O "PIMPOLHO"

O "PIMPOLHO"

Próxima da capital, a cidadezinha tinha todos os equipamentos de lazer para manter os jovens locais felizes... pelo menos os que podiam pagar por diversão. A "Blue Star", misto de padaria e lanchonete chique, lotada naquele fim de tarde, os dois irmãos se deliciando com o que de melhor o comércio oferecia. Pouco depois um carro de polícia se aproxima, pára em frente à loja e 2 "gladiadores" vão direto a mesa deles.

-- "Vocês são os irmãos Benjamim" ?

A pergunta era tola, nasceram ali e só andavam juntos pela cidade inteira, feito "Cosme e Damião", dupla de PMs de farda marrom no Rio dos anos 50... mas os militares eram novos na região, de pouco sabiam. Confirmaram reticentes, balançando as cabeças.

-- "Nos acompanhem, vocês estão sendo acusados de vender drogas neste local" !

Protestaram em vão... saíram quase arrastados, perguntando aos PMs quem fizera a tal denúncia. Por acaso o carro-patrulha passava em frente ao melhor hotel da cidade, o motorista diminuíu a velocidade e apontou um sujeito todo de branco, de costas, parecia médico. Não reconheceram a figura. Na Delegacia, o delegado espantou-se, conhecia os rapazes desde crianças e também seus pais. Em todo o caso, que fossem revistados e à bola de um deles. Nada foi encontrado... findaram liberados, com pedidos de desculpa.

Aquilo não ficava assim... dirigiram-se ao Hotel e tentaram na portaria identificar o hóspede, cujo rosto nem tinham visto. A recepção recusou-se a informar, não davam detalhes sobre seus clientes. Fizeram "campana", postando-se por horas na esquina, á pequena distãncia do "Belvedere", o Hotel. Deram sorte, o "pai-de-santo" -- doutor é que não seria -- saiu acompanhado do "Rei do Bicho" local e de um "figurão" de filmes de mafiosos que trazia escrito na testa o título de "traficante colombiano". Se tivessem dúvidas, a dupla "de homens de preto" (óculos e terno dessa cor) atrás dos chefes as eliminaria. (Epa!) Reconheceram o "doutor": era a "desgraça" mais impertinente dos seus tempos de colégio, o convencido, mimado e metido "Pimpolho", quase um gênio, um "CDF" que tirava 9 em todas as matérias, quando não 10 !

Estava metido em algo grande, êle jamais hesitava "em levar vantagem em tudo". E agora, o que fariam ? "Dar o troco" no patife ! Voltaram à delegacia na manhã seguinte, mas o delegado não estava mais, seu novo plantão seria só 3 dias depois. Foram de tarde à casa dele... se queria uma rápida promoção, devia "dar uma prensa" no traste que os acusara, "aquilo" nunca prestou. O "delega" não se convenceu, o bicheiro era poderoso. Dias depois o "rei do Bicho" viajou com o "figurão" mal-encarado. Era "a deixa"... "grampearam" o "Pimpolho" !

-- "Se não tem acusação nem mandado, não podem me deter... quero meu advogado" !

O delegado não gostava que lhe "ensinassem" o serviço:

-- "Acusação tem, só me faltam as provas... colaboração com o tráfico de entorpecentes. Quer mais" ?!

O rapaz empalideceu, ficou mudo por instantes, depois pigarreou:

-- "Isto é um absurdo, de onde saiu esta sandice" ?!

-- "Para revistar não é necessário mandado, é rotina da polícia. Revistem esse "peixe" !

Surgiu um bocado de dinheiro graúdo, 2 celulares caríssimos, relógio de pulso que filmava e uma cadernetinha manuscrita com várias sequências de letras misteriosas. Epa ! Caderninhos "com escrita em código" acendem sinal de alerta no "desconfiômetro" da Polícia.

-- "São apenas anotações pessoais, "camuflo" para evitar curiosos. O senhor não pode confiscá-la, não sou suspeito de coisa alguma" !, acrescentou, apavorado.

O delegado concordou mas, por via das dúvidas, xerocou duas páginas contíguas do livreto, as mais cheias de caracteres. Eram números de telefone, claro, grupos de 9 letras, além de algumas anotações estranhas. Levaria "séculos" para saber os números reais por trás delas, isso com um perito nessa matéria... e a Polícia não tinha nenhum. Naquela tarde os jovens irmãos voltaram a ser abordados na "Blue Star" pelo carro-patrulha:

-- "Essa, não, vocês de novo ?! O que fizemos agora" ?, protestou um deles.

-- "O "delega" precisa da ajuda de vocês" !

