Laços de Sangue
27/08/2021
Prezado diário,
meu pai finalmente conseguirá levar o meu irmão mais velho para caçar com ele, hoje à noite, pela a primeira vez. E eu não me sinto nada bem quanto a isso. Tentei convencer a minha mãe e ao meu irmão de que isso é errado — matar — mas, pelas palavras de minha mãe, “uma tradição familiar é o que une uma família.” Meu irmão inicialmente se prostrou duvidoso quanto a ceder às vontades de meu pai, mas meu pai é um homem com um magnetismo que coage. Ele começou a atentar o meu irmão sobre como usar uma arma, e uma curiosidade incentivada lidera à outra. Pelo o que eu ouvi, o plano de meu pai é cercar a presa, atirar, mas apenas para atrasá-la o suficiente para então o meu irmão concluir o ato com as próprias mãos — palavras de meu próprio pai dirigidas à mim mais cedo enquanto me lembrava de que eu serei a próxima a acompanhá-lo na minha primeira vez. Meu pai sempre caçou sozinho, e não é a primeira vez que comeremos a uma caça do tipo, mas eu me sinto excepcionalmente mal pelo o meu irmão, e pela a certeza de que um dia breve eu estarei no seu lugar de hoje. Eu não me sinto bem, não me sinto certa, só anseio que isso passe logo.
28/08/2021 — manhã
Prezado diário,
eu acordei assustada com um arranque do motor da caminhonete de meu pai lá fora, já eram 02:53 da fria noite passada. Senti um fervor gélido subir pela a minha espinha, e desci aturtidamente tremendo pelas escadas. Deparei-me com o meu irmão trazendo arrastadamente a sua prodigiosa caça para dentro de casa, e o sangue da mesma marcando o seu último caminho pelo o piso. Encarei o meu irmão e havia sangue em seu rosto, em suas roupas, e não bastasse isso, seus olhos estavam arregaladamente soberbos e seus lábios risonhos. Meu pai orgulhosamente adentrou em seguida elogiando o meu irmão, à sucedida caça na qual o meu irmão agiu conforme às vontades de meu pai e realizou a tudo só, com suas próprias mãos. Minha mãe entreolhava a mim e a ambos, à deriva duvidosa de como reagir, se rendendo por fim a abraçar o meu irmão. Nossos olhares se fitaram e não enxerguei mais o meu inocente irmão nele, suas mãos no jaleco de minha mãe estavam manchadas.
28/08/2021 — noite
Prezado diário,
desci à cozinha, trepidante de coragem ou mesmo pura vontade, e encontrei a minha mãe preparando a carne da cuja caça. Minha mãe aprendeu a várias receitas com vários tipos de carnes. Ela já tinha preparado a uma torta no forno, pois o aroma no ar, embora me avulse, exalava um saboroso salgado de carne. Ela risonhou para mim, e me chamou brandamente até ela, para observá-la e aprender. Eu não sei como me sinto, ou como deveria me sentir. Mas os braços com farinha da minha mãe me envolvendo e selando com um beijo em minha testa me coage a me sentir no lugar. Eu irei me juntar logo mais à mesa, embora eu não concorde, é a minha família, e eu comerei a cuja caça que observei trêmula sangrar invívida, é o meu dever pelo o laço que me une ao meu irmão. Estou orgulhosa dele, contrariadamente.
29/08/2021
Prezado diário,
estávamos reunidos assistindo a televisão, e eu estava ansiosa, pois era a primeira vez que meus pais me permitiam assistir às notícias. O noticiário local entrou. Um habitante local desaparecido — um homem, robusto. Me avulsionei ao fitar a fotografia do mesmo e especificamente a uma tatuagem distinta cravada em seu braço direito... a mesma tatuagem do pedaço de carne ao qual deparei a minha mãe ontem preparando na cozinha, da caça invívida arrastada casa adentro. Fitei secamente trêmula o meu pai, a minha mãe, e o meu irmão. Nossos olhares só se fitaram e se avaliaram cúmplices do nosso segredo familiar. Fitei o olhar risonho do meu pai mirado em mim, e eu soube que, ali, a preparação para a minha futura vez de caçar havia se iniciado...