[um conto que não consegui formular um título]
Não foi a primeira vez. Nem a segunda. Mas a quarta ocasião. Ela não aguentou e iria enfim reclamar. Ele não era só bonito mas extremamente simpático com um sorriso humilde que a freou na terceira vez quando foi reclamar, quando entrou no restaurante e ele a avistou, imediatamente sorrindo ao cumprimentá-la, atravessar o sinal vermelho foi impossível. Ela fingiu que foi comprar um lanche ao fim. Mas agora não recuaria. Estava gastando mais do que era certo enquanto ele roubava dela e certamente que não era só com ela. O frango assado que ele preparava, elogiado pela vizinhança, às vezes vinha incompleto. Pior, sempre faltando as melhores partes do frango. Ela preparou o seu ataque e mais o contra-ataque diante do espelho, pois ele obviamente não ficaria calado enquanto era acusado e por outra pessoa muito mais nova. Ela só tinha 14 anos, enquanto ele 26, mas ela já sabia que diante de coisas erradas não devia se calar. Por um lado, ela se sentia frustrada, estava com uma vontade específica de comer o frango dourado daquele restaurante naquele fim de dia estressante de estudos. Enfim chegou na porta do restaurante, ainda sem clientes, fitando o cujo rapaz meio turvo mais adiante. Assim que a avistou, ele esboçou o seu belo sorriso. Sorriso esse que nos minutos a vir se trancaria numa expressão séria com uma respiração audível enquanto ouvia as reclamações trepidantemente ensaiadas da cuja adolescente. Desconcertadamente, ele tentou se desculpar. E pra surpresa da garota, ele a convidou para que descobrisse o por quê, para que o seguisse até a lateral de trás do restaurante. Ao acompanhá-lo, receosamente concentrada, enquanto ele segurava uma sacolinha, logo foi interrompida por miados distantes. O rapaz respondeu os chamando, e os miados se alarmaram mais, se aproximando, e revelando pelas laterais vários gatinhos de rua. Ele se abaixou, abriu a sacolinha, entreolhou a adolescente risonho e ela pôde avistar dentro a partes de frangos fritos. Ela se avulsionou, arrependida, envergonhada, enquanto ele despedaçava pedacinhos para os cujos felinos famintos avançando ao cheiro apetitoso. A adolescente se sentiu tão mal que quase chorou pedindo desculpas trepidantes, tentando ajudá-lo, mas o cujo rapaz apenas assentia, compreensivo, com o seu belo sorriso mais uma vez. Ela se sentiu tão culpada que antes que ele terminasse de alimentá-los, ela se saltou, e fingiu que devia voltar para casa, já correndo antes que o rapaz pudesse retrucá-la. Ele apenas a observou desaparecer. Com o seu belo sorriso fungando.
Na tarde seguinte, os lixeiros se depararam com um infortúnio inesperado num dia de trabalho sob tanto calor. Vários gatos mortos numa ruela já fedendo. Porém também não era a primeira vez que se deparavam com tal cena pelas redondezas. E seria até melhor se fosse só com animais, dias atrás se depararam com um mendigo morto ali perto, e mais outros em ruelas não muito longes. Aquele rapaz, na janela do andar acima do seu restaurante, os observava. Com o seu belo sorriso estampado. Ele estava ansioso para preparar o próximo frango que aquela garota eventualmente viria pedir, e como uma maneira de retratação. Aquela adolescente lhe remetia aos cães e gatos de rua que ele procurava às vezes pelas redondezas: frágil porém imponente num mundo grande. Lhe lembrava dos mendigos que já alimentou também. E como com eles, o rapaz salvaria para a cuja adolescente as melhores partes do frango.