A cadeira balança
Para seu Alfeu os dias e as noites tornaram-se a mesma coisa e já não faziam mais sentido, após perder sua amada esposa, essa situação a cada dia tornava- mais e mais insustentável.
Os dias felizes naquele pequeno sito de três hectares haviam acabado, e ele se surpreendia de ainda estar vivo pois já não tinha vontade de viver neste mundo.
Já haviam se pasado quasse dois anos desde a morte de sua esposa e ele sentia-se sem forças para tocar o sítio, tudo lhe parecia difícil e distante e não sabia mais o que fazer.
Um dia estava ele sentado na sala quando pensou ouvir um ruído que vinha da sacada que ficava logo na saída da casa, ele sentiu algo estranho pois esse ruído parecia ser o mesmo que fazia a cadeira de balanço que sua esposa gostava tanto e onde ela sentava durante horas todos os dias.
No início sentia - se incrédulo, deviam ser coisas da sua cabeça, afinal ele também estava numa idade avançada, mesmo assim decidiu conferir com certo receio.
Chegando na área externa ficou inquieto sem saber muito o que pensar pois seu temor tornara-se realidade a cadeira realmente balançava sem motivo aparente da mesma forma como fazia quando sua amada esposa sentava nela.
Aquilo o deixou com uma mistura de confusão e medo, após algum tempo a cadeira parou sozinha e ele chegou a pensar que era algo sobrenatural porem seus princípios de atéu negavam tudo aquilo.
Depois do sucesso da cadeira as coisas pioraram, seu Alfeu escutava vozes e algumas veces tinha a impressão de estar sendo observado o tempo todo, então tomou uma decisão, depois de tanto tempo iria até a cidade, precisava sair ver gente , conversar.
Pegou sua camionete antiga e depois de muito tempo decidiu ir na cidade ver o único amigo que lhe restava e que nao via desde o funeral da sua esposa á quasse dois anos.
Decidiu viajar mesmo que já fosse tarde, e assim foi. A estrada tinha sido asfaltada á pouco tempo e o asfalto confundia-se com a escuridão da noite que o alcançara, e ainda tinha vários quilômetros adiante, uma névoa espessa tomou conta de tudo e seu Alfeu teve que ir mais devagar.
O contraste da noite com a névoa era estranho quasse assustador, como se estivesse entrando em outra dimensão, outro mundo, os pensamentos iam e vinham e ele sentia-se só como nunca tinha se sentido.
Após algumas horas seu Alfeu entrou na cidade, andou algumas quadras e parou em frente a uma casinha simples de duas águas, ja era tarde e sabia que seu Aristeu amigo de tantas horas e jornadas devia estar dormindo, bateu algumas vezes na porta até que abriram.
Seu amigo estranhou aquela visita pois lembrava que seu Alfeu muito poucas vezes tinha ido visitá-lo, e sempre era ele quem ia ver seu amigo, Alfeu entrou sentaram-se e começaram uma longa conversa.
Seu Alfeu explicou-lhe o quanto sofria a falta da esposa e que estava ouvindo vozes e objetos se mexiam sozinhos, a essa altura sentiu um arrepio,começou a se sentir estranho com a luz amarela da sala e barulhos que vinham do quarto e pareciam grunhidos.
E o pior de tudo, seu Aristeu parecia longe, estranho e as vezes ria de forma irônica ou debochada, estás atitudes ele nunca tinha visto no seu velho amigo, começou a sentir desconforto, quasse medo.
Precisava sair dali rapidamente, enquanto pensava nisso os olhos do amigo começaram a brilhar intensamente, em seguida Aristeu se levantou dizendo que precisava ir no quarto e já voltava, assim que o amigo entrou no quarto seu sangue quasse gelou pois jurou ter escutado alguém dizendo "não deixa ele sair" .
Seu Alfeu aproveitou a saída do amigo e fugiu dali rapidamente sem olhar para traz nem tentar entender o que acontecia...
Ele acordou, parecia ter dormido por muito tempo, tinha sonhado e tido pesadelos ao mesmo tempo, levantou angustiado e pensou que já era hora de seguir em frente e parar de sofrer pois sua esposa não voltaria
Levantou -se tomou seu café e saiu pra sacada espreguiçando- se e admirando aquela bela manhã, então olhou para o lado e seu corpo estremeceu, a cadeira balançava sozinha.