Onírico desejo
E aquela gargalhada sinistra ecoou novamente, paralisando-a de medo, um medo jamais sentido. Bia estava perdida, sentia-se perdida, longe de todos a quem amava. Ali, naquele momento, queria correr, mas suas pernas estavam imóveis, incapazes de um simples movimento.
A velha bruxa se aproximava; já era possível ver sua silhueta através da névoa. Agora, mais perto ainda, com aquele olhar maquiavélico, de uma crueldade impossível de descrever. Bia queria gritar, desesperadamente gritar por socorro, mas seu grito estava entalado em sua garganta. Não havia o que fazer; estava perdida!
Outra coisa lhe afligia também; era sua incapacidade de lutar, de opor resistência. Tinha sido assim durante toda sua vida!
Tão perto, tão perto, quase sendo tocada...
De repente, uma voz ecoa no ar, sem que Bia ao menos consiga saber de onde estava vindo. Uma voz grave, penetrante, capaz de causar mais medo ainda, se assim possível fosse. Ela vê a bruxa retroceder alguns passos, meio que perdida, como quando somos pegos em alguma situação comprometedora. Agora ela vê temor no rosto da bruxa. Consegue definir medo, mas respeito também. Estupefata observa a bruxa se curvar diante de um homem alto, magro, vestido como um nobre de tempos imemoriais. Ele aponta o caminho para a bruxa; ordena que ela se vá, e a bruxa assim o faz.
...
Livre! Ela estava livre? O homem se aproxima, rápido, mas com graciosidade; mais como se levitasse ao invés de andar.
Bia encontra-se agora diante de seu salvador! Será? Os olhos dele são negros, penetrantes. Ela continua paralisada, mas seu medo se mescla a um desejo, uma vontade de ser subjugada. Não consegue se mexer, suas pernas insistem em ficar ali imóveis, trementes. Seu terror agora não é o de ser morta, mas sim de ser possuída, subjugada por seus desejos oníricos.
Por um instante, Bia consegue, em sussurros, perguntar o nome dele, enquanto ele se achega ao seu pescoço, num beijo suave, fazendo com que seu sangue ferva, pulsante em suas veias. Então, ela sente a mordida, que longe de lhe causar dor, lhe enche de desejo e entrega.
Bia não obtém respostas, mas já não precisa delas.