Cadeia Alimentar Social
Quando se está à beira da ponte desempregada e sem renda, se aceita qualquer mão que ofereça um salário. Os ricos se alimentam dos pobres à medida que involuntariamente se necessita dos ricos pra ser alimentado com sobras, mas antes sobras do que nada. Holland estava a dois dias de ser despejado do loft com dois aluguéis atrasados. No penúltimo dia, ante ao desespero trêmulo enquanto folheava os classificados, Holland se deparou com uma mão estendida. “Precisa-se de motorista particular freelance. Disponível integralmente. Preferencialmente solteiro.” Holland, preenchendo os cujos requisitos, apanhou o telefone às pressas. Após um questionário formal e trocas de informações checadas, por fim conseguira apanhar a cuja chance. Ainda naquele dia, à noite, iniciaria o seu primeiro turno. Holland se arrumou ansiosamente adiantado, tomou um metrô e então um táxi rumo à uma das partes residenciais nobres da cidade. É impressionante a troca de ares assim que se cruza os portões dos ricos, a calmaria, a limpeza, a vegetação e até o ar a partir da entrada parece mais saudável. Ao chegar no endereço, Holland fitou atônito a vastidão milionária que seria a sua empregadora. Ao ser recebido por um dos empregados e tratado sobre como seria o trabalho naquele dia, Holland fora guiado até a grandiosa garagem na qual se prostrava quatro veículos milionários importados e, por fim, o carro reforçadamente seguro no qual Holland trabalharia. Apesar de toda quinquilharia chique, carros funcionam iguais, e não fora difícil a Holland já tendo experiência como motorista. Os patrões, um casal, sairiam naquela cuja noite a uma reunião íntima, e Holland analisou pelo vidro externo arrumando ao seu terno quando a madame abriu o elevador vinda de cima trajada por um justo vestido longo de cetim esverdeado acompanhada pelo o marido formalmente trajado como Holland mas com o quádruplo do preço. Pareciam felizes, e Holland sibilou um riso desgostoso ao pensar que, no lugar deles, ele também seria feliz. Adentraram na traseira, cumprimentaram-no formalmente, e o marido ordenou a Holland qual o endereço. Durante o percurso, era inevitável Holland não olhar de canto pelo retrovisor interno aos grandes brincos cintilantes que aquela mulher usava mais caros do que um ano do seu salário, e num dado flagra os seus olhares se encontraram junto ao do seu marido, e Holland sentiu leve arrepio daqueles olhares à finco frios nele. Holland sentia-se como um rato numa arapuca, e não entendia por quê, o ar travado naquele carro era pesadamente morno. O destino se aproximava, e Holland entrou numa área privada onde havia no horizonte uma residência tão grandiosa quanto a do cujo casal, mas maior, e mais iluminada, além de veículos a rodeando na entrada. Ao estacionar, Holland apenas sentiu um encosto de mão feminina em seu pescoço e uma leve picada, e ao fitar o retrovisor, se reencontrou ao olhar gélido daquela mulher, e a última coisa consciente a que Holland vira fora um sorriso se delineando nos lábios vermelhos da mesma.
Holland retornou seco arfando à consciência com todos os sentidos turvos. Descobriu-se deitado à algo duro e frio. Adentro de um vasto interior arquiteturalmente gregoriano enquanto via-se cercado nebulosamente por pessoas usando máscaras e do entoar ao fundo de algum cântico indistinguível. Ele tentava se debater, se erguer, mas o seu corpo a nada respondia. As máscaras se atencionavam a si, uma a uma, rodeando-no vagarosamente. Aquele cântico cessou-se restando apenas os cochichos dos seres por trás das cujas máscaras. E Holland pôde ouvir a passos distantes em sua direção, revelando-se ao rodeá-lo os seus patrões com máscaras mas reconhecidos pelo o vestido verde daquela mulher e ao terno caro daquele homem. Ambos seguravam a uma dupla de punhais grandes e reluzentes. A mulher deslizou a mão pelo o rosto arfante e suado nervosamente de Holland. Ele descobriu-se despido quando ela desceu a mão além do seu pescoço e a língua lascivava entre os lábios. O marido dela inspirou profundamente erguendo os braços, e Holland pôde distinguir quando o mesmo esbravejou, “Ave Satanas!”, que fora recebido repetidamente em alto tom pelos demais ao redor de Holland. A mulher de verde ergueu ao seu punhal brilhante, e Holland arfou com olhos tremulamente arregalados implorando por ajuda silenciosa pelas cordas vocais paralisadas, e apenas pôde sentir a uma picada entorpecida em sua carne na região abdominal quando ela o desferiu nele. E conseguinte, com mais força, o cujo homem desferiu a sua lâmina no mesmo alvo da mulher. Holland então viu aos demais em torno deslizando em suas mãos a punhais semelhantes. E ele soube, naquele momento, que sempre fora um rato preso numa armadilha social inescapável alimentando a avareza insaciável de patrões.