the N in Neighbors is for Nosy

De todas as preocupações sobre se mudar para Nova York, a de se afastar de pessoas era a última da lista de Ivonne, e nem mesmo se interessaria em conhecer a seus novos vizinhos. Ela imaginava se no seu primeiro dia no novo apartamento surgiria uma daquelas vizinhas enxeridas invadindo o seu espaço em troca de uma tigela de sobremesa para xeretar sobre ela – Rosemary’s Baby explana melhor. Mas não aconteceu. À noite ao invés de jantar algo para fabricar forças para a continuidade da arrumação na mudança, Ivonne apenas optou por um vinho enquanto analisava o que e como colocaria em cada espaço. Às exatas 23:45, até para a própria surpresa dela ao ver a hora corrida, a campainha enfim tocou. “É a maldita vizinha,” mas não. No lugar um rapaz. Esbelto, olhos de burca azuis, cabelos negros encaracolados. Segurava uma xícara. “Eu teria a sorte de você me dar um pouco de açúcar?”, e Ivonne obviamente não negou àqueles olhos brilhantes e a expressão ingênua. Na volta, ela o percebeu analisando as suas caixas desarrumadas. “Gostaria de alguma ajuda?” Embora Ivonne seja do tipo que não admite necessitar de ajuda, poderia usar um pouco de serviço braçal masculino. Ela não queria deixar a mudança mais bruta para o dia seguinte, e havia apenas um guarda-roupa e a cama de casal pra montar. Por fim, aceitou a retribuição pela xícara de açúcar. Dentro de uma hora, estavam terminando de montar a ambos, e tanto ele quanto Ivonne bebericavam do vinho. Andrew – o seu nome. Um belo nome para um belo rapaz. Ivonne sentia o vinho esquentar os seus sentidos enquanto prestava atenção no físico tonificado dele na roupa. Quando os seus olhos azulados a buscavam, ela sentia uma brisa morna se atiçar em seus pelinhos. Já passava de 01:30 quando Ivonne se deu conta de que havia compartilhado sobre a sua vida até então com ele mais do que já havia feito com qualquer um, e ele sobre a dele, talvez ela nunca conheceu tanto alguém antes. Partilhavam só um ano de diferença de idades e ambos eram estudantes – ele de administração e ela de medicina. Para a surpresa de Ivonne e inclusive pela maneira despercebida como aconteceu, combinaram de se encontrar no dia seguinte – ou mais tarde –, e assistir a algum filme com comidas pedidas. Estava marcado, e se despediram com doces selinhos trocados nas bochechas. “Se precisar de algo, qualquer coisa, corra na minha porta”, ele pediu a fitando e deixando quase enrubescida. E Ivonne, por fim, exausta, se aprontou para dormir risonhamente surpresa sobre como aquele dia havia sido. Naquela noite, ela sonhou com Andrew a observando ao pé da cama com aqueles olhos meigos, como se protegesse a seu sono. Ivonne acordou muito abatida, com dor além do habitual, sentia a seus músculos saltitando em câimbras como se tivesse feito esforço por dois. Após um rápido ovo mexido com um suco insalubre de caixinha, se pôs a rearrumar a mudança. Ela necessitava de um alicate, e embora não queria tão cedo, precisaria de Andrew. Subiu para o andar de cima até o apartamento de Andrew, tocou a campainha, e nada. Tocou novamente, esperou, e nada. Então tocou a campainha e bateu, e numa da batidas, a porta se destrancou. Receosa, a empurrou enquanto rangia. O apartamento estava em completo breu, e ela procurou pelo interruptor de luz. Ao acender, e ao avistar o inimaginável de se esperar, Ivonne se desembocou em gritos estridentes ao passo que as suas pernas liquidificaram os nervos e ela caiu ao chão jogada contra a parede. O corpo de Andrew estava pendurado enforcadamente pelo teto. A coloração do seu corpo começava a variar entre uma sobremesa de uva com outra camada de creme de leite que ela havia comido dias antes. Os seus olhos azuis escurecidamente esbugalhados. A roupa era a exata de horas atrás quando estavam juntos. E Ivonne gritava, e gritava mais, até que tudo se desligou nela retornando ao breu de antes do cujo apartamento. Ivonne acordou numa maca improvisada por socorristas. Estava tão exaurida que apenas conseguiu virar o seu pescoço para olhar turvamente em torno. Estava quase de frente à entrada do apartamento de Andrew, mas o seu corpo já havia sido retirado. Oficiais e um legista se circundavam como moscas curiosas. Olhou para o outro lado, e uma daquelas velhas xeretas tinha o olhar afiado sobre ela. “Pobrezinha... Isso é muito calamitoso... como algo assim pode acontecer?”, ela comentou com os olhos arregalados direcionados à outra colada. “Nem me fale... ele era um rapaz tão educado... ontem de tardinha mesmo ele tinha vindo me pedir uma xícara de açúcar...”, a outra retrucou com olhar murcho pousando uma mão na boca. Ivonne estremeceu nos seus nervos com os olhos arregalados mas o seu corpo não respondia externamente, ela estava além de exaurida agora também imobilizada por calmantes pesados nas veias. Olhou para o outro lado, e uma lágrima escorreu. “A causa da morte confirmada é suicídio por enforcamento; a perícia estipulou dentre 23:00 e 23:30 da noite passada”, um oficial disse à outro que escrevia numa prancheta. Lágrimas escorriam pelo rosto de Ivonne e saliva se sufocava em sua garganta entreaberta e suspirante. De repente, tudo se moldava mais claro do que aquela manhã muito mais calorosamente clara. Ela sozinha montando a sua própria cama e o guarda-roupa. Só uma taça de vinho. Mas a imagem de Andrew ante a sua porta e ao pé da sua cama lhe fitando com aqueles olhos gentis persistia. Ivonne não conseguia reproduzir internamente a mais processamento algum, e tão estridentemente claro quanto veio as cujas revelações, ela se desvaneceu desistente mais uma vez ao breu. E mais uma vez, Ivonne sonhou com Andrew a observando com os seus olhos azuis genuínos ao pé daquela maca.

LOHAM
Enviado por LOHAM em 05/09/2021
Reeditado em 08/09/2021
Código do texto: T7335886
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