A Matinta - PARTE TRÊS
— É, minhas senhoras, nossos homens já fizeram busca em toda comunidade, vamos passar para o órgão competente, para que venha levantar os fatos. Estamos voltando para Belém, não encontramos nem um corpo; os três estão desaparecidos há mais de um mês. Quem sabe, foram embora!
— Mais seu “polícia” como vai ficar, “tomo” com medo, e se a Matinta voltar? — Indaga dona Noronha tomando um gole de café.
— Não se preocupem, esse negócio de Matinta é folclórico, entendem? São coisas inventadas; não existem!
O Cabo Silva se despede e sai com sua equipe de lancha. Dona Antônia fica calada de cabeça baixa. — Sabe de uma coisa, eu concordo com seu “Polícia”. — Fala dona Noronha Saindo da cozinha da dona Antônia.
A noite cai, uns caboclos ancoram suas canoas na ponte. Colocam alguns peixes na saca e seguem para suas casas como de costume.
A madrugada chega e todos dormem; quando um estrondoso assovio toma conta da comunidade, fazendo com que muitos despertem. Manoel se espanta, levanta da rede e logo atrás sua mulher. — Onde tu vais? — Indaga Tereza amarrando os longos cabelos. — Fique tranquila, não vou sair não. Só quero espiar pela brecha quem é essa tal Matinta. Manoel apaga a lamparina, se senta próximo da parede da frente da casa e olha numa brecha próximo a janela. Do lado de fora ele vê que está normal. — Vou descobrir quem é essa… — Sussurrando para si mesmo, quando diante de seus olhos. A Matinta vai passando lentamente. A mesma para diante da casa dele; olha na direção como se soubesse que estava sendo observada. Ele se afasta da brecha, respirando forte, volta a olhar novamente quando seu olho se encontra com o dela espiando para dentro da casa dele. — Tabaco.
Se levanta rapidamente, afastando-se da parede, tropeça em algo e cai fazendo barulho no assoalho. — O meu Deus, vem se deita homem. — Fala acendendo a lamparina. Quando vê seu marido tremendo de medo no chão.
— Apaga a lamparina mulher é a Matinta que está à nossa porta. — Manoel fala encolhido no chão de tanto medo.
— Tabaco. – Ouve-se a voz da Matinta.
— Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. — Tereza sentada na rede a começando a rezar toda arrepiada.
— Para sempre seja louvado…
— Faz alguma coisa homem de Deus…
— Eu não consigo, nem sair do chão…
— Mais tu que é o homem da casa!
— Aí Tereza acho que me caguei todo!
Ouve-se um tiro de espingarda ecoar na vila. No lado de fora Deuzarina com uma espingarda próximo da casa de Manoel. A Matinta vira-se na direção dela. — Tu levaste meu Raimundinho com toda certeza, fizeste muito mal nesta vila, agora chegou tua hora, sua velha corcunda. — Deuzarina aponta com a arma. Nisso alguns moradores próximo da casa começam a chegar.
— Podem se aproximar para ver o fim dessa Matinta.
— Valei-me, é a Matinta, não ela vem te buscar...
— Cala, a boca Dona Antônia.
Ninguém acreditava que estava diante da Matinta. Entre o comentário de um e de outro chega um menino gritando.
— A Matinta levou Dona Noronha, fui avisar e a casa está toda escancarada. — Diz o menino, acovardado, quando se depara com a matinta mais à frente.
— Vamos matar a Matinta. — Um caboclo grita no meio deles, assim repetido por muitos. Deuzarina aponta a espingarda quando a Matinta, pular para o outro lado e começa a correr para a mata, ouve o disparo que acertou uma das pernas da Matinta. A mesma grita monstruosamente e desaparece na mata.
Todos começam a comemorar, por ter posto a Matinta para correr. Quando eles voltam para suas casas, veem em pé na ponte uma mulher nua, eles aproximam-se numa distância segura. — É a Estela! — Alguém diz.
— Estela, tu estás viva mulher! — Diz dona Antônia surpresa. Atrás de Estela uma enorme cobra aparece e põem-se ao lado dela com a metade do corpo. Os ribeirinhos se assustam e retrocedem. Estela olha para direção da casa dela e ao voltar o olhar, montando na cobra grande, apoiada nas escamas da cabeça da mesma.
— Meu Deus, isso é coisa do diabo. — Alguém diz, quando contemplam com seus olhos a cobra ergue-se da ponte com Estela e imerge deixando o rio calmo novamente. Eles se olham sem falar nada por um tempo.
— Se Estela não é a Matinta então quem é? – Dona Antônia olhando para Deuzarina.