Passeio no cemitério

Quem quando criança, nunca foi visitar com um grupo de amigos, o cemitério de sua cidade?

Então, quando menina, tinha uns nove anos de idade, e íamos aos bandos para o centro da cidade estudar, pois nossa escola estava passando por reforma e construção. Cada dia passávamos por um lugar diferente, a praça, os bancos, as lojas, os mercadinhos, a igreja matriz.

Aqui na nossa cidade tinha a famosa Casa dos Presentes do Senhor Jonas Teles, que ficava sempre todo engravatado em pontos estratégicos da loja, somente observando seus funcionários. Era uma das poucas lojas da cidade que tinha vitrines. Eu gostava das vitrines das roupas e sapatos e dos brinquedos. Quantas vezes íamos com os pais, ao centro da cidade e era nosso pedido favorito, passar na Casa dos Presentes para admirar as vitrines e sonhar, isso mesmo, sonhar com uma roupa nova, um sapato novo ou um brinquedo simples até um de última geração. O meu brinquedo favorito era a Susie que andava sozinha de bicicleta. E eu nunca tive este brinquedo. Era muito caro, e nem ousávamos pedir aos nossos pais. Chegava o Dia das Crianças ou o Natal, se ganhasse uma roupa, um sapato e um brinquedo, ou apenas uma coisa só, já era uma festa. Até esquecíamos os brinquedos caros, a não ser quando íamos para a vitrine da loja para admirar.

Nossa infância era muito feliz e quem não tem recordações lindas desta fase de descobertas?

Uma delas era ir ao cemitério da cidade, mas só íamos de bandos, pois morríamos de medo. Isso mesmo medo e ao mesmo tempo um misto de mistério e curiosidade. Num destes passeios sinistros, fomos ao cemitério. Chegando lá, passeávamos pelas ruas e entre os túmulos, líamos os nomes e as datas dos jazigos. Quando tinha um túmulo quebrado, ficávamos olhando pelas frestas para ver se tinha algo sinistro. Os meninos se escondiam atrás dos túmulos e saiam fazendo BUHHH e nos assustando e saíamos gritando e correndo, o que fazia com que o responsável pelo cemitério pedisse para que fossemos embora! A gente insistia um pouco, corria um pouco mais e depois, a hora da escola e precisávamos ir embora de lá.

Num desses passeios ao mundo dos mortos, chegando no cemitério, vimos o necrotério e alguém, que nem me lembro mais, lançou o desafio de quem entrava sozinho lá dentro e ficaria por um tempo.

Eu gritei, eu vou! Uma menina magrelinha, franzina, isso mesmo e sem medo! Ia botar até os meninos para trás! Há há há há há. E lá fui eu, passo a passo e sob os olhares esbugalhados dos coleguinhas! Entrei, uau! Estava um pouco escuro e logo escutei um brummmm! Fecharam a porta e me deixaram presa lá dentro, pois seguravam a maçaneta da porta.

Eu nem liguei, falei que nem estava com medo! O pessoal de fora perguntava o que tinha ali dentro. Dei um pulo e sentei numa bancada de cimento geladaaaaa. Fiquei dando risinhos, tipo nina nina nina, nem estou com medo!

De repente olho para o lado e vejo um enorme saco plástico, meu Deus! Tinha um cadáver lá. Fiquei muda, sem respirar . Resolvi olhar e era um homem, estava roxo com uma corda no pescoço e os olhos abertos! Eu gritei muitoooooooooooooooooooooooo. Não consegui falar nada para os amigos e ouvia os risos lá fora. Foi quando a porta abriu e o responsável pelo cemitério entrou, me puxou pela mão e gritou, vão embora daqui seus moleques, a menina poderia ter morrido de susto! Saímos todos correndo e lógico, aquele foi o assunto da tarde, da noite e de muitos dias nas nossas andanças pela cidade de Tatuí.

Sissili
Enviado por Sissili em 22/09/2021
Reeditado em 24/09/2021
Código do texto: T7348157
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