A MISTERIOSA VILA 48 - SAGA E SANGUE
Isabelle está em choque, seus soluços brotam das imensas cachoeiras do amor materno que vertem do seu coração e banham as profundezas do abismo e do abandono. Sendo Aros, uma espécie de homem diferenciado, seu coração é a pura razão. Lá fora o vento açoita os arbustos, redemoinhos endiabrados içam para o alto retorcendo galhos e lançando folhas em todas as direções, demonstrando sua ira a querer se vingar do infame infortúnio. Em meio ás sombras e a escuridão do desfiladeiro, a velha carruagem se contorce pelos caminhos estreitos e pedregosos, suas surradas rodas de madeira entoam um lamento triste e clamam o peso do cortejo fúnebre. Aros, Isabelle e Asgard, são os guardiões da carga inerte da morte. Atrás deles ficou uma lacuna malígna, esta lacuna se chama Thana. Falsos são os gritos agonizantes e infantis, que ecoam entre os paredões das montanhas, ela sabe que comove o coração de Isabelle e suscita lembranças da infância e da criação.
Colocados lado a lado os corpos de Baldor e Natasa, serão levados para a Ilha de pedra em meio ao oceano, lá será o seu ocaso.
Natasha tem semblante angelical, seu lindo rosto embora demonstre ausência da vida, ainda é como uma flor vivificante em meio ao estéril deserto. Baldor, o belo jovem de altivez e presença, agora tem o rosto pálido, como uma figura de cera, mas mantém a expressão de confiança, talvez vivendo seu amor muito além do que conhecemos.
Asgard se dirige a Aros e afirma o cumprimento da missão que lhe fora dada.
- Senhor, irei cumprir as suas ordens, levarei o inferno e as chamas para aquele lugar, logo as malditas criaturas estarão extintas. - Prossegue. - Caso eu não chegue até o amanhecer, pode partir.
- Cuidado Asgard, suas qualidades de guerreiro são imbatíveis, mas o mal que habita ali não tem precedentes, é preciso todo cuidado. - Aros completa.
- Caso isso ocorra, voltarei para buscá-lo. - Asgard acena positivo, e desaparece entre o manguezal.
No Gaivota, o som das águas batendo repetidamente nos galhos dos arbustos mistura-se aos soluços de Isabelle como pontos e vírgulas. Naquela triste página escrita pelo terror e pela desesperança, Aros tem o semblante árido e dolorido...ódio e compaixão, misturam-se as torrentes do seu coração. A saga da sua vida é um desígnio da maldição. As horas passam, o dia começa a dar sinais do alvorecer, porém nenhum sinal de Asgard. Aros precisa se afastar de Faroé com brevidade, o manto negro da morte ronda aquela ilha, embora seja quase imortal e possa enfrentá-lo, à sua amada não fora concedido essa condição, afastá-la dali é imperioso.
No mar, apenas uma barra cinzenta no horizonte flerta com o dia. Então o velho Gaivota começa a singrar, impulsionado pela vela mestra que o faz deslizar em silêncio sobre as águas frias do norte, seu destino é a remota Ilha do Urso. Aros teme por Asgard, sua admiração por aquele guerreio advém da longa amizade e fidelidade do homem que ocupou o lugar do seu pai, ele o ama. Enquanto navega, observa o entorno distante dos picos do desfiladeiro, e percebe a aura funesta e maledicente daquele lugar maldito, seu temor por Asgard se acentua, a incerteza esgueira-se rasgando dolorosamente seu peito. O inconcebível as vezes é concebido.