo estava o corpo do namorado em adiantado estado de decomposição. Gritou assustada ao ver que uma barra de ferro esmigalhara a cabeça dele e o sangue grosso borrara todo o piso, já completamente duro.

Cacilda saiu presa de sua própria casa por policiais que concluíram ser ela a causadora da morte do rapaz, apesar de suas negativas foi encaminhada para a prisão, já que ficou esclarecido que brigavam muito e que outra hipótese para o crime não existia. A mãe dela tomou a iniciativa de mandar fazer a faxina geral no porão e pôs placa de venda no imóvel.

O primeiro comprador chegou, queria avaliar o imóvel e ao descer ao porão ouviu uma voz que dizia:

- Ela não me matou, foi um acidente. Eu quero vê-la.

Assustado o pretenso comprador afastou-se rapidamente e saiu em busca de outra casa que não fosse assombrada. Isso se repetiu com outras pessoas interessadas na compra, que sempre desistiam da aquisição.

Anos se passaram e Cacilda foi libertada por bom comportamento, foi um alívio para sua mãe que vivia muito só, tinha ajuda de uma senhora que vinha de vez em quando para as tarefas domésticas. Foi a oportunidade de ir até o porão, pois ouvira falar que Gerson em espírito queria vê-la e que não a culpava pelo ocorrido. Desceu a escada e viu um ambiente bem diferente do que deixara, bem limpo e arrumado, lamentou ela mesma não ter feito isso. Súbito ouviu um suspiro e em seguida a voz dele que dizia:

- Enfim você veio. Sei que não é a culpada pela minha morte, foi um acidente. Aquela maldita barra de ferro caiu sobre mim quando tentei me esconder para surpreendê-la.

Cacilda caiu em prantos, além de assustar-se com a "visita" do namorado. Quiz gritar mas a voz não saiu, tinha vontade de sorrir, mas de nada adiantaria, na verdade ele não estava alí, apenas seu espírito lhe falava. Sentiu um grande desgosto por ter brigado com ele por coisas bobas, sentiu-se culpada de certa forma pela sua morte, sentiu horror de si própria. Uma imagem surgiu na sua frente, era ele, Gerson, que correu para abraçá-la. Mas esse abraço físico não poderia se concretizar e ao correr ao seu encontro tropeçou e caiu. Bateu com a cabeça numa quina pontiaguda e viu o sangue jorrar em abundância.

Novamente a força policial alí adentrou para remover o cadáver da moça a pedido da mãe que ouvira os gritos. Com o passar dos dias as investigações concluíram que a morte do rapaz fora acidental, mas ela não mais alí estava para ser beneficiada pela justiça.

(Publicado em 13/02/2019)

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EU... UM FANTASMA

Eu me senti estranho naquela noite enluarada quando voltava de um baile, estava sozinho, tinha ingerido bebida alcoólica e caminhava a passos lentos como se não tivesse pressa de voltar para casa. Olhei o relógio, passava de uma da madrugada, instintivamente me escondi atrás de uma parede de um imóvel antigo e às escuras. Senti um impulso de assustar alguém, mas naquela hora com a rua deserta era impossível satisfazer essa minha estranha vontade. Fiquei ali parado no aguardo de uma viv'alma para que pudesse concretizar o meu intento. Alguns minutos se passaram e para meu consolo um transeunte apontou no início da rua, abri um sorriso de satisfação e comecei a caminhar em direção a ele. Não pronunciei uma única palavra, apenas parei na frente do homem que não parecia estar com medo. Fiz gestos de tentar agarrá-lo, emiti um som esquisito usando todas as forças das minhas cordas vocais, porém nada fez com que ele se apavorasse. Não acreditei! Será que não me viu com toda aquela barulheira que fiz? O sujeito continuou seu trajeto como se nada tivesse acontecido enquanto eu fiquei com cara de tacho. Perdi a vontade de assustar quem quer que fosse, segui direto para casa enquanto a pessoa que eu esperava assustar dobrou numa esquina.

Chegando em casa procurei as chaves no bolso e não encontrei, mas quando dei fé já estava no interior dela sem precisar abrir a porta. Meu único recurso foi deitar e curtir a cachaça que devo ter tomado além da conta.

