A MISTERIOSA VILA 45 - PRAZER E SANGUE
A paisagem deserta e desolada entre os paredões do desfiladeiro tem um aspecto devastador. Um jovem cavalga lentamente desviando dos espinheiros e das pontas afiadas das rochas que brotam do chão como estátuas que emergem das profundezas do solo. O piso irregular faz com que o cavalo tropece de vez em quando, o cavaleiro segura firme nas rédeas, ele sabe que o seu amigo está assustado. Em sua cabeça ecoam os conselhos do velho cocheiro com quem conversara antes de empreender esta busca, o sábio velho o desaconselhou a ir ao local e lhe alertou que ali aconteceram coisas terríveis, jovens haviam desaparecido. Os que se aventuraram em buscas de respostas naquele lugar, ficaram loucos e muitos cometeram suicídio, outros jamais voltaram.
De repente sua visão lhe mostra algo inquietante, uma silhueta feminina solitária agachada sobre um rochedo o observa atentamente. Aos poucos ele se aproxima, quando se detém atônito, a criatura é uma bela moça de olhos verdes, seu aspecto lhe parece familiar, mas seu olhar tem algo de enigmático. O cavalo relincha inquieto e tenta empinar, Baldor o controla sob pressão da bride, ao mesmo tempo que se pergunta agnóstico porque diabos uma donzela faz neste lugar sozinha. Então lhe pergunta.
- O que a senhorita faz sozinha neste lugar inóspito? Ela o encara com ar inquisidor e responde displicente.
- Porque acha que esse lugar é inóspito? Você parece perdido ou procura alguém? Então ele responde.
- Não estou perdido, estou a procura de uma jovem, seu nome é Natasa, me disseram que ela mora para essas bandas, você a conhece?
O olhar escrutinador da moça, vasculha demoradamente Baldor dos pés a cabeça.
- Sim, conheço posso leva-lo até ela.
Baldor jaz quase arrebatado pela beleza da donzela, mas algo de estranho rodeia sua mente que reluta contra seus sentimentos.
Então, ele a ajuda montar na garupa do cavalo e ela o abraça, ao mesmo tempo deixa seu corpo tocar com uma volúpia inquietante.
O conflito da excitação e desejo agora está sobre quatro patas. Guiado por ela, ele segue os sinuosos caminhos entre os lajedos do desfiladeiro. Adiante ele percebe movimentos ocultados pelos paredões, certamente algo os vigia, mas ela exibe um sorriso malicioso e lascivo.
Ao final da trilha eles chegam a uma entrada escurecida pelas sombras altas dos picos de rocha. Ele para e dá uma última olhada para aqueles retorcidos arbustos espinhentos, respira fundo e continua. Logo a frente ele encontra o grande portão de ferro negro, que parecia cortar a matéria mundana, ao atravessá-lo ele sentiu que estava submergindo ao reino da morte.
Aquilo lhe conferiu certo temor, mas ele continua e atravessa a grande necrópole. Logo acima no platô castigado pelo vento, surge uma cripta instalada entre as árvores que circundam o cemitério, parte do túmulo se perdia entre as sombras, o resto dele se perdia na escuridão das paredes do desfiladeiro. Ao se aproximar da lápide de granito algo lhe chama atenção.
Desce rapidamente do animal e se aproxima da catacumba com o epitáfio.
"Invencível é o amor, uma gota na vastidão do oceano encontrará seu caminho”. Abaixo da inscrição o nome Sir. AROS.
Arrepiado Baldor pergunta.
- Você conheceu Aros?
A moça sobe no granito acena com a cabeça positivamente. E afirma.
- Aros é meu pai.
Baldor sente um tremor sob sua pele, ele percebe que está em um caminho sem volta e sente o grande perigo que o cerca, as palavras do velho cocheiro ecoam em sua mente. Mas, está determinado e não desistira da sua busca. Um repentino redemoinho se materializa e espalha um cheiro de cravo que invade seus pulmões quase o sufocando, os galhos se retorcem freneticamente como se quisessem sair das árvores presas aquele lugar. Quando a poeira assenta juntamente com a precipitação das folhas, sua visão lhe descortina algo que o deixa completamente paralisado. A linda jovem está completamente nua sobre a lápide negra de granito. Algo avassalador inelutável acontecerá.