Cadeira elétrica
Colocaram ele numa cadeira elétrica. Seu fim todos sabiam qual era. Mas a plateia que o assistia desejava vê-lo mostrar arrependimento pelo que fez. Queriam ver seus olhos jorrarem lágrimas quentes ao se lembrar das milhares de mortes que causou. Mas nada parecia demonstrar que ele estava arrependido ou que se encaminhava para isso. Era como se ele tivesse acreditado em suas próprias mentiras e considerasse sua morte como um efeito colateral possível de acontecer. Nada mais grave que isso. Morreria no máximo como um mártir solitário de uma causa perdida. Mas a plateia que acompanhava aquele espetáculo mórbido não se contentava apenas com uma execução. A morte parecia ser dada a ele como um prêmio não merecido. Queriam ver seus olhos se abrirem espantados, numa epifania sobre suas ações e as consequências delas. Queriam ver a mudança de expressão como a do rico quando se viu atormentado e avistou Lázaro recostado num lugar melhor que o dele, e logo repensou suas ações em vida.
O relógio apontava três horas. Chegava o momento de executar a sentença. Sem demora, o carrasco mudou as alavancas de posição e acionou o dispositivo elétrico. O assassino recebeu toda a descarga em seu corpo. A plateia assistia aquilo olhando para seus olhos, apenas para seus olhos. Queriam ver se ainda naquele derradeiro momento, onde as ondas elétricas lhe causavam o inferno, achariam ali algum movimento que expressasse um desejo de voltar atrás, de fazer tudo diferente. Não durou muito tempo a execução. Logo, o assassino estava morto e era levado pelos funcionários para outro lugar. Os espectadores, inconformados, desejaram que eles estivessem naquela cadeira elétrica, pois assim, faria passar a dor da injustiça que eles estavam sentindo. Uma vida se foi para pagar a perda de milhares. Não parecia uma conta justa. Desejaram ir ao inferno para olhar novamente a expressão do assassino e saber se aquele lugar lhe causou alguma mudança. Qual seria o castigo que Dante escreveria sobre ele naquele lugar? Não poderiam imaginar.