A Matinta - PARTE FINAL
O sol chegava iluminando a vila e deixando para trás o ocorrido da noite passada. Os caboclos saem em suas canoas como de costume, Dona Deuzarina abre um lençol no varal e vê Dona Antônia passando e dá com a mão um tchau. — Tô indo, já lá também… — Falando para Antonia.
Antonia chega na casa de dona Noronha. A casa com as portas abertas; ela entra sorrateiramente e percebe que não tem ninguém, olha algumas coisas, abre umas caixas de papelão, as gavetas da penteadeira, um guarda-roupa velho, quando se depara com uma sacola plástica, abre e se depara com vários maços de tabaco, ela despeja os tabacos da sacola no assoalho, e no meio vê o que ela deu, para Matinta. O que estava enrolado na folha de jornal. — Então é tu a Matinta. — Fala para si mesma.
Abruptamente, manquejando e sangrando em uma das pernas. — O que tu estás fazendo na minha casa? — Dona Noronha fala olhando para os maços de tabaco caídos no chão.
No lado de fora Dona Deuzarina vai chegando na casa de dona Noronha quando percebe algo e vê dona Noronha em pé na porta falando com alguém, olha para o chão é ver algumas gotas de sangue, apura o olhar e percebe que Dona Noronha sangra em uma das pernas. Deuzarina volta por onde veio rapidamente.
Dona Noronha vai se aproximando de Antônia. — Vou te mostrar com quantos paus se faz uma canoa. — Olhando fixamente nos olhos de Antônia começa a fazer uma oração não audível vai se aproximando dela aos poucos. Antônia, espantada, vê crescendo as unhas, os braços se alongando, ela se instalando como se os ossos estivessem se quebrando, e emitindo sons estranhos. — Se afasta se não. — Fala Antônia direcionando o facão. Noronha quase demudada chegar perto de Antônia. A mesma surpreende com um golpe de facão, Noronha aperta o pulso da mão que está com o facão, não suportando a dor Antônia deixa cair o mesmo, ainda reluta, mas suas forças não são nada perto da força da Matinta.
A Matinta vai abrindo a boca chegando a deslocar o maxilar, quando uma fumaça negra sai da boca dela, que com suas mãos já transformadas pegar forçadamente e abre a boca de Antônia, onde a fumaça entra para dentro da mesma. Que cai desmaiada no chão. Ouve-se um tiro e a matinta cai ao chão e em seus últimos suspiros. Deuzarina se aproxima armada com a espingarda. — Eu errei o primeiro, mas o segundo não. — Aponta a arma na direção do rosto desfigurado de Noronha e dispara. O som ecoa na vila e os pássaros voam pelas copas das árvores assustados.
Ao anoitecer Antônia toma um pouco de caribé, deitada na rede. Deuzarina enxuga a testa de Antônia, que está suando muito e está pálida.
— Não se preocupe, logo a febre vai passar. Amanhã vou chamar seu Zé, para lhe benzer, com arruda. E tudo vai ficar bem. Eu fiz um chá de Eucalipto com casca de alho, não esquece de beber depois. Vou ter que ir. Tem certeza que não quer dormir em casa “Tônia”?
— Não, estou bem melhor. Vou dormir aqui mesmo.
— Então vou indo. Boa noite. – Deuzarina sai deixando encostada a porta. A madrugada chega e Antônia não consegue dormir, soa muito; levanta, vai até o pote, toma um pouco de água, se olha num pedaço de espelho e se espanta ao ver a imagem da Matinta.
As horas passam, Antônia começa a passar mal, cai no chão, vomita algo escuro e com larvas vivas. Sente dor no corpo todo e se retorcer de dores. Os braços dela começam a se alongar, as unhas crescem, ela rasga suas roupas que veste e em poucos minutos. Antônia se transforma na Matinta Pereira.
— Tabaco…
Um assobio forte espanta quase todos os ribeirinhos.
Deuzarina abre os olhos espantada.
— A Matinta voltou!
F i m