O segredo da vovó
Minha vó mora sozinha a mais de 15 anos e é bem difícil ela sair de casa. As vezes, saio da aula e vou visitá-la pois a escola onde estudo fica bem próximo a sua casa.
Desde quando meu avô foi assassinado brutalmente, ela não sai muito, daí sempre estou indo lá lhe fazer companhia, mas algo tira minha paz quando chego em sua casa. Não sei explicar muito bem, mas não me sinto à vontade em seu quarto.
Minha vó contava uma história sobre Lucy, uma velha amiga de infância que sempre esteve com ela na juventude. Mas o estranho é que nunca vi foto alguma da minha vó com essa sua amiga.
Perguntava da minha mãe e ela sempre mudava de assunto, nunca me respondia e sempre colocava outra conversa.
As vezes, chegava em sua casa e ela estava conversando com alguém em seu quarto, mas quando entrava ela estava sozinha, e sempre disfarçava. Não me importava muito porque sempre achei que fosse falta do meu avô. Até esses dias.
Cheguei em sua casa e ela estava conversando com alguém novamente, mas dessa vez, eu ouvi a voz de outra pessoa. Era uma voz rouca, feminina, e parecia que só sussurrava. E no meio da conversa eu ouvi minha vó dizer "Lucy".
Entrei em seu quarto e novamente não tinha ninguém. Vi a porta do armário se mexer. Ela me olhou, me abraçou e me chamou para tomar café na varanda.
Não consegui esquecer aquilo. Não a indaguei, mas percebi algo que sempre passava despercebido aos meus olhos. Na porta do seu armário, sempre havia um prato com um pedaço de carne. Porque não me atentei a isso?
Dormi com ela uma noite para poder entender tudo isso. A pior ideia da minha vida.
Depois que nos deitamos, algumas horas depois, minha vó se levantou e foi até a cozinha. Vi a porta do armário se abrir levemente. Não contive meu medo e me cobri com o lençol achando que seria o melhor lugar para se esconder.
Ouvi minha vó entrando novamente no quarto. Tirei o cobertor e a vi colocando um prato com carne crua em frente ao seu armário. Então, foi quando a vi se rastejando lentamente para fora do armário. Uma criatura humanoide, magra e grotesca. Com uma cavidade escura no lugar dos olhos. Saiu caminhando como um animal. Não consegui me mexer. Fiquei aterrorizada bastante para poder fazer algo ou ter alguma reação. Então, minha vó olhou para mim e disse:
- Essa é Lucy filha, minha melhor amiga de infância. Cuido dela desde criança, e agora, preciso que você faça isso por mim.
Eu não falava nada, apenas ficava olhando aquela coisa rasgando o pedaço de carne sem expressão em seu rosto. Minha vó continuou:
- Pedi para o seu avô cuidar dela para mim, mas ele nunca aceitou. Então, Lucy teve que matá-lo. Se ela não for cuidada, ela irá matar todos nós.
Ela me dizia com um sorriso assustador em seu rosto. Tive que aceitar e não dizer nada para meus pais, se não, Lucy os mataria também.
Já se faz 3 anos que minha vó faleceu, e todos os dias tenho que vir aqui, em sua casa, colocar um prato de carne crua na porta do armário, pois Lucy tem fome. Todos os dias. E não sei por que, mas estou começando a gostar dela.