A caixinha de lembranças
Pedro amava Júlia, de um jeito arrebatador. Desde que se conheceram nasceu uma conexão forte e única. Bem como almas gêmeas onde um completa o outro. Uma química tão intensa que dava até gosto de ver. Tanto que com seis meses de namoro resolveram morar juntos.
Tudo estava indo muito bem, conseguiram alugar um belo apartamento e o decoraram do jeito que queriam, mas depois de um tempo algo começou a acontecer. Júlia havia levado consigo uma caixinha lilás, com uma letra " M " estampada em cima junto ao desenho de uma borboleta e que estava trancada com um cadeado.
- O que tanto você esconde nesta caixa, Júlia? - Perguntou Pedro.
- Não é da sua conta! - Respondeu Júlia, de um jeito meio rude.
Por conta disso gerou uma certa desconfiança por parte de Pedro, já que Júlia relutava em revelar o que de fato tinha naquela caixa. A partir daí começaram a surgir várias brigas entre eles. Pedro começou a achar que Júlia estava escondendo algo muito grave dele.
- O que será que Júlia tanto esconde? - Indagou Pedro consigo mesmo.
Numa certa manhã, Pedro estava sozinho na sala do apartamento deles organizando sua estante de livros quando se deparou com uma menina de aproximadamente cinco anos parada no meio da sala olhando para ele. Quando Pedro pensou em dizer algo, a menina saiu correndo em direção a porta principal do apartamento. Rapidamente Pedro foi atrás da garotinha que já havia desaparecido. Então Pedro resolveu ir para fora do apartamento checar para onde teria ido a tal menina e percebeu que a porta estava trancada.
- Será que estou vendo coisas? - Pensou Pedro, um pouco assustado.
Pedro balançou a cabeça e continuou o que estava fazendo, só que um pouco cismado. Mais tarde enquanto se arrumava para tomar banho, sentiu como se alguém estivesse atrás dele. Ele se virou e não viu ninguém. Quando foi em direção ao banheiro viu um vulto passar rapidamente pelo corredor, Pedro correu imediatamente para ver quem era, mas não havia ninguém naquele apartamento além dele. Então Pedro deu de ombros e foi tomar banho. Quando finalizou o banho, Pedro começou a ouvir passos e risada de crianças brincando.
- É você, Júlia? Você já chegou? - Perguntou Pedro, cismado.
Mas ninguém o respondeu. Apenas um silêncio assustador tomou conta daquele apartamento.
Quando Júlia finalmente chegou, Pedro relatou tudo o que havia acontecido no período em que ela esteve fora.
- Acho que você anda trabalhando demais! Está cansado. Está precisando tirar umas férias. - Aconselhou Júlia.
- É, você tem razão. Ando trabalhando demais, até nas férias! Amanhã irei falar com o reitor da faculdade para ver se tiro uns dias de licença. - Disse Pedro.
- Faça isso mesmo. Vai ser melhor para você. - Concordou Júlia.
No dia seguinte após voltar da faculdade aonde trabalhava como professor, Pedro estava parado em frente ao elevador do prédio aonde morava esperando o mesmo chegar ao térreo. Assim que as portas do elevador se abriram, Pedro se deparou com aquela mesma garotinha do dia anterior parada ali no meio do elevador. Quando Pedro deu um impulso para entrar no elevador, as porta de fecharam repentinamente e ele ficou apertando o botão insistentemente e nada do elevador abrir. Apenas alguns instantes depois as portas voltaram a se abrir, mas a menina já não estava mais lá. Sem entender nada, Pedro pediu ao zelador do prédio para ver as câmeras de segurança. Ao olharem as imagens, apenas Pedro aparecia.
- Não é possível seu José. Eu vi uma menina naquele elevador! - Disse Pedro, indignado.
- Será que o senhor não está vendo assombração? Muitos moradores já relataram coisas parecidas. - Opinou seu José.
- Eu não acredito nessas coisas, seu José. Eu sou cético. Mesmo assim obrigado. - Respondeu Pedro, que logo foi para seu apartamento.
A noite quando ele e a esposa dormiam, Pedro acordou com um perfume de rosas e uma luz forte que iluminava todo o quarto. Quando Pedro se virou em direção da esposa, se deparou com aquela mesma garotinha que havia visto nos últimos dois dias acariciando os cabelos de Júlia.
- Afinal, quem é você? Como você entrou aqui? - Perguntou Pedro, irritado.
- Por que você anda brigando e pressionando a minha mãe? Não basta tudo o que ela passou e o quão difícil foi conviver com a minha morte? - Disse aquela garotinha de um modo brusco.
- Como assim você é filha da Júlia que morreu? E quer dizer que você não pertence mais a este mundo? - Indagou Pedro, desconfiado.
- Isso mesmo! Foi alguns anos atrás antes de vocês se conhecerem. Eu tinha por volta de uns cinco anos quando fui acamada por uma doença. Foi tudo muito rápido. Eu já sabia que iria partir, mas para a minha mãe foi um golpe muito duro. - Respondeu aquela menininha.
- E por que a Júlia nunca me contou? - Perguntou Pedro.
- Por que isso é muito difícil para a minha mãe. Aquela caixinha que tanto você queria saber contém coisas que eram minhas. Desde fotos, brinquedos, alguns vestidinhos e lacinhos até minha certidão de nascimento e óbito. E se quiser ver a senha do cadeado é a data do meu aniversário: 19/07/2010. - Respondeu aquela garotinha.
Então Pedro pegou aquela caixa que estava em cima do guarda-roupa e tão logo pôs a senha que aquela menina havia lhe dito que, para seu espanto, a caixa se abriu. A primeira coisa que viu foi uma foto de uma garotinha que logo a reconheceu.
- Meu Deus! É aquela garotinha! - Disse Pedro, espantado.
Enquanto via outras coisas que tinha naquela caixa, ele percebeu que alguém se aproximava.
- O que pensa que está fazendo? - Perguntou Júlia, nervosa.
Gaguejando, Pedro tentou se explicar:
- Júlia, me desculpa! É que eu queria saber o que tinha nessa caixa.
- Essas coisas pertenceram a minha filha Melina. Tive uma filha bem antes de nos conhecermos, mas que faleceu aos cinco anos vítima de meningite. Me desculpa por não ter te contado antes, mas isso é torturante para mim. - Disse Júlia.
- Eu quem te peço desculpas, meu amor. E eu sinto muito, muito mesmo de coração. - Disse Pedro.
E Julia, aos prantos, prosseguiu:
- Perder um filho é como se o chão se abrisse e você caísse num abismo sem fim. É como se alguém arrancasse seu coração e dissesse que você não precisa mais dele. É como se sua alma partisse, sua essência morresse e apenas seu corpo continuasse a existir.
Neste instante, Pedro abraçou fortemente Júlia, secou suas lágrimas e a beijou.
- Eu sempre te apoiarei. Sempre estarei aqui para o que der e vier. E daqui para frente as coisas serão diferentes. - Jurou Pedro a Julia.
- Eu te amo! - Completou Pedro.
- Eu também te amo! - Disse Júlia.
Fim.