SOZINHA
Pela primeira vez em sua vida, Helena dormiria numa casa que chama de “sua”. Tornou-se independente dos pais e ainda mudou de cidade. Uma grande conquista e uma nova vida.
Ela chegou do trabalho e se deu conta de que realmente estava sozinha. Fez janta sozinha, jantou sozinha e ainda conversou sozinha depois que terminou a ligação com a sua mãe. Haa, seria difícil acostumar, mas ela sabia que seria questão de tempo, e esse tempo seria extremamente necessário.
Descobriu que deixar a televisão ligada em um volume consideravelmente alto, enquanto fazia outras coisas, dava a impressão de “casa cheia”. Riu de si mesma ao utilizar essa tática.
Decidiu deixar a televisão ainda ligada até adormecer. Das opções mais pertinentes de filmes, Helena escolheu a animação Madagascar para descontrair. Aos poucos ela foi relaxando, se acomodando nas cobertas, dando risadas mais preguiçosas e permitindo que suas pálpebras ficassem mais pesadas, até o sono vir.
Ela fechou os olhos pelo que pareceu por breves segundos, mas só notou que adormecera bem mais do que isso quando viu que os créditos já subiam e os personagens dançavam a famosa trilha sonora I Like To Move It.
Entretanto, algo estava errado. Helena percebeu que estava imóvel. Uma paralisia tomou conta do seu corpo enquanto tudo ao redor parecia estar normal. Tentou mover seus braços e pernas, mas sem sucesso. O terror começou a tomar conta do seu corpo. De maneira espectral, o quarto tornou-se mais escuro e um silêncio sepulcral apossou cada canto. Ela queria gritar, mas sua boca somente formava o arco do grito, sem emitir nenhum som.
Pensou em manter a calma e pensar que aquilo não era real, que era só fechar os olhos, apertá-los com força e que logo acordaria daquele sonho. Mas antes que pudesse tentar se acalmar, ela sentiu algo... Uma presença. Alguém estava ali!
Não podia ver, mas ela sabia que estava ali. Helena congelou por completo com a sensação de ter alguém com ela, mais especificamente deitado ao seu lado. O ar tornou-se gélido, a pele dela se arrepiou e sentia o suor frio escorrer pela nuca. Sem poder se mexer, Helena só esperou pelo pior: que a coisa que estava ali a machucasse.
Tentou manter o controle mais uma vez, então fechou os olhos e pediu a si mesma para acordar, porém mais uma vez sua tentativa de manter a calma é sabotada. O silêncio é quebrado com a respiração do que quer que fosse. Ela sentiu o sopro na sua orelha... Ela o sentiu fisicamente! A respiração era profunda, como se fosse o som do mundo todo ali, se alimentando do medo dela.
Helena começou a chorar, impotente, e viu de relance que uma sombra se formava ao seu lado. Seu coração batia rápido e acelerado com a sombra chegando mais perto. De repente, assim como todo o som se fez presente, o silêncio reinou, quebrado somente por um sussurro fantasmagórico: VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHA!
Ela despertou num sobressalto, chorando e desesperada por luz. Nunca havia experimentado sensação tão medonha na vida. Nessa hora, ela teve duas certezas: A primeira, é que não queria estar sozinha, e a segunda é que não voltaria a dormir tão cedo.
(OBS: Para curiosos, procure por Paralisia do Sono.)