Chegaram ressabiados, podia ser uma armadilha. Não era... apresentou-lhes a cópia da caderneta:

-- "Podem me dizer o que significa isso" ?!

Olharam a cópia "xerox", se olharam e riram... "o Código da Cruzeta"!, exclamaram juntos.

-- "Aprendemos na escola, o "Pimpolho" nos ensinou, tinha um primo que servira nos anos 70 e o conhecera no Quartel. É bem simples, a parte dos números não muda -- esse grupos de 9 letras aqui -- porém os NOMES à esquerda vão dar trabalho. Sabemos a base-mestra do código, mas quem o usa o faz "por substituição", isto é, a LETRA REAL está 1 ou 2 letras "atrás" da que foi anotada. Na escola o "Pimpolho" nos passava "COLA" assim... cobrando, é claro, o miserável era craque em todas as matérias e nunca fez nada de graça. Ainda que a professora interceptasse o papelzinho, jamais desconfiaria que eram as respostas corretas ás questões da prova" !

Desvendaram ao acaso 3 grupos de números, para os quais o delegado ligou, usando celular comum com "chip" virgem, novo. Levou 3 sustos seguidos:

-- "Residência do doutor Luís Augusto... quem deseja falar" ?

-- "Aqui é o doutor Everardo Rocha... qual é o assunto" ?

-- "Casa do "Pedrão do Corujão"... êle viajou, quer deixar recado" ?

-- "Que merda... só "figurão" !, "explodiu" o chefe e destruíu o chip recém-usado, após tirá-lo do celular barato.

-- "Desculpe, foi engano" !, repetiu êle para o juiz da cidade, para o advogado mais famoso dali e o dono do Bloco carnavalesco mais frequentado do lugar. Gente "de peso", com as quais seria melhor nem mexer. "Pedrão" era também o "bicheiro" que viram sair do hotel com o "Pimpolho". Para seguir adiante e instaurar um processo o delegado precisaria interrogar oficialmente o rapazola arrogante. Solicitou ao juiz Luís Augusto permissão para que fosse "quebrado o sigilo telefônico" do "Pimpolho". Autorização negada por falta "de prova consistente", de objetivo definido, de indícios concretos de alguma relevância. Ponto final !

Dias depois o delegado recebeu comunicado de transferência para "São Judas da Caixa-Prego", onde nem bandidos havia, tal a pobreza do lugarejo. "Pimpolho" amanheceu amarrado na cruz da praça em frente a Matriz, com uma adaga enterrada no peito, o terno branco tingido de carmim e o "bicheiro" "Pedrão" voltou a ser... "bicheiro", perdeu o posto de "chefão do crime" na cidade e agora está sem grana para sustentar o Bloco. Tudo indica que irá perder a presidência dele ! Os irmãos andam temerosos pelas ruas, a vida perdeu muito da graça. Felizmente, com a saída do delegado, não ficaram testemunhas de que foram êles que decifraram o código da caderneta, aliás, bastante simples.

"NATO" AZEVEDO (em 10/fev. 2022, 21hs)

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OBS: para quem queira iniciar em escritas secretas, esse é um bom começo ! Faz-se dois quadrados divididos em 5 faixas horizontais e verticais, totalizando 5 x 5 quadrinhos, preenchidos com as 25 letras do nosso alfabeto, exceto o Y, que corresponde ao ZERO, na parte dos números. Esta figura tem em si 2 quadrados e 2 "cruzes" internas. Para as letras, se preenche no formato de losango ("estrela"), a partir do quadradinho central da primeira fila ou linha, indo depois para a cruz menor (no centro) e "saindo" para os 4 cantos das linhas externas.

Já para os NÚMEROS, inicia-se na cruz menor (do 1 ao 4), vai-se para as 4 pontas da "cruz maior" (do 5 ao 8) e fecha-se no quadradinho central, com o número 9. o 'Y" representa o ZERO (não entra na figura) e , MINÚSCULO, também "preenche" palavras da futura mensagem que tenham menos de 5 caracteres, pois o código usa "grupos" de 5 letras, para palavras da mensagem. Abaixo, resumindo, o "miolo" do QUADRADO e a letra de cada NÚMERO.

linha 1: M - Q - A - R - N

linha 2: X - H - -I - B - S

linha 3: G - L - Z - J - C

linha 4: W - F - K - D - T

linha 5: P - V- -E - U - O

números: Y=0; 1=I; 2=J; 3=K;

4=L; 5=A; 6=C; 7=E; 8=G; 9=Z.

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Como exemplo "20 LIMÕES" ficaria assim:

"JYZBQ WUMyy" ou então "JYJSA QOLyy"