SOMBRAS NA JANELA

 

Há muito, Eduarda não se animava com nada. O abraço de uma menininha trouxera-lhe fé, alegria e a certeza de que, em breve, voltaria compartilhar momentos felizes ao lado dos pais.

De sozinha e desesperançada passou a ser uma garota encantada. Todas as tardes, ficava, na janela, à procura de um vulto familiar.

Eduarda gostava de escrever sobre seu dia a dia. Entre seus escritos, páginas molhadas por  lágrimas de dias ruins e páginas amassadas pela falta de inspirações.

Certo dia, uma sombra encobriu sua janela. Em instantes, seus pensamentos passaram por uma brusca mudança. Ela, outrora insegura, teve seu coração invadido por raios de esperança. Feliz, foi ao jardim.

Enquanto caminhava entre os canteiros, um trovão assustador trouxe-lhe a realidade e a fez correr em direção a casa. Tão logo, entrou; trancou-se no quarto, escondendo-se embaixo das cobertas.

Embora preocupada com as mudanças climáticas e o coração acelerado, viu-se confiante de que encontraria soluções para seus problemas e que, em breve, seus dias seriam ensolarados e repletos de boas energias.

O tocar a vida com otimismo, propiciou-lhe a ampliar o seu grupo de amizade. Entre os meninos, Ruan chamou-lhe a atenção.

Com o decorrer dos dias, o vínculo com o tal garoto, cada vez mais, fortaleceu-se. Eduarda deu-se conta que as sombras que a atormentavam, apagaram-se, repentinamente, com o despontar de uma luz  multicolorida brilhante, que, além de iluminar tudo a sua volta,  transpassou-lhe felicidade e muita esperança.

Eduarda fantasiava, em sua cabeça, diversas aventuras, possibilidades de escolhas, romances inimagináveis e, até passeios calmos pelo parque. Seu diário estava recheado de histórias que, infelizmente, não viveu. Com frequência, perguntava-se se sua vida, algum dia, seria tão emocionante quanto seu diário encantado.

A garota começou a sair mais e mais vezes com Ruan. Foram até a um parque, passeio com o qual ela tanto sonhava. À medida que os dias passavam, sentia-se mais confiante em tê-lo ao seu lado.

Dias depois, ao retornarem ao local, chamou-lhes a atenção um pato branco, brincando no lago. Em alguns momentos, acreditaram que sairia da água e iria a suas direções. Cansados de aguardá-lo, sentaram-se a sombra de uma árvore para fazerem um lanche.

Conversa vai, conversam vem, distraíram-se. Quando Ruan pegou o pote dos sanduíches, uma surpresa, estava vazio. Perplexo, viraram-se a procura do raptor, lentamente, afastava-se o pato branco, ainda levando um sanduíche no pico.