O voo do fim da vida - Parte 1

Alberto sobrevoava o Oceano Atlântico.

Estava presentes a completar 25 anos como piloto de uma grande empresa de viagens aéreas; decidiu se tornar piloto aos 16 anos de idade; porém, pelo passado pobre e miserável de sua família, só conseguiu ingressar nos estudos da viação muito tempo depois.

O passado com escassez e necessidades o fez um homem muito grato por tudo o que conquistou. Adotou a filosofia de nunca reclamar ou murmurar pelas situações adversas da vida; afinal de contas, tudo o que viveu na fase adulta, após os estudos, era um paraíso se comparado à sua infância.

Essa filosofia de vida tomou proporções ainda maiores. Alberto acabou por se tornar um homem pacato demais. Passou a aceitar as durezas da vida e se tornou um grande conformista. Isso afetou sua vida em todos os aspectos, principalmente a familiar.

Aos 59 anos de idade, com quase 25 anos de piloto, alcançou tudo o que queria: a carreira de sucesso na aviação, prestígio social, qualidade de vida e uma família. Sabia que sua idade, com o passar do tempo, dificultaria continuar na carreira de piloto, e a sua saúde já vinha dando sinais disso. Somente o velho Alberto sabia das dores que sentia, dos lapsos leves de memória que tinha e de outros problemas que já vinha escondendo por alguns anos.

Enquanto a carreira de sucesso na aviação estava comprometida, seu casamento subiu também pelo telhado. Maria já estava totalmente insatisfeita com os rumos do casamento.

Já fazia algum tempo que Alberto emendava uma viagem na outra. Às vezes, oferecia-se para trocar sua folga em datas especiais, como feriados, com outros colegas que queriam. Como piloto mais experiente da companhia, sempre tinha a preferência pelas melhores datas para folgar, mas já fazia alguns anos que passou a sabotar o próprio relacionamento. A ausência do marido, por determinado tempo, não afetou muito sua esposa, tirando a falta de atenção e carinho da parte dele. Maria passou a se ocupar com as joias e com o consumismo, com o intuito de compensar a ausência do marido.

Alberto não fazia por mal, mas já começava a achar a mulher muito menos amorosa e cuidadosa como antes. Aos poucos, aquela mulher simples com quem ele havia se casado um pouco antes de começar a carreira de piloto já não era mais a mesma. Sua preocupação não era mais ouvir o marido e cuidar das coisas dele, mas participar de reuniões, jantares luxuosos e outras atividades que dava visibilidade ao marido e, principalmente, à si mesma.

Se não bastasse o conflito com a esposa, seu filho único estava a milhares de quilômetros de distância. Optou por fazer intercâmbio em outro país e conseguiu um estágio de trabalho por lá. A frequência com que mandava mensagens ou fazia videochamadas havia sido reduzida drasticamente. Mesmo recebendo uma gorda mesada para se sustentar em uma grande metrópole estadunidense.

Apesar do prestígio no mundo da aviação e da ascensão social, Alberto já havia passado por situações desagradáveis que comprometeram sua qualidade de vida. A empresa, devido à crise financeira causada pela pandemia do novo coronavírus, realizou diversos cortes e reduziu o quadro de funcionários. Aos poucos, Alberto se deu conta de que havia menos pilotos do que antes e que alguns benefícios dos quais gostava foram cortados.

As milhas para viajar com a família e as bonificações de fim de ano também secaram. Foi o suficiente para perceber que, caso o setor turístico não tivesse sobrevida, poderia ser o próximo a ser cortado.

Com todo esses conflitos e preocupações, Alberto sobrevoava o Atlântico na noite de 15 de novembro de 2021. Mal sabia que os próximos acontecimentos e revelações selariam seu destino e de centenas de outras pessoas.

__

Acompanhe a parte 2 (continuação) em:

https://www.recantodasletras.com.br/contosdesuspense/7280329

CH Smith
Enviado por CH Smith em 16/06/2021
Reeditado em 16/06/2021
Código do texto: T7280286
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.