Festa de arromba

Festa de arromba (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

Feriado em dose dupla, pois o feriadão se estica na segunda-feira e terça-feira. É hora de descanso, de paz, de descontração e de resfolgar.

Um grupo de amigos resolve planejar uma programação diferente em um sítio nas imediações da cidade. É um grupo de três pessoas. Amigos para sempre, pois o ditado sempre diz que quando amigos verdadeiramente amigos se reúnem é como uma nova família. Após trocas de mensagens via celular, telefonemas e outras formas de comunicação, eles decidiram partir na manhã de sábado para o sítio.

O primeiro a preparar os apetrechos foi o Amarildo, jovem advogado e com formação em música clássica, disse que seria uma ótima oportunidade para se sentir junto à natureza. Levaria o instrumento musical para tocar nos momentos mais íntimos entre ele e a natureza. Pedro, ainda estudante do curso de agronomia, foi o segundo. Não muito jovem, mas com o coração ainda de criança, ia aproveitar os bons momentos para ler, reler e modificar o seu trabalho de conclusão de curso, o famoso TCC.

Marcos, meio atrapalhado, empresário na cidade, era o terceiro a arrumar a bagagem para o longo feriado. Estava meio triste, porque não estava combinando muito bem com a namorada. Ele sempre foi apaixonado por ela, mas, no momento, a saúde amorosa dos dois estava em declínio. Muitos comentavam que os dois iriam terminar o namoro, porém ainda existia uma fagulha de esperança por parte de Marcos. Estava bastante deprimido e disse que iria para tentar esquecer dos problemas e tentar esfriar o pensamento no caso de separação da namorada. Enfim, estava muito triste e não queria ir, mas por insistência dos dois amigos, ele resolveu ir.

Na hora marcada, saíram eles para o sítio. Era uma hora de caminhada pela natureza. Não quiseram ir de automóvel, pois a caminhada era o melhor prazer para que estivessem em contato diretamente com a natureza. Iam rindo, brincando uns com os outros, jogando pedrinhas em árvores, pássaros, correndo, tirando fotos no celular, enfim, fazendo uma grande algazarra.

Chegaram felizes e logo foram recebidos pelo caseiro. O sítio pertencia ao tio de Pedro, que estava na capital e não iria no final de semana. A condição da estadia deles era tomar conta do sítio e dar folga ao caseiro, que iria fazer uma viagem para outra cidade e na oportunidade seria o casamento da neta dele.

Assim que chegaram, foram recebidos. O caseiro passou todas as informações para eles, as recomendações, onde estavam os alimentos, o trato dos cães, gatos e dos porcos. A propriedade era pequena, apenas cinco hectares e poucos bezerros. Tinham várias galinhas, patos, galinha de angola e marrecos. O bonito do lugar era a grande cachoeira e o lago formado por ela, com grandes pedras, gramas, árvores e um chuveiro natural. Várias mesas, cadeiras de praia e alguns quiosques feitos por medida.

Ficaram felizes e logo foram deliciar das belezas naturais.

As brincadeiras estavam transcorrendo normais. Em determinado momento, Marcos saiu da cachoeira e foi buscar uma nova lata de cerveja na geladeira. Com ele o celular tocou e uma voz meio estranha lhe disse:

- O que você está fazendo?

Ele, calmamente, respondeu:

- Estamos eu, o Pedro e o Amarildo, aqui no sítio. Vamos passar o fim de semana e o feriadão aqui.

O telefone foi desligado e novamente outra chamada. A conversa foi tão grande que mal sabiam o que queriam. Conversa vai, conversa vem. O tempo estava passando tão rápido. Marcos, voltando com cara feia, disse para os amigos:

- Parece que tudo acabou entre mim e a Márcia. Ela me disse coisas assombrosas...

- Vou lá para dentro e não mais voltarei hoje, aqui, nesta linda cachoeira, hoje eu não ponho os pés.

- Eu amo aquela mulher...

Saindo de cabeça baixa, Marcos soluçava todo o momento. Não mais sorria, não mais contava os causos que ele sempre gostava de dizer. Muito triste e chorando, ele deitou no sofá, perto da sala, e ficou ali a relembrar os bons momentos passados com a ex-namorada. Os soluços eram tantos e muito fortes que os dois amigos foram até lá e viram que era muito grave. Tentaram conversar com ele, mas não lhes deu a devida importância.

