Obsessão
O psicopata deve ser inteligente se quiser dar vazão à loucura sem ser pego. Embora no fundo pouco se importe, ou ainda, talvez apenas seu ego se importe...
Imaginava que a casa dela deveria estar um caos por dentro. Sondando-a, ouvira os sons que o estúpido marido fazia ao espancá-la.
E mesmo assim ela se negava firmemente a agarrar sua mão salvadora, a aceitar o amor que tão loucamente lhe dedicava.
E pior, percebia-se o asco, a ojeriza que seus lindos olhos acastanhados não faziam questão de esconder!
Dedicara seis longos meses de sua vida tentando convencê-la de seu amor. Para nada...
Ela preferia arriscar-se dando chance sobre chance ao brutamontes do marido.
__ Pois o prazo acabou! Ninguém me diz não e sobrevive muito após dizê-lo.
Seria tão fácil entrar. Portas e janelas previamente estouradas pela besta que escolhera por marido.
Gostaria de ter estômago para matá-la com o tipo de violência a que ela estava acostumada. Mas não! Repudiava a selvageria.
Enquanto apertava-lhe o pescoço devagar e fortemente, via seu olhar de espanto e terror.
Ela jamais imaginara que naquele dia, meses atrás, ao sorrir-lhe e agir tão gentilmente para com ele, selara a própria sorte.
Amava-a! Ou seria sua, ou deixaria de existir.
Ela era a culpada por sua obsessão!
Depois de checar tudo à volta, o corpo sem vida devidamente posicionado entre objetos caídos e louças quebradas pelo chão, saíra silenciosamente, a mente vasculhando a memória;
__ quem foi mesmo que escreveu "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"?
Através da noite escura, seguia pensativo atravessando o parque deserto, assobiando baixo.
Como se sentia bem! Sem a pressão dos últimos tempos, livre daquela obsessão.