A MISTERIOSA VILA 46 - ATRAÇÃO FATAL

Ao centro do imponente e misterioso túmulo, a estatueta de Aros, guarda sua entrada. O epitáfio sugere o grande mistério que ali ocorrera. De pé sobre a lápide, Thana cobre seu maravilhoso corpo apenas com um pequeno e transparente tecido de seda. O tom rosado da sua pele aveludada, contrasta com o granito negro, enquanto projeta sua imagem sobre a superfície polida e brilhante da lápide, como uma obra de arte. Tomado por uma força irresistível, Baldor sucumbe aos encantos da donzela. Em um gesto sensual ela lhe estende a mão, ele a segue para dentro da edificação de aspecto fantasmagórico. Aos primeiros passos, sua consciência o detém, ele olha diretamente nos lindos olhos verdes de Thana e diz:

- Preciso encontrar Natasa e o grande Aros. Ela responde com o sorriso da vileza, sem dizer uma palavra.

Antes de desaparecer na escuridão da tumba, Baldor olha pela última vez seu melhor amigo, seu alazão. Um sentimento de culpa se apossa do seu peito, deixá-lo ali naquele lugar sombrio? Será que o veria novamente? Essas perguntas brotaram do seu subconsciente. O animal demonstrava nervosismo através dos tremores em sua pele, as orelhas em riste pareciam lhe dizer algo. Por entre os galhos retorcidos e túmulos desordenados, olhos famintos e malignos babam observando o belo animal.

Naquele mesmo instante, longe dali ocorria outro encontro. Asgard faz visitas ocasionais ao velho cocheiro e ao porto onde mata a saudade dos velhos tempos de pescador. Ali, o Gaivota com suas cicatrizes dos encontros de outrora, permanece escondido entre os arbustos do manguezal na encosta. Já é fim de tarde quando ele desembarca da ruidosa carruagem em frente ao galpão do velho cocheiro. Sua estatura avantajada, seu rosto de feições duras quase marmorizadas chama atenção, mas um sorriso raro se apresenta para o ancião. O velho já não enxerga direito, os anos acumulados cobraram seu imposto, mas sua mente se mantém intacta. A voz de Asgard, soa grave e firme.

- Velho amigo! Há alguns dias não o vejo, estive muito ocupado, em breve teremos visitas importantes. Como estão as coisas?

O velho acena com a cabeça e diz.

- Asgard, é sempre uma alegria vê-lo. As coisas estão prestes a mudar, algo muito ruim está para acontecer. Asgard franze a sobrancelhas e indaga com certa preocupação.

- Me conte o que está pra acontecer velho, você esta doente?

O cocheiro suspira fundo e olha para o vazio e diz:

- Ah meu amigo, minha doença é a hipoteca dos anos que acumulo.

Em seguida faz uma pausa narrando toda a conversa que teve com o forasteiro Baldor. E avisa:

- Neste momento, ele deve estar na fortaleza a procura de Natasa e de Aros que afirmou ser seu avô. Eu não lhe disse nada a respeito, mas caso encontre com o demônio será seu fim.

Mesmo a fisionomia marmorizada de Asgard, demonstra expressão de preocupação imediata, ele sabe que Thana é um ser maligno e insaciável pelo sangue humano, desde sempre Aros o incumbiu pessoalmente de cuidar dela, para proteger os habitantes da vila. Ele sabe que não pode perder tempo, Baldor o possível neto de Aros está a mercê dos caprichos daquele demônio. Rapidamente ele se despede do velho, embarca na carruagem e some sob a poeira da estrada em direção ao desfiladeiro. A noite se aproxima e há poucas chances de encontrar o rapaz ainda com vida. Chegando a fortaleza, ele vai ao encontro de Aros e Isabelle. Eles estão no saguão principal em meio ao jantar. Sentada a mesa, Natasa acompanha os pais. Thana raramente adentra aos aposentos. Asgard não perde tempo, explica rapidamente o que está acontecendo. Aros ordena que ele corra imediatamente ao resgate de Baldor e o traga até sua presença, mas adverte que ele aja com previdência para preservar a vida de Thana. Isabelle está visivelmente nervosa e abatida, ela teme pelo que possa acontecer. O relato de Asgard faz o coração de Natasa congelar, desesperada ela abandona o salão e corre em direção ao cemitério. Isabelle ainda tenta demovê-la da idéia, mas Natasa desaparece nas trevas da escuridão. Aros tenta tranquilizá-la:

- Meu amor fique aqui, irei pessoalmente acompanhar o resgate, e controlarei Thana.

Asgard segue junto com um dos guardiões para a necrópole, já é noite, e a cegueira provocada pela escuridão, só não afeta os olhos prateados da criatura. Ao chegar a entrada do grande túmulo, Asgard encontra a cabeça do cavalo pendurada nos galhos secos, os olhos saltam das órbitas o sangue desapareceu como a água sobre a areia do deserto. Certamente obra das criaturas de estimação de Thana. O tempo urge, eles se dirigem ao interior do mausoléu. O salão mal iluminado pelos candelabros do teto, emanam uma luz fraca e amarelada, projetando sombras disformes nas paredes de pedra.

Asgard abre o sarcófago sobre o altar, em seu interior Baldor agoniza. Seus olhos estão injetados, sua face descolorida. O movimento de Thana revela-se nas sombras. Baldor é retirado do mortuário e colocado sobre a lápide. Subitamente uma voz feminina grita por socorro, Asgard saca o sabre e corre em direção ao vulto que se contorce entre as sombras. Thana aprisionou Natasa e a tornou sua refém, o guardião se antecipa e salta sobre elas, desfere uma punhalada com vigor no peito de Thana, mas ela é muito rápida e se desvencilha, o punhal atravessa a garganta de Natasa, um grito ruidoso ecoa no grande salão da morte. Natasa tomba pesadamente ao solo. Asgard incrédulo dos seus próprios olhos leva as mãos a cabeça num sinal de desespero. Ele sabe que assim como Isabelle, Natasa não tem o dom da imortalidade. Thana escapa entre as fendas de pedras sob gargalhadas funestas.