O tempo foi passando e Marcos acabou adormecendo. Os outros dois amigos ficaram tristes por não terem a presença do amigo. Resolveram beber mais cerveja e Amarildo ficou um pouco embriagado. Riram, brincaram e resolveram ir embora para dentro, pois já estavam exaustos e queriam descansar.

No caminho rumo à casa, um deles deparou com uma cobra cascavel. Com um pedaço de pau, eles a mataram e a deixaram esticada próximo à porta da cozinha. Entrando pela casa e vendo o amigo que dormia e os olhos dele estavam recheados de lágrimas, Amarildo teve a ideia de pegar a cobra, já morta, e colocá-la por cima do amigo. Assim o fizeram. Com muito cuidado, puseram a cobra acima da barriga de Marcos, que não acordava. Ficaram ali, parados e vendo o despertar do amigo.

Algum tempo passou e logo Marcos foi acordado com um barulho infernal dos dois amigos, que reviravam a sala por todos os cantos. Então, Pedro disse, em voz alta:

- Estamos procurando uma cobra cascavel que apareceu aqui na sala.

Marcos, meio atordoado com o término do namoro, sentiu um peso na barriga e logo disse, mas em voz bem baixa que mal o ouvia:

- O que é isto? A cobra está em cima de minha barriga. O que eu faço?

- Amarildo, segurando o máximo para não rir, foi logo gritando:

- Não se mexa, pois a cobra está em cima de você.

- Eu tenho um pedaço de pau, mas se eu mexer com ela, você será picado.

Pedro chegou correndo com uma espingarda nas mãos e disse:

- O problema é se eu errar!

- Certamente vou acertar um tiro bem na barriga. Então serei preso, julgado e condenado...

- Então o que vamos fazer?

Amarildo, pegando o pedaço de pau, ameaçava em tocar a cobra, mas não tinha coragem de ver o amigo passando por toda humilhação do medo. Os olhos dele estavam arregalados, a testa suava, os braços tremiam, estava ficando amarelo e ameaçava desmaiar.

Pedro pegou o telefone e ligou para a namorada do amigo dizendo:

- Venha até aqui, pois o seu namorado ou seu ex-namorado está em um terrível dilema e perigo.

- Ele está deitado aqui no sofá e sobre ele está uma cobra cascavel. O Amarildo está com um pedaço de pau e não pode mexer, porque ela poderá picá-lo.

- Eu estou com uma espingarda, mas posso errar o tiro e matar o amigo...

- Então venha depressa, porque você poderá ficar sem namorado. Ele poderá morrer de picada da cobra ou falecer por um tiro. Ele está chorando, pedindo perdão para você e dizendo que lhe ama muito. Venha depressa...

O tempo ia passando. Marcos estava suado, com muito medo. Ele via os amigos que seguravam a espingarda e o pedaço de pau. Não podia fazer nada, nem mesmo gritar ou sair correndo. O tempo passava.

De repente, ouviram um ronco de um motor de uma motocicleta. A namorada dele veio correndo e logo entrou e viu a cena. Marcos sorriu para ela e ela sorriu para ele, como se estivessem se despedindo para sempre. Lágrimas foram vistas nos rostos dos dois. Ela dizia que o amava e ele dizia que a amava. Pelo menos, uns quarenta minutos se passaram.

Amarildo sorriu para o amigo Pedro e os dois vieram bem devagarinho e se aproximaram de Marcos. Com um rápido golpe, Amarildo puxou a cobra de cima da barriga e a jogou no chão. Pedro armou a espingarda e deu um tiro, mas não tinha nenhum chumbinho.

Marcos viu aquela cena e não aguentou. Desmaiou e foi cuidado pela namorada.

Hoje os dois estão casados e não esqueceram a cena tão importante da vida deles. Com Marcos já casado, os dois amigos sempre vão para o sítio e curtem a vida bebendo muito cerveja, nadando na cachoeira e lembrando do que fizeram com o Marcos.

JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO
Enviado por JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO em 07/11/2020
Código do texto: T7106507
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