(Publicado em 17/02/2020)

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O BAILE FANTASMA

Nelma desligou o telefone aparentemente nervosa, a noite já se aproximava e ela já se preparava para um bom banho, trocaria de roupa e aguardaria a chegada do namorado para irem a um baile de formatura de uma amiga sua que aconteceria em um badalado clube da cidade. Após o banho ela sentou-se no sofá da sala e perdeu-se em pensamentos, estava intrigada com a argumentação de Fred quando lhe disse que talvez não fosse ao baile, mas prometeu que logo após o jantar estaria com ela para conversarem e decidir se iria ou não a essa festa tão esperada.

A noite caiu rápido e Nelma nem se apressou em jantar, preferiu esperar o namorado para saber na realidade o que ele pretendia. Esse baile era imperdível para ela, fizera mil planos com as amigas para se divertirem até o amanhecer, nada a impediria de ir. Quase deitada no sofá viu através da janela a lua se esconder atrás de uma nuvem escura, estranhamente seus olhos brilharam e ela sorriu como se aquilo fosse um motivo de satisfação.

Enfim chegou seu namorado, elegantemente vestido tirou-a do sofá, ela que já estava dentro de um chic vestido longo na cor vermelha esbanjando um belo sorriso levantou-se e o acompanhou até o carro. Olhou discretamente para o relógio de parede que existia na sala, eram pouco mais de 22:00 h. e a essa hora a festa já estaria acontecendo. Preocupada pediu que Fred acelerasse para que chegassem logo ao clube. Não demorou muito e lá estavam, apresentou os convites na entrada e se dirigiram ao salão que estava totalmente às escuras, o que a deixou surpresa. Imaginou ser a hora da valsa, pensou também que já pudesse ser meia-noite e a dança teria início, lamentando ter chegado atrasada.

Uma nuvem branca de fumaça, daquela que vemos em shows de cantores, surgiu na frente de Nelma, ela procurou Fred e não encontrou, há poucos minutos segurava a mão dele e agora se via sozinha. A fumaça foi se dissipando aos poucos e ela pôde vislumbrar no salão figuras esquisitas em evoluções que em nada se assemelhavam a qualquer tipo de dança, muito menos uma valsa. No local destinado a orquestra ela viu esqueletos que encenavam um ritual fantasmagórico, uma música desconhecida era entoada e no salão criaturas em forma de zumbis começavam a dançar, aos pares seguiam o ritmo da música nada agradável aos seus ouvidos. Procurou insistentemente pelo namorado, em vão buscou em todo o local achar Fred, nada dele. Seu ombro foi tocado por u'a mão fria e um grito histérico saiu de sua garganta. Aqueles convidados ora dançando ali não passavam de fantasmas, alguns com trajes esfarrapados, outros bem vestidos, porém lembrando vampiros com seus ternos pretos. Novamente um grito histérico fugiu de sua garganta, momento em que Nelma se viu em seu sofá sendo acordada pelo namorado que acabara de chegar.

(Publicado em 31/03/2020)

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O FANTASMA DE DORA

Há quem diga ter visto Dora passeando pelo Parque Treze de Maio, como gostava de fazer, principalmente nas noites enluaradas, de braços dados com seu namorado Arthur. Morava com a mãe em um sobrado antigo na Rua da União, caminhava um pouco até chegar a esse espaço de lazer. Era seu passatempo para se sentir mais a vontade com o seu amado. Ele vinha de Olinda para o Recife só para cortejá-la, d. Lídia, a mãe dela, não ia muito com a cara do rapaz. Somente nas quartas, sábados e domingos ele estava autorizado a visitá-la, subia as escadas indo até o terceiro andar e ficava no sofá junto a janela, dava para apreciar a cidade e os prédios em construção. Recife era uma cidade linda, dizia ele para Dora, quando casarmos vamos morar aqui. Sua futura sogra não tirava os olhos dos dois, os beijos eram furtivos, razão da moça muitas vezes simular uma visita a uma amiga no andar de baixo para poder ver Arthur nas noites não autorizadas pela mãe, combinava com ele e se encontravam no parque, foram muitas essas noites para alegria de Dora.

Certo dia a moça adoeceu e foi socorrida por uma ambulância e levada para o Hospital de Pronto Socorro, ali nas proximidades. A menina não resistiu a dor e acabou falecendo na sala de cirurgia. Arthur quando soube quase enlouqueceu, como não se dava bem com d. Lídia aquele lugar para ele morreu também. Religiosamente ele freqüentava o Parque Treze de Maio onde imaginava estar ali a sua amada. Ali passeava como se estivesse ao lado de Dora. Quem o via por ali afirmava que Dora estava ao seu lado.

(Publicado em 27/03/2021)

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 17/05/2022
Código do texto: T7518